Acne na vida adulta é mais frequente em mulheres

Alterações hormonais podem ser determinantes no aumento da incidência do problema.


16 de maio de 2018


Diferentemente  dos homens, as mulheres têm alterações na produção de hormônios durante o ciclo menstrual, o que pode ser o principal fator do aumento da incidência do problema

Em mulheres adultas, a acne ocorre mais na região inferior da face, como mandíbula e pescoço. Foto: Reprodução – Pixabay

A acne ocorre quando há uma obstrução do folículo piloso e, então, a glândula sebácea cresce, geralmente, arrebenta, ocasionando o processo inflamatório e formação de pus. De acordo com a dermatologista e professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Luciana Baptista, o mais comum é que o problema aconteça na adolescência. “Durante essa fase, praticamente 90% da população tem algum grau de acne. Com o passar da adolescência e início da vida adulta, a tendência é diminuir esse percentual”, afirma.

A professora explica que isso se deve a produção hormonal que acontece nesta idade, tanto no ovário e na glândula suprarrenal no sexo feminino quanto no testículo e na glândula suprarrenal no sexo masculino. “Nesta época em que há um aumento intenso da produção hormonal, ocorre muito estímulo da glândula sebácea, além da predisposição genética, e os pacientes podem ter a acne leve, moderada ou grave”, acrescenta.

No entanto, a professora comenta que “hoje em dia, supõe-se que por ser mais frequente que a mulher tenha a dupla jornada, o trabalho e afazeres de casa, com hábitos de vida mais apressados, há o aumento da prevalência de mulheres adultas com acne”.  Isso geralmente não acontece no homem, já que seu hormônio é produzido de maneira uniforme, sem as alterações hormonais mensais comuns das mulheres.

Assim, a mulher pode ter acne durante a vida inteira pelas mudanças fisiológicas ocasionadas pela menstruação, bem como pela alteração hormonal também na menopausa. “No período ovulatório há um pico de hormônios, bem como no período pré-menstrual ou quando há alterações dos ciclos e aumento dos níveis de estresse. Todos esses fatores contribuem para a ocorrência de acne”, prossegue Luciana. “A tendência é melhorar com a idade, ou seja, a cada ano vai diminuindo o percentual de pessoas acometidas. Mas é mais comum que as mulheres tenham o problema na vida adulta do que os homens”, declara.

As diferenças da acne em mulheres adultas e os tratamentos
Segundo Luciana, o homem geralmente tem a acne mais grave e com menor duração. Já a maioria das mulheres apresenta acne mais leve que os homens, mas com maior duração. “Além disso, outra diferença da acne em mulher adulta para a adolescência está na região de ocorrência. Em adultas ocorre mais na região inferior da face, como mandíbula e pescoço. Já na adolescência ocorre mais na região frontal, como a testa, regiões malares e nariz”, exemplifica.

A dermatologista ressalta que não é comum ter acne na infância e, se ocorrer, é necessário procurar a causa, como uma possível alteração hormonal. Nos casos de adultas, é necessário investigar se as alterações hormonais são normais da mulher ou se têm um ovário micropolicístico ou alguma outra alteração na produção de hormônios. “A investigação da acne deve ser feita pelo dermatologista, endocrinologista ou ginecologista. Nos exames de sangue são feitas as dosagens hormonais e também é pedido um ultrassom pélvico para verificar a presença de cistos no ovário”, completa.

Para os tratamentos, os especialistas podem recomendar medicamentos sistêmicos, como anticoncepcional oral, isotretinoína ou medicações tópicas (de uso externo). Por isso, Luciana enfatiza a importância do médico avaliar para a prescrição mais adequada do tratamento.

Ela esclarece que o tratamento da acne é, principalmente, estético. “Quando não esta associada com uma síndrome, ela não causa problemas internos. Ser estético não diminui a importância do tratamento, já que as cicatrizes de acne são para o resto da vida. A mulher adulta já se sente muito incomodada porque é uma fase em que a maioria não apresenta mais acne”, argumenta.

A dermatologista ressalta, ainda, que a acne na fase adulta exige um tratamento prolongado e crônico, sendo necessário avaliar se a pessoa tem ou não alterações hormonais. “Se a mulher não tem doenças em relação à produção de hormônios, ou seja, só tem alterações hormonais comuns dos seus ciclos, é preciso fazer um tratamento prolongado para a acne, como o anticoncepcional oral”, explica. “Mas há diferentes tipos desses. Os que só têm progesterona são ruins para a acne, como os injetáveis ou DIU com hormônios. E há os que têm anti-hormônio masculino, que são eficazes para o tratamento. Por isso é importante procurar o endocrinologista ou o ginecologista para prescrição do anticoncepcional”, completa.

Agravamento da acne
A professora conta que, hoje em dia, suspeita-se que os pacientes com alta ingestão calórica, obesos tendem a ter mais acne. “Não é um alimento específico que causa o problema. Toda alimentação rica em carboidratos brancos, como pão, arroz e macarrão, ou muito açúcar pode piorar a situação. O chocolate ou amendoim, por exemplo, em pequenas quantidades podem não ser os vilões. O que pode piorar é o consumo exagerado de alimentos com alta taxa glicêmica”, pontua.

Além disso, ela esclarece que a acne grave é aquela que deixa cicatriz, o que é pouco provável de ocorrer se a pessoa só apresenta cravos. “Se há muitas lesões inflamatórias, as pápulas e pústulas, ou nódulos e cistos, geralmente ficam cicatrizes. Estas são consideradas graves do ponto de vista estético”, comenta. “Mas a gravidade também pode estar associada com o hirsutismo (aumento de pelos), por exemplo, ou a obesidade e alopecia (quedas de cabelos). Porque esses problemas sugerem que ela tem uma alteração hormonal”, continua.

Sobre a isotretinoína, medicamento indicado para tratar acnes graves, Luciana ressalta que ela tem 70% de chance de curar a acne quando usada na adolescência. Isso significa que, após tomar o medicamento, o adolescente continuará o tratamento tópico, sem que apareça acne mais grave. Mas 30% dos que tomam esse medicamento, voltam a ter o problema de forma mais leve e alguns até em mesmo grau de antes do tratamento.

“No caso das mulheres adultas, a isotretinoína geralmente não leva à cura, porque o problema está relacionado com hormônios. Então, o tratamento pode até incluir o medicamento, porque é eficaz e melhora enquanto se faz seu uso. Mas é preciso que a paciente saiba que a acne pode voltar com a suspensão do medicamento”, realça.

Saúde com Ciência
Saúde com Ciência, programa de rádio produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG, transmite, essa semana, série sobre acne e outras infecções na pele.
e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Confira.