Doença ocular pode ser desencadeada por esfregar os olhos


10 de julho de 2017


Jayne Ribeiro*

Ceratocone atinge uma em cada mil pessoas e, em casos mais graves, pode levar à necessidade do transplante de córnea.

 

Uso de óculos é a primeira opção de tratamento. Foto: Reprodução – pixabay.com

Doença ocular causada por inchaço ou dilatação da córnea, o ceracotone é desencadeado quando as fibrilas de colágeno, componentes da córnea se tornam mais fracas e assim tendem a esticar modificando a sua forma original. De acordo com o professor do Departamento de Oftalmologia e Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Joel Boteon, isso, com o tempo altera a visão da pessoa.

Segundo o professor, as causas da doença são variadas. A origem genética é multifatorial, envolvendo vários cromossomos: “Pode acometer várias pessoas em uma mesma família ou apenas uma”, exemplifica. O professor conta também que cerca de 10% dos casos estão relacionados à alergia. “Pessoas alérgicas esfregam muito os olhos e isso pode levar às alterações das fibras de colágenos”, continua.

O professor destaca também que a exposição a fatores externos, como poluição, ar condicionado e muito tempo em frente a computadores e tablets ressecam os olhos, provocando irritações que induzem as pessoas a esfregarem ainda mais os olhos. A doença pode ainda ser causada por problemas oxidativos na córnea, relacionados à exposição a raios ultravioletas, e a problemas enzimáticos.

“A patologia tende a progredir de forma mais acelerada durante a adolescência, pois as alergias oculares tendem a diminuir após os 16 anos”, afirma o oftalmologista. Ele recomenda que crianças a partir dos 10 anos que tenham casos de ceratocone na família façam anualmente uma topografia da córnea, exame complementar importante no diagnóstico da doença. A doença tende a progredir em mulheres grávidas, já que nesse período o corpo passa por diversas alterações hormonais e nos tecidos, que ficam mais elásticos e com maior propensão a mudanças.

O professor lembra que ficar atento aos sinais também é importante. A distorção da visão pode sugerir a doença. “Os sintomas dependem da progressão e do grau do ceratocone. Quanto mais avança, mais prejudicada fica a visão do paciente”, alerta.

Dos óculos ao transplante
Os tratamentos variam de acordo com grau de progressão do ceratocone no momento do diagnóstico. Joel explica que em graus menores os óculos são a primeira opção. Quando este não funciona, o ideal é a utilização de lentes de contanto gás- permeáveis. Essas lentes, diferentes das utilizadas para tratar os problemas de visão mais comuns, são rígidas e fornecendo ao olho, uma nova superfície para correção da deformação da córnea.

Enquanto nos casos com diagnóstico precoce o tratamento baseia-se na correção do grau e de hábitos dos pacientes, no diagnóstico tardio a intervenção médica é mais invasiva.  O professor explica que a doença progride, geralmente, até os 35 anos, já que com o envelhecimento e enrijecimento da córnea a chance de sua forma se modificar fica menor. Em alguns tratamentos, esse envelhecimento é provocado por meio de medicamento e raios ultravioletas, para retardar o avanço da doença.

Existem ainda as lentes esclerais, transplante da membrana de Bowman, transplante lamelar profundo e o transplante penetrante de córnea que, segundo o professor Joel, só é realizado como última opção, já que está sujeito a rejeição e problemas de superfície, que podem resultar em miopia, hipermiopia e/ou astigmatismo. No transplante lamelar profundo o índice de rejeição é menor. “No entanto, a cirurgia é mais complicada e pode acontecer o rompimento da membrana de Descemet. Nesse caso, o transplante penetrante de córnea passa ser a solução”, continua.

Por fim, o médico explica que, caso a doença esteja estável, o que se observa a partir dos 35 anos, o paciente não precisa se preocupar.  “Se há a correção do grau, por meio do uso dos óculos e das lentes, a partir dessa idade, não é aconselhável que os pacientes procurem por tratamentos invasivos. A chance do ceratocone progredir depois dos 35 anos é muito pequena”, conclui.

Redação: Jayne Ribeiro – estagiária de jornalismo
Edição: Mariana Pires