Transtornos alimentares não são só reflexos de vaidade


09 de março de 2010


Ao contrário do que acredita a maioria das pessoas, a insatisfação estética das mulheres não é a única causa dos transtornos alimentares. A bulimia e a anorexia, distúrbios mais comuns em adolescentes e jovens mulheres, têm origens em instabilidades emocionais aliada à ansiedade.

O professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Henrique Torres, elucida que a jovem que desenvolve a bulimia ou a anorexia, muitas vezes, está vivendo um conflito pessoal. “O divórcio dos pais, a morte de uma pessoa querida, uma pressão muito grande na escola, ou um fracasso no vestibular, por exemplo, podem desencadear esses transtornos”, enumera.

Ele ressalta ainda que as doenças são, na verdade, fruto da busca de identificação com um modelo. “A pessoa busca ser alguém que pareça diferente do que ela é: que prometa ser um caminho diferente, no momento em que ela está vivendo alguma dificuldade. Ao se identificar com esse modelo, a jovem, muitas vezes, radicaliza. Ela quer ser muito mais do que o próprio modelo pode oferecer”, explica.

De acordo o professor, a mulher que sofre de distúrbios alimentares raramente busca ajuda, voluntariamente.  “Fica a cargo dos parentes mais próximos procurar ajuda e indicar o tratamento. Muitas vezes, a pessoa nega o transtorno. Só depois é que ela vai percebendo as consequências dos hábitos desencadeados durante a doença”, ensina.

Sintomas e sinais dos transtornos
É importante que os pais, namorados e amigos fiquem atentos aos sintomas desses distúrbios. Segundo Henrique, a anorexia é mais fácil de ser identificada. “Há uma mudança no comportamento alimentar que é observável. A menina começa a perder muito peso e a ingerir menos alimentos”, alerta.

A bulimia, por sua vez, apresenta menos sinais físicos, já que a perda de peso pode não ser tão acentuada, como no outro caso. “A pessoa bulímica, entra em um processo de compulsão. Junto aos vômitos, ela também come compulsivamente. O que torna a identificação mais difícil é que esses hábitos são feitos às escondidas. A pessoa tem poucos sinais externos”, esclarece.

Mas a mudança de hábitos alimentares também está presente na bulimia. Henrique alerta que os principais sinais são as idas frequentes ao banheiro e as refeições são feitas em horários diferentes, sem a presença da família.

Complicações do paciente
Além da perda de peso excessiva, outros problemas acometem as mulheres que sofrem dos transtornos alimentares. “A perda de peso pode levar a problemas hormonais que podem desencadear a menorréia, ou seja, a menstruação é interrompida. Estes problemas também podem reduzir a incorporação de cálcio, na fase em que essas meninas mais deveriam incorporar este mineral. Isso é muito grave e pode levar à osteoporose”, alerta.

As bulímicas podem desenvolver outras complicações, como os distúrbios eletrolíticos. “Pode haver uma baixa de potássio no sangue e baixa de magnésio. Também podem ocorrer hipotensão e arritimias cardíacas que, em casos mais extremos, podem até levar à morte”, adverte.

Quem pode ajudar
Para o professor, os pais devem evitar uma postura muito rígida frente à presença de sintomas. “A postura ‘policial’ exarceba, às vezes, este tipo de sintoma. Tem que ser mais moderada, uma observação. Porque uma conduta diferente disto pode gerar uma radicalização do paciente. Piorar a situação. Os pais têm de ser mais carinhosos, cuidadosos e acolhedores na abordagem”, orienta Henrique.

Ao perceber as alterações no comportamento da jovem, é importante que os pais procurem um bom profissional para orientá-los. O professor aconselha que o mais adequado é buscar ajuda de um médico que tenha compreensão desse processo. “Clínicos, endocrinologistas, nutrólogos, psiquiatras ou psicólogos são boas opções. Pode haver a necessidade de o psicólogo encaminhar o paciente para um médico que possa medicar ou fazer a abordagem nutricional, por exemplo. Mas a conformação multiprofissional é a melhor para atender este tipo de paciente” sugere.

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