Afinal, o que fazer em caso de suspeita de dengue?

Determinados medicamentos devem ser evitados para não complicar o quadro


12 de julho de 2019 - , , ,


*Laryssa Campos

Provavelmente você já ouviu ou leu a frase acima. De fato, algumas substâncias podem complicar o quadro do paciente com dengue. É o que afirma a especialista em doenças infecciosas e parasitárias, Marise Fonseca, professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG. Mas você sabe quais são esses medicamentos?

Na verdade, a professora explica que o uso de corticoides e anti-inflamatórios deve ser suspenso ou evitado diante da suspeita de qualquer uma das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti, inclusive chikungunya e zika vírus. “Isso porque eles influenciam a coagulação do sangue. Então, o paciente que usa esses medicamentos, principalmente durante uma infecção por dengue, pode predispor a um risco grande de sangramento”, conta Marise.

Ela acrescenta que, embora a preocupação seja maior em relação à dengue, não é possível emitir um diagnóstico exato antes do sexto dia de infecção, por isso é melhor evitar tais medicamentos ainda sem a certeza de qual o vírus responsável pelo problema. “Alguns sintomas estão mais associados a uma infecção do que outra, mas é muito difícil fazer um diagnóstico clinicamente. Por isso, diante de qualquer um dos sintomas, conduzimos o paciente como se fosse dengue, porque ela é a que pode cursar para quadros mais graves entre essas infecções”, pontua.

Anti-inflamatórios e corticoides podem agravar quadro de dengue e outras infecções transmitidas pelo Aedes aegypti. Foto: Carol Morena

Fonseca também destaca que os pacientes que fazem uso de anti-inflamatórios ou corticoides por causa de outras doenças também devem ficar atentos. “Suspendemos a ingestão apenas se o nível de plaquetas estiver muito baixo, mas isso é um critério médico”, afirma. “Caso a pessoa use para uma doença específica, procure o seu médico e saiba o que deve ser feito”, recomenda.

Evite a automedicação

Marise Fonseca afirma que, ao sentir os sintomas das infecções causadas por vírus transmitidos pelo Aedes aegypti, é recomendado apenas o uso de antitérmicos. Além disso, o infectologista Unaí Tupinambás, professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade, inclui o uso de paracetamol, em caso de dor, e a ingestão de muito líquido. 

Após a recuperação, as pessoas podem voltar a usar anti-inflamatórios e corticoides, mas a professora alerta sobre os riscos do uso sem indicação médica. “Para quem não faz acompanhamento, quem não precisa dessas substâncias, não há um tempo mínimo definido. Em geral, esses medicamentos podem ser usados de duas a três semanas após a finalização dos sintomas da dengue, por exemplo”, observa.

“No entanto, embora seja muito comum as pessoas utilizarem para qualquer dor, eles não devem ser estimulados para o uso crônico, seja os corticoides ou anti-inflamatórios”, lembra. “É preciso que sejam prescritos por médicos, independente da suspeita de dengue. Esses remédios têm contraindicações e tem efeitos colaterais como todo medicamento”, assegura. 

“Com o uso prolongado, além de ter risco de sangramento, os anti-inflamatórios são associados ao risco de gastrite e doença renal. Já o corticoide também tem efeito sobre o sistema imune e diminui a imunidade da pessoa”, alerta.

Dengue no inverno

Embora a dengue seja uma doença típica do verão, os casos continuam mesmo com a chegada do inverno. Segundo o Boletim epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES-MG), nos meses de junho e julho foram registrados 25.910 casos suspeitos de dengue e 125 para zika vírus. Já a chikungunya contabilizou 289. 

A professora argumenta que são muitos os casos, mas que esses números eram esperados para 2019. “Se observarmos tanto de Belo Horizonte quanto de Minas Gerais, ou mesmo do Brasil, percebemos que está aumentado e pode-se considerar uma epidemia. É comum que elas aconteçam a cada três anos, principalmente no caso da dengue”, discorre. “Realmente estamos vivendo um aumento expressivo do número de casos como era o esperado”, continua.

*Laryssa Campos – estagiária de Jornalismo
Edição: Deborah Castro