Violência nos aglomerados está associada a violências anteriores
Programa de rádio apresenta série que destaca como os diferentes tipos de violência no país estão interligados
27 de janeiro de 2017
Programa de rádio apresenta série que destaca como os diferentes tipos de violência no país estão interligados
Os aglomerados abrigam cerca de 11 milhões de pessoas no país, segundo último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mas são alvos constantes de estigmas e preconceitos relacionados à violência presente nesses ambientes, refletindo na violência urbana que envolve a população em geral. As diversas formas de violência, porém, estão interligadas e associadas a cenários passados de discriminação, agressões e baixas condições de renda, que ainda não foram superados.
Para quem considera as favelas berços de violência e criminalidade, a professora do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, Elza Machado, diz que há um erro de racionalidade. “Os aglomerados vêm como fruto da violência que existe antes deles existirem e que os criaram”, afirma. Esses espaços são considerados de vulnerabilidade social, ou seja, a população sobrevive em condições inadequadas, o acesso aos direitos básicos, como saúde e educação, são limitados e a perspectiva de ascensão social é baixa.
É nesse contexto que surge o fenômeno da naturalização da violência. “Essas pessoas crescem vendo familiares morrerem. A morte passa a ser, para elas, uma coisa cotidiana”, explica Elza. Os indivíduos que não têm a própria vida valorizada podem não ser capazes de valorizar a vida do outro. “Significa que a violência primeira foi cometida contra eles, de deixar que eles vivam num ambiente onde não há saída”, completa.
A violência nos aglomerados repercute nas outras camadas da população. A especialista considera que o atual cenário violento está ligado ainda a uma profunda desconfiança dos seres humanos: “Nossos laços estão rompidos, nossa ética está rompida, a nossa confiança nas pessoas profundamente abalada, esse é o terreno da violência. Daí ao ato é um passo, e do primeiro passo a outros já não tem distância mais”.
A professora Elza acredita que todas as pessoas têm o potencial de cometer um crime, já que “somos feitos de muitas paixões e até o mais racional pode cometer um erro”. Para ela, a saída para tais situações deve envolver propostas de recuperação para que o indivíduo que cometeu atos violentos seja devidamente reintegrado à sociedade.
Berço da violência
“Vivemos em uma sociedade que naturaliza o individualismo”, diz Elza Machado. Colocar os próprios desejos como prioridade não é, necessariamente, algo ruim, mas atitudes individualistas contribuem para a indiferença às necessidades do outro. Se as pessoas não são capazes de sentirem empatia umas pelas outras, elas também não esperam isso da sociedade em geral. Além disso, a negligência em relação aos problemas sociais gera uma agressão contrária. “Se eu sou sozinho para ir atrás do meu interesse, do meu individualismo, eu também sou sozinho para me proteger”, compara a professora.
Para combater o cenário da violência em geral, Elza aposta em uma mudança gradativa de hábitos da população, além de políticas públicas que favoreçam pessoas em vulnerabilidade social. “No momento em que você se abre e convida o outro para uma conversa, uma relação de respeito, você começa a vencer a violência”, conclui.
Sobre o programa de rádio
O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.
O programa também é veiculado em outras 185 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.
Redação: Bruna Leles | Edição: Lucas Rodrigues