Aluno com visão subnormal dá exemplo na Faculdade


10 de julho de 2009


Saulo Rosa Ferreira é estudante do curso de Medicina. Ele optou por estudar na UFMG, mas passou também em outros cinco vestibulares, para diferentes cursos e instituições de Minas Gerais.

Até aqui nenhuma novidade, não fosse o fato de que Saulo é portador de visão subnormal e sua história exemplo de superação, dedicação e força de vontade.

Ele tem o comprometimento de no mínimo 80% da visão e não existe tratamento eficaz para seu déficit como existe para outros problemas oculares, como cirurgias refrativas, óculos ou implantes intra-oculares. O problema é degenerativo.

É comum confundir visão subnormal com cegueira, mas engana-se quem pensa assim. As pessoas com baixa visão têm uma visão útil e precisam de autonomia. Para lerem sozinhos, por exemplo, é preciso usar aparelhos óticos especiais para ampliar os caracteres. A acuidade visual do portador é baixa, mas o planejamento e execução de tarefas são possíveis.

E este é um dos maiores problemas enfrentados por Saulo, primeiro aluno com esse tipo de deficiência visual a cursar Medicina na UFMG, a partir do próximo semestre no segundo período.

Ação

“A Pró-reitoria de Graduação (Prograd) liberou os recursos financeiros para que a Faculdade adquira duas lupas eletrônicas e dois televisores para darem suporte ao novo estudante”, afirma a ouvidora do Centro de Graduação (Cegrad) Maria das Graças Ribeiro.

Ela explica que esses aparelhos necessários para proporcionar ao aluno o melhor aprendizado já foram solicitados. “Estamos tentando providenciar também um aparelho eletrônico especial para uso do microscópio”, declara.

Além disso, a Fundação Mendes Pimentel (Fump) também está selecionando um estagiário do curso de medicina para auxiliá-lo com ampliação de lâminas e textos e acompanhamento nos estudos.

Interação

“Meus amigos também me ajudam com muita boa vontade e esforço. Contando com eles, consigo me sair bem aqui na Faculdade” completa Saulo.

Sua condição é hereditária, e na família outras três pessoas possuem o mesmo problema: seu pai, o tio e a avó materna. Nenhum deles, porém, conseguiu chegar ao ensino superior. “Na época deles, não havia os recursos que temos hoje” afirma o estudante.

Cotidiano

Saulo sempre conseguiu realizar as atividades normais independentemente, como pegar um ônibus ou jogar futebol. “Sempre joguei futebol em quadras pequenas. Não sei como seria em um campo gramado, talvez não conseguiria ver os jogadores do outro lado. Os números dos ônibus também consigo enxergar” explica.

Com relação ao preconceito, o estudante afirma que não costuma enfrentar: “Mas acho que quando ele acontece, é mais por falta de conhecimento do que maldade, propriamente dita”.

O centro da cidade de Belo Horizonte é exemplo de local onde Saulo enxerga a inclusão de deficientes. “Hoje a cidade está muito mais preparada para os deficientes do que há alguns anos. Passeios, rampas, piso-guia e corrimãos no centro estão adaptados”, valoriza.

Ele aponta ainda a cooperação de funcionários, professores e colegas da Faculdade de Medicina no seu dia a dia. “A sociedade tem, cada vez mais, tomado consciência da importância de ajudar o próximo”, analisa.