Risco de transmissão da poliomielite no Brasil é baixo

Modelo de vacinação utilizado no Brasil é eficaz. Mas, com a presença massiva de turistas no país para acompanhar a Copa do Mundo, é preciso ter atenção, caso surjam pessoas com os sintomas da doença.


01 de julho de 2014


O entra e sai de estrangeiros nos aeroportos brasileiros, que vieram acompanhar os jogos da Copa do Mundo de 2014, é motivo de preocupação para Organização Mundial da Saúde (OMS). No início desta semana, a OMS divulgou resultado da amostra de esgoto que detectou o vírus da poliomielite tipo 1 no Aeroporto de Viracopos, em Campinas (SP). A doença está erradicada do Brasil há cerca de 25 anos .

O vírus encontrado é geneticamente similar a uma amostra recentemente isolada na Guiné Equatorial. Segundo a OMS, ele deve ter vindo com um viajante que esteve em uma região infectada. Apesar da amostra positiva para a doença, até o momento não foi registrado nenhum caso da infecção em solo brasileiro.

A infectologista Gláucia Manzan, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Foto: Bruna Carvalho.

A infectologista Gláucia Manzan, professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG. Foto: Bruna Carvalho.

Para a infectologista e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Gláucia Queiroz, o risco de o vírus da pólio identificado no país se disseminar é muito baixo, mas é preciso ficar atento. “A cobertura vacinal no Brasil é boa, há mais de anos não temos a transmissão do vírus selvagem no território nacional. Mas é claro, precisamos ter cuidado, pois existe o risco do retorno”, diz.

A atenção deve ficar ser voltada, principalmente, para os torcedores estrangeiros que apresentem sintomas como quadros febris, diarreia e paralisia flácida. “É preciso lembrar que essas pessoas podem ter adquirido a doença fora do país e ter vindo para cá já na fase de eliminação do vírus”, orienta a professora.

Ela explica que a doença é transmitida por via fecal-oral, isto é, por meio do contato direto com as fezes ou com secreções expelidas pela boca das pessoas infectadas. “É uma virose que pode, por exemplo, ser adquirida quando se tem contato com água e alimentos contaminados por indivíduos que tiveram diarreia”, exemplifica.

A infecção pode ser grave, mas na maior parte dos casos passa despercebida. “Na verdade, são três poliovírus que são patogênicos para os seres humanos e muitas vezes a pessoa nem fica sabendo que teve o vírus”, diz a especialista.

Gláucia Queiroz acrescenta que poucos indivíduos desenvolvem o quadro de paralisia flácida provocada pelo vírus. “Mas se acontecer, pode atingir qualquer altura da medula. Com isso, a pessoa pode ter paraplegia, tetraplegia e até parada respiratória por flacidez muscular”.

Cobertura

De acordo com a OMS, até o dia 11 de junho, foram registrados 94 casos de pólio no mundo. Em países como a Guiné, Paquistão, Camarões e Síria, o risco do vírus se espalhar é alto. No Brasil, o que ajuda a impedir a transmissão da doença é a elevada imunização.

Elevada imunização no Brasil ajuda a impedir a transmissão da doença no país. Foto: reprodução internet

Elevada imunização no Brasil ajuda a impedir a transmissão da doença no país. Foto: reprodução internet

Para a professora Gláucia, o modelo de vacinação utilizado no Brasil é altamente eficaz. “A vacina que utilizamos de pólio oral, do Zé Gotinha, é atenuada e permite a imunização dos contatos do indivíduo que foi vacinado. Por ser a pólio oral, o indivíduo elimina o vírus vacinal em forma infectante pelas fezes e contamina o ambiente em torno dele. Com isso, as pessoas que não receberam a vacina eventualmente estarão imunizadas, devido à contaminação com o vírus vacinal”, explica a professora. “Por isso, a nossa cobertura é tão boa, pela estratégia de campanha e pela escolha de vacinação de pólio oral”, completa.

*Notícia publicada anteriormente em 27 de junho de 2014

Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG
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