Violência contra mulheres e negros ainda desafia sociedade
04 de setembro de 2014
Mesa-redonda apresentou discussão sobre a situação atual da violência de gênero e étnico-racial
A violência de gênero e étnico-racial pautaram a manhã de debates do 3º Congresso Nacional em Saúde na Faculdade de Medicina da UFMG. Com a participação de convidado internacional, a mesa-redonda apresentou uma visão do cenário em que mulheres e negros enfrentam no convívio em sociedade e no atendimento à saúde.
“Atualmente, nós temos leis para enfrentar a violência de gênero e étnico-racial. Mesmo assim, elas ainda são insuficientes para combater a situação atual.”, afirmou o professor Victor Hugo de Melo, do departamento de Ginecologista e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG. Segundo o docente, mais de 92 mil mulheres foram assassinadas desde 1980 – número que coloca o Brasil no 7º lugar no ranking de países com maiores índices de feminicídio. “É esse cenário que buscamos enfrentar e superar”, ressalta Victor Hugo.
Uma forma de vencer esse desafio é quebrar o preconceito derivado da cultura patriarcal que o país está inserido, comentou Maria Esther Albuquerque Vilela, coordenadora-geral de Saúde das Mulheres do Ministério da Saúde. “Por vivermos em uma cultura machista, por vezes não acreditamos na violência, mas ela existe e nós, do sistema de saúde, não devemos julgar esta mulher”, disse.
De acordo com Maria Esther, somente em 2013, mais de 530 mil atendimentos foram feitos e 55% deles relacionados à violência física. Além disso, em 80% dos casos registrados as agressões foram desferidas por alguém com vínculo afetivo à vítima, como marido, namorados ou parentes.
A coordenadora comentou também sobre a violência obstetrícia, presente no atendimento à mulher em unidades de saúde. A negligência, a discriminação, ridicularização, negação de direitos e a realização de procedimentos invasivos sem autorização enquadram neste tipo de violência. “Nós podemos e devemos ser agentes transformadores para mudar esse cenário”, salientou Maria Esther, destacando avanços já feitos na área da saúde da mulher, como a lei 12.845, sancionada no ano passado, que garante a obrigatoriedade de atendimento à mulher vítima de violência sexual.
Violência étnico-racial
O racismo e suas facetas na sociedade também foram debatidos na mesa-redonda. Rejane Ferreira dos Reis, coordenadora da Gerência de Assistência da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte, apresentou dados de sua pesquisa sobre os homicídios de jovens negros em situação de risco. A análise constatou que os jovens negros perderam cerca de 180 mil anos potenciais de vida perdida, indicador que quantifica o número de anos não vividos em decorrência de morte em idade abaixo da que se considera prematura.
De acordo com Rejane Reis, o número reflete a desconstrução do mito da democracia racial – concepção caracterizada pela harmonia racial e ausência de preconceitos. “É o velho se não tem violência, para que falar isso?”, comentou.
Quem ilustrou a situação foi o cônsul da Nigéria Olúségun Michael Akinrulli, que narrou algumas experiências vividas por ele e outros colegas patriotas em suas passagens pelo Brasil. “O racismo é como um vírus, que contamina as pessoas e as instituições”, afirmou ao relatar um caso de discriminação que sofreu com dois turistas norte-americanos negros em um banco em Copacabana, no Rio de Janeiro.
A mesa-redonda Violência de gênero e étnico-racial integra a série de debates, palestras e discussões do 3º Congresso Nacional de Saúde, que está sendo realizado nesta semana na Faculdade de Medicina da UFMG.
3º Congresso
A programação do 3º Congresso Nacional da Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG reúne sete conferências, mais de 10 palestras e 40 mesas-redondas em torno do tema “Cenários da Saúde na Contemporaneidade”.
O Congresso vai até 5 de setembro, com atividades de 8h às 18h, diariamente, divididas em oito eixos temáticos. O Congresso conta ainda com programação cultural, com exibição de filmes, exposições, lançamento de livros e apresentações ao longo da programação.
A Secretaria executiva do 3º Congresso Nacional da Faculdade de Medicina da UFMG atende na sala Oswaldo Costa, 21, térreo da Unidade.
Acesse a programação completa.
Acesse a página eletrônica do 3º Congresso Nacional de Saúde.
Mais informações: 3409 9105 ou 3409 8055, ou ainda pelo e-mail 3congresso@medicina.ufmg.br