Acidente de trânsito é uma epidemia que causa impactos no SUS


22 de setembro de 2016


* Ives Teixeira

Mesa-redonda discutiu as diferentes consequências dos acidentes de trânsito, além do impacto emocional das famílias dos acidentados

Foi realizada nessa quarta, 21 de setembro, no auditório Maria Sinno da Escola de Enfermagem da UFMG, a mesa-redonda “Impactos dos acidentes de Trânsito na Saúde”. Essa foi mais uma ação da campanha da Semana Nacional de Trânsito 2016 do Campus Saúde da UFMG.

mAT - dEBORAH, Allana, Sônia Maria Soares e Frederico

Mesa-redonda discute impactos dos acidentes de trânsito. Foto: Carol Morena

O evento discutiu as consequências dos acidentes, como os cuidados assistenciais, o impacto emocional nas famílias dos acidentados e o impacto financeiro para o Sistema Único de Saúde (SUS). Participaram da mesa as professoras da Escola de Enfermagem Allana Corrêa e Deborah Malta, e o professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Frederico Garcia.

Cuidados na assistência

A professora Allana alertou para o fato de que o impacto causado pelo trauma é sempre inesperado e que, em poucas situações, as vítimas dos acidentes de trânsito podem contar com o atendimento adequado, inclusive, com hospitais de alta complexidade.

Segundo a professora, a velocidade dos veículos é um dos determinantes para o agravamento das lesões de trauma, causa de 50% das mortes nos locais do acidente. Dessa maneira, o trauma aparece como uma das interfaces da Rede de Atenção às Urgências, que tem o objetivo, por meio da conexão entre os diversos serviços de saúde, de qualificar o acesso ao atendimento em situação de urgência na rede pública de saúde.

Allana destacou que, no atendimento pré-hospitalar, a maior dificuldade é executar as prioridades nessa assistência de maneira adequada. Além disso, o profissional precisa avaliar a vítima continuamente. “A gente pensa sempre em levar aquela pessoa para o melhor atendimento possível, para que ela retorne minimamente ao estado que estava antes de sofrer o acidente”, afirmou.

Impacto emocional

“Falar de acidente de trânsito é mais uma epidemia industrial.”, declarou o professor Frederico Garcia. Ele também frisou que a indústria automobilística, ao mesmo tempo em que vendem carros com alta velocidade, vende a ideia de segurança no trânsito, com carros cada vez mais equipados em proteção.

Para o professor, abrir mão do apego gera o sofrimento pela perda, sendo preciso, então, enfrentar o processo de luto. Esse é o maior impacto emocional nas famílias das pessoas envolvidas com acidentes de trânsito, de acordo com Garcia.

Garcia explica que o sofrimento diminui a partir do enfrentamento do luto, que precisa ser entendido como um processo de vivência necessário, em que é preciso aceitar a perda e trabalhar a dor. Isso faz com que a realidade seja resignificada, a partir de novas perspectivas.

Impacto financeiro

A professora Deborah Malta informou que um dos grandes problemas que contribuem para a violência no trânsito é a hegemonia do transporte privado, em um país em que há circulação maior que 90 milhões de veículos nas ruas. O que se reflete no aumento dos números de atendimentos de emergências e internações, causadas por politraumatismos.

Apresentando dados do IPEA, de 2014, a professora destacou os mais de 120 mil acidentes de trânsito ocorridos nas rodovias federais, sendo a maioria das mortes presentes nos acidentes com colisões frontais. Por ano, somente nas rodovias federais, o custo desses acidentes chega a 12 bilhões de reais anuais. Quando analisada, em estimativa, toda a malha rodoviária do país, o custo total pode chegar a 42 bilhões de reais por ano.

“Eles destrincham os custos dos acidentes em relação a perda de produção, o que seria, de fato, o maior componente (a pessoa deixa de trabalhar e fica afastado), cerca de 43% desse total”, apontou. Ela ainda comentou que “a perda de produção é o impacto mais relevante do ponto de vista monetário”, porém não pode desconsiderar os custos emocionais e outros custos financeiros, como os 20% das despesas hospitalares.

Semana Nacional do Trânsito 2016

Com o tema “Eu sou + 1 por um trânsito + seguro”, a Semana tem como objetivo alertar e conscientizar a população sobre a responsabilidade no trânsito. No Campus Saúde, com atividades educativas e interativas desde a última quinta-feira, 15, a programação termina no dia 23 de setembro, data em que a exposição “Sonhos que Envelhecem” se encerra na Escola de Enfermagem. Aberta ao público, a exibição apresenta miniaturas de carros batidos e abandonados produzidas pelo expositor Altivo Horta de Castro.

A mesa-redonda foi promovida pela Comissão Organizadora de Eventos Educacionais para o Trânsito, vinculada à Comissão Permanente do Campus Saúde.

Fotos: Carol Morena

*Redação: Ives Teixeira – estagiário de jornalismo
Edição: Deborah Castro