Apendicite aguda pode exigir cirurgia imediata
A doença consiste em uma inflamação aguda do apêndice vermiforme, um tubo cilíndrico e estreito localizado no ceco, a primeira porção do intestino grosso
10 de outubro de 2014
Lucas Rodrigues
A psicóloga organizacional Maria Júlia Pereira, 26 anos, estava em casa quando foi surpreendida por uma dor intensa no abdome. “Deve ser gases”, pensou. A dor, no entanto, piorou a ponto de Maria Júlia fazer vômito e precisar se rastejar até a vizinha. Eram cinco da manhã quando a irmã a levou ao hospital – às 20 horas ela estava na mesa de cirurgia para retirar o apêndice.
“Me disseram no hospital que o diagnóstico na mulher é mais difícil do que no homem, porque existem outras possibilidades, como um cisto no ovário”, lembra. De acordo com o professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina, Marco Antônio Rodrigues, uma conversa com o paciente mais exame físico pode ser suficiente para indicar a operação em jovens do sexo masculino.
Na maioria dos casos, porém, o paciente fica em observação clínica por algumas horas, sendo submetido a exames clínicos seriados e possivelmente exames de sangue, urina, radiografia, ultrassom, tomografia e laparoscopia. “Em mulheres, pela possibilidade de a dor abdominal ter como causa problemas ginecológicos e obstétricos, e em pacientes idosos, utilizamos mais frequentemente esses exames complementares”, confirma o especialista.
Rodrigues explica que a apendicite consiste em uma inflamação aguda do apêndice vermiforme, um tubo cilíndrico e estreito localizado no ceco, a primeira porção do intestino grosso. Ela ocorre, em geral, devido à obstrução do lúmen do apêndice por uma “pedrinha de fezes” – denominada fecalito – ou por vermes, como lombrigas ou oxiúros.
“Normalmente, a doença começa com uma obstrução, leva à inflamação e, caso o paciente não seja operado a tempo, pode evoluir para uma infecção localizada ou disseminada no abdome”, resume.
O sintoma mais importante para o diagnóstico é a dor abdominal, mas o paciente também pode sentir falta de apetite. Geralmente, a dor começa na região do umbigo e, com o passar das horas, migra para a região inferior direita do abdome. A partir daí, podem surgir náuseas, vômitos e febre baixa.
Frequência e tratamento
Principal causa de abdome agudo – dor aguda que leva o paciente a procurar um médico –, a apendicite é mais frequente em adultos jovens, com discreta predominância nos homens. Em idosos e crianças, ela não é tão comum, mas pode acontecer. “Nessas situações, o quadro clínico pode ser atípico e o atraso no diagnóstico leva a riscos maiores de complicações e até óbito”, adverte Marco Antônio Rodrigues.
Além da retirada do apêndice, alguns tratamentos complementares podem ser necessários: a hidratação venosa (soro na veia) e o uso de antibióticos são os mais comuns. O uso de antibiótico depende do grau de complicação da apendicite – se há uma perfuração, por exemplo, ou não – e sua utilização varia de 24 horas, para prevenir a infecção, até cerca de dez dias, para tratar a infecção já instalada.
Quadro atual
Segundo o professor da Medicina, existem evidências que apontam a redução dos casos de apendicite nas últimas décadas. Rodrigues cita alguns pontos que ajudam a justificar essa diminuição: “O uso mais frequente de alimentação rica em fibras, como aveia, centeio, pão e arroz integrais, farelo de trigo, verduras, etc. Além disso, melhores condições de higiene, com a redução dos casos de verminose”.