Baixa adesão na segunda dose da vacina deixa crianças vulneráveis ao sarampo

Vacinação é o método mais efetivo de prevenção da doença, mas imunização deve ser completa, de acordo com o número de doses recomendadas por idade


07 de junho de 2019 - , ,


*Laryssa Campos

Um dos sintomas característicos do sarampo são manchas vermelhas, que surgem primeiro no rosto e atrás das orelhas, e, em seguida, se espalham pelo corpo. Foto: OPAS

Nesta semana, ficou conhecido o caso de sarampo de uma criança, em Belo Horizonte – MG, que já havia tomado a vacina, mas apenas a primeira imunização. Assim como ela, das 95,71% de crianças vacinadas com a primeira dose, entre janeiro e abril de 2019 em Minas Gerais (MG), apenas 79,89% retornou aos postos de saúde para a segunda, de acordo com os dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). E, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), quando o nível de cobertura vacinal é menor que 95%, favorece o aparecimento da doença entre a população, pois a imunização coletiva não é alcançada e, desse modo, o sarampo consegue avançar contaminando cada vez mais pessoas.

Essa também foi a realidade de Minas Gerais em 2018, quando apenas 83,89% das crianças receberam a segunda dose da tríplice viral, vacina que previne o sarampo, sendo que 96,41% havia buscado a primeira imunização. A infectologista pediátrica e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Lilian Martins, alerta que essa diminuição na quantidade de crianças imunizadas pode torná-las o público mais suscetível à doença.

A infectologista aponta que são diversas explicações para esse fenômeno da redução na imunização, mas destaca que um dos motivos comuns é que quanto maior a criança, menor é a atenção ao cartão de vacinas, embora seja curto o tempo entre uma dose e outra. “De modo geral, a criança vai crescendo e as pessoas ficam menos atentas”, comenta. “A criança pode se contaminar com o sarampo nesses casos, porque a proteção adequada é com duas doses, sem isso a criança fica exposta”, afirma a especialista.

A professora Lilian Martins enfatiza que a vacinação é o método mais efetivo para evitar o sarampo e suas consequências. Confira o calendário da tríplice viral, de acordo com a idade:

Não são apenas manchinhas

A professora destaca que a doença é altamente contagiosa e é transmitida por espirro e tosse, além do contato próximo de secreção nasal ou de garganta infectada. Ao contrário do que se pode imaginar o sarampo não é uma infecção leve que apenas causa pequenas manchas vermelhas na pele. Além de estar atento aos sintomas, como febre, secreção nasal, tosse e conjuntivite, a professora alerta para as consequências que a doença traz. Ela explica que a enfermidade não deixa sequelas, mas o avanço da infecção propicia o aparecimento de complicações graves.

Entre esses agravamentos se enquadram alguns mais simples e outros que podem levar até ao óbito. “Há as otites, que não levam ao óbito em geral. Já a pneumonia é uma das complicações graves do sarampo, assim como as infecções intestinais que podem levar aos quadros de desnutrição”, esclarece. “Além disso, tem alguns quadros neurológicos também que são mais raros, mas que podem funcionar como complicações da doença inicial”, acrescenta.

De acordo com a especialista, isso ocorre porque o vírus que causa a doença reduz a capacidade do sistema de defesa do paciente.  “O vírus altera o sistema imunológico da pessoa como se ele a deixasse mais fragilizada. Então, com essa imunidade mais baixa, vem as outras infecções. Logo, não é o próprio sarampo que é a complicação, mas o fato dele criar um ambiente propício para que haja outras infecções e haja complicações”, analisa.

Leis que obrigam a vacinação?

Para conter o surto de sarampo e a contaminação das crianças, a pediatra acredita que criar leis que obriguem os pais a vacinar os filhos não seja o melhor método, mas sim, conscientizá-los. “As pessoas precisam ver o impacto das vacinas para ter uma noção da importância delas. Eu, que trabalho no hospital e vejo a redução dos casos de varicela e de meningite com a vacina, percebo o tanto que a vacinação é importante”, comenta. “Depois que começou a imunizar as crianças tivemos bem menos casos da doença. Então o que precisa ser divulgado é esse impacto e as melhoras que se consegue com a vacinação: redução de taxas de doença, de hospitalização e de mortalidade”, propõe.

Ela esclarece que, mundialmente, a população costuma se conscientizar durante os períodos de surto de sarampo, mas que o ideal é que essa educação ocorra em momentos nos quais a doença não está em alta. “Nos momentos de surto, a população se conscientiza da vacinação, se imuniza e o número de casos reduz. Cerca de três ou quatro anos depois, a população não vê mais o sarampo e passa a considerar que aquela vacinação não é mais tão importante”, expõe. “Assim, a imunidade cai e volta a ocorrer outro surto. Por isso, o ideal é a compreensão da necessidade da imunização independente da ocorrência de surto”, completa.

A Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte informa que as vacinas contra o sarampo estão disponíveis em todos os Centros de Saúde do município. Para se vacinar, é necessário ir ao posto de saúde mais próximo da sua casa, das 9h às 17h. Além disso, é preciso levar o cartão de vacinas, junto com a carteira de identidade.

*Laryssa Campos – estagiária de Jornalismo
Edição: Deborah Castro