Alunos com dislexia podem se adaptar ao ensino virtual?

Maior inclusão demanda a reorganização do ambiente, rotina da família e preparação dos professores


30 de julho de 2020 - , , , , ,


Passar horas do dia participando de aulas online pode não ser uma experiência agradável para todo mundo. Irrita os olhos, dá sono e a concentração pode ficar ruim. Agora, imagina para pessoas com dislexia, que apresentam algumas dificuldades com a linguagem escrita e podem não conseguir acompanhar a velocidade das relações virtuais.

Por isso, é preciso pensar em maneiras de amenizar os impactos dessa modalidade de ensino para essas pessoas. Afinal, serão mais alguns meses com esse tipo de atividade até ser seguro retomar as aulas presenciais.

A professora do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Medicina da UFMG, Luciana Alves, explica que as dificuldades das pessoas com dislexia são variadas e dependem da atividade específica desenvolvida em cada faixa etária.

Crianças em processo de alfabetização, por exemplo, podem precisar de maior apoio para associar a letra ao som, armazenar o nome das letras e evocar as palavras que professor solicitar.

No áudio a seguir, a professora cita algumas dificuldades das crianças e adolescentes no ensino fundamental e reforça a importância de não as expor no meio virtual.

TDAH

De acordo com a Associação Brasileira de Dislexia, até 50% dos casos de dislexia podem ter Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).

Para pessoas com esses dois quadros relacionados, a manutenção do foco durante as aulas virtuais é mais difícil:

Professores e familiares preparados?

Na avaliação da professora Luciana Alves, os professores estão mais sobrecarregados neste momento. Isso porque, além de terem que enfrentar a falta de estrutura e capacitação didática e tecnológica, lidam com a resistência dos estudantes e das famílias.

Afinal, não foi esse tipo de serviço que os pais contrataram das escolas e nem sempre elas têm a estrutura adequada para o virtual.

Os familiares, por sua vez, também não foram preparados e enfrentam algumas dificuldades:

Dicas

Para apoiar crianças, adolescentes e seus familiares nas atividades escolares durante esse período de isolamento social, a professora Luciana Alves orienta alternar as tarefas com momentos de descaso.

Confira outras dicas:

Ambiente organizado

Outra dica é escolher um local da casa mais tranquilo para os estudos, sem muitas interferências, ruídos e estímulos visuais. A professora também recomenda a manter celulares e televisão desligados durante as atividades escolares.

Saiba mais como ajudar a criança e adolescente com dislexia a manter o foco:

Vínculo terapêutico

Além de motivar o estudante, se ele realiza algum tipo de terapia como fonoaudiologia, fisioterapia e terapia ocupacional, é importante que a família mantenha esse contato com a terapia, por meio da teleconsulta.

A professora explica o porquê:

Para Luciana Alves, é possível que esse modelo de ensino seja inclusivo, porém é um processo que demanda a reorganização do ambiente, da rotina da família e preparação dos professores.

“Se todos participarem de forma aberta a colaboração, a inclusão é viável sim”, conclui.

Aspas Sonoras

As “Aspas Sonoras”, produção do Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG, ampliam a discussão sobre os temas abordados nas séries de rádio realizadas pelo Saúde com Ciência. As matérias apresentam áudios e textos inéditos do material apurado na produção das séries.