Violência sexual está relacionada à cultura reproduzida na sociedade
Saúde com Ciência aborda violência sexual contra mulheres e crianças, acompanhamento profissional e superação.
06 de maio de 2017
Saúde com Ciência desta semana aborda a violência sexual contra mulheres e crianças, além do acompanhamento profissional e superação das vítimas
A violência sexual não está relacionada somente a um abuso físico, mas a qualquer ato que atinja a dignidade sexual de uma pessoa. Existem, portanto, diversas formas de se cometer uma agressão dessa natureza, algumas delas até naturalizadas pela cultura machista que perdura na sociedade. E os números desse tipo de violência são altos. De acordo com o 9º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram registrados mais de 47 mil casos de estupro no país em 2014, ou seja, uma mulher é estuprada, em média, a cada 11 minutos.
Na opinião da professora da Faculdade de Medicina e coordenadora do Serviço de Violência Sexual do Hospital das Clínicas da UFMG, Sara Paiva, o cenário de violência sexual no país se baseia em uma cultura reproduzida pela mídia que aceita e não problematiza esse tipo de agressão. “Hoje, qualquer programa na televisão mostra a sensualização da mulher, e aí as crianças e adolescentes vêem isso e acham que é o certo”, afirma.
Segundo Sara, desde propagandas de cerveja a novelas, a imagem da mulher ainda é bastante retratada com traços de sensualidade e objetificação. “Isso, de certa forma, mostra que é normal a sensualização da criança e da mulher”, resume. Além disso, determinados comportamentos e até padrões estéticos servem como justificativa para agressores cometerem violência. “O homem pode achar que, uma vez aquilo ser normal, o seu comportamento também é normal”, completa a professora.
Pesquisa realizada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública em parceria com o DataFolha estima que 85% das brasileiras têm medo de sofrerem uma agressão sexual. Esse receio também inclui as vítimas, que muitas vezes não denunciam a violência. Além do medo do próprio agressor, elas temem o julgamento social. “A paciente tem medo, tem vergonha de procurar a polícia e denunciar”, comenta Sara Paiva. Em alguns casos, essas pessoas se sentem culpadas por terem sido agredidas em função de comportamentos considerados “mal vistos” socialmente. Sara lembra que, independentemente da situação, uma violência jamais se justifica: “Ninguém tem o direito de fazer com ela o que ela não quer, o que ela não deseja e o que não permite”.
Atualmente, as vítimas de violência sexual não precisam fazer o boletim de ocorrência para buscarem atendimento médico. Os procedimentos necessários, como exames de coleta de vestígios criminais e a sorologia para infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), bem como o suporte psicológico, são feitos em hospitais de referência. Em Belo Horizonte, além do Hospital das Clínicas, o Odilon Behrens e as maternidades Odete Valadares e Sara Kubistchek são as instituições especializadas no serviço.
Superando a violência
Embora as consequências físicas dessas agressões sejam delicadas, os maiores impactos acontecem no âmbito emocional. As vítimas podem desenvolver o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), além de depressão e outros quadros mentais. Por esse motivo, o apoio psicológico é essencial para a superação dos acontecimentos. “É muito importante que toda e qualquer mulher que sofreu violência sexual crie voz, que ela tenha força e busque ajuda”, aconselha Sara Paiva.
Não há, ainda, uma época específica para buscar o atendimento. Mesmo que a agressão tenha acontecido há muito tempo, o tratamento é importante para que a vítima consiga, finalmente, verbalizar a dor e aprender a lidar com ela. A professora conta que o trabalho realizado nos ambulatórios vai além dos exames físicos e inclui uma equipe multiprofissional para acompanhar as pacientes. “Hoje, a gente já tem programas e locais especializados para ajudar essa mulher a lidar com essa dor”, conclui a especialista.
Sobre o programa de rádio
O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h.
O programa também é veiculado em outras 185 emissoras de rádio, distribuídas por todas as macrorregiões de Minas Gerais e nos seguintes estados: Alagoas, Amazonas, Bahia, Ceará, Distrito Federal, Espírito Santo, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Sergipe, Tocantins e Massachusetts, nos Estados Unidos.
Redação: Bruna Leles | Edição: Lucas Rodrigues