Aids também é prevalente em idosos


01 de dezembro de 2014


mãos idosos

Foto: reprodução/internet.

No Dia Mundial da Luta contra a Aids, um alerta: a infecção viral, comumente associada aos jovens, também é prevalente na população de idosos. De acordo com o Boletim Epidemiológico Aids e DST de 2013, a taxa de detecção entre o público com mais de 60 anos por 100 mil habitantes cresceu mais de 80% nos últimos 12 anos no país.

Com o aumento da expectativa de vida e avanços nas tecnologias de saúde, mais pessoas chegam à terceira idade com vida sexual ativa. A introdução de medicamentos contra a disfunção erétil, na década de 1990, também contribuiu para reduzir os impedimentos à prática sexual na “melhor idade”. Esses fatores levaram a uma maior exposição dos idosos aos riscos de contrair a infecção.

As chances de adquirir a doença também aumentaram com a possibilidade de troca de companheiros. “Quando os parceiros falecem, é comum que as pessoas procurem por outras companhias para compartilharem suas vidas”, explica a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Marise Fonseca.

Segundo a especialista, apesar de ainda se manterem ativos, poucos idosos se sentem sob o risco de adquirir o vírus. Outra questão levantada por ela foi a negligência por parte dos profissionais de saúde. “É muito comum o profissional de saúde investigar a doença sexualmente transmissível em pessoas jovens e esquecerem que os idosos também tem vida sexual”, comenta.

Fragilidades
A menopausa, caracterizada pelo fim da ovulação e da menstruação, condição comum às mulheres com idade mais avançada, é outro facilitador para o HIV. Nesse período, têm-se a diminuição do estrógeno, ressecamento e afinamento da mucosa da vagina, que fica menos resistente. Com isso, “o órgão sexual se torna mais frágil e sujeito a lesão, levando a diminuição da barreira biológica contra o vírus”, afirma a professora.

Embora seja mais perceptível nas mulheres, a diminuição das barreiras biológicas também ocorre nos homens, já que faz parte do processo natural de envelhecimento. “O corpo de uma forma geral fica mais frágil. Mas, o risco é mais comum para a mulher, pois é ela que recebe maior impacto na relação sexual. Porém, se pensarmos no idoso que pode ter relação homossexual, podemos considerar essa questão da fragilidade dos tecidos”, explica Marise.

Ela chama atenção ainda pra o fato de que a falta de informação, orientação quanto ao uso de preservativos e continuidade de campanhas favorecem ainda mais as chances de contrair HIV. “A população de idosos talvez tenham sido menos expostas ao uso de preservativos, e não foi muito acostumada com isso. Por isso, é preciso conscientizar esse grupo”, diz.

Diagnóstico
Quanto mais rápido o diagnóstico, menor o risco de o idoso desenvolver doenças oportunistas e de recuperar o sistema imune. Porém, é corrente ao grupo da terceira idade a detecção do vírus em estágio já avançado. Isso porque os próprios profissionais de saúde não se lembram de pensar na doença ou a confunde com outras que aparecem nessa fase da vida.

“O sistema imune do idoso é mais baixo, por isso, algumas doenças que têm sintomas semelhantes ao do HIV podem aparecer com mais frequência. Além de o idoso passar por uma fase de emagrecimento, outro sinal da Aids”, ressalta a especialista.

Às escuras
A falta de adesão ao tratamento é realidade para os idosos. Entre os motivos, está o preconceito, como afirma Marise Fonseca. “Ele acontece em todas as faixas etárias. Com isso, a pessoa tem que tomar remédio escondido, não pode falar sobre doença, recebe pouco suporte da família. O que pode ser mais difícil para o grupo da terceira idade”, diz a professora. Ela ressalta a importância da conscientização para reduzir o preconceito e diagnosticar a doença de forma precoce.