Boa nutrição fortalece organismo na doença falciforme


24 de fevereiro de 2016


A doença falciforme afeta a hemoglobina, proteína presente nas hemácias. Reprodução internet.

A doença falciforme afeta a hemoglobina, proteína presente nas hemácias. Reprodução internet.

Doença hereditária que afeta o sangue e provoca diversas complicações no organismo, a doença falciforme, no geral, não exige qualquer restrição alimentar. Porém, como explicam especialistas, uma dieta balanceada, aliada a outros cuidados, é fundamental para garantir melhor qualidade de vida ao paciente.

Uma das razões para o cuidado com a alimentação diz respeito ao metabolismo acelerado, característico das pessoas com doença falciforme. Isso se deve à destruição crônica das hemácias (glóbulos vermelhos), à anemia e à obstrução dos vasos sanguíneos, fenômenos comuns na doença. Diante disso, o gasto metabólico pode aumentar de 20% a 50%. “Durante as crises de dor, causadas principalmente pela vaso-oclusão, o gasto de energia é alto, a pessoa fica inapetente, emagrece. Então o acompanhamento nutricional torna-se muito importante nesses casos”, explica a nutricionista do Nupad, Michelle Alves.

Uma alimentação inadequada também pode favorecer o aparecimento de infecções e úlceras de perna, manifestações clínicas da doença falciforme, por causa da deficiência de alguns nutrientes essenciais. A ingestão de gorduras em excesso, por exemplo, como para qualquer pessoa, pode prejudicar a circulação do sangue e favorecer o entupimento dos vasos, devido ao acúmulo da substância. Também, de acordo com Michelle, o aumento do consumo de sódio (sal de cozinha e outros alimentos ricos em sódio) pode predispor o aparecimento de doença renal.

Segundo a nutricionista, é recomendado, portanto, que a pessoa com doença falciforme tenha uma dieta equilibrada, baseada em todos os grupos de alimentos da pirâmide alimentar: alimentos energéticos, ricos em carboidratos (de preferência integrais); alimentos reguladores, que possuem vitaminas e minerais; e alimentos construtores, ricos em proteínas. “Mantendo-se bem nutrida ela fortalece o organismo e evita possíveis transtornos comuns a qualquer pessoa, mas agravados pela doença”, reforça.

Cuidados com a hidratação

A hematologista da Fundação Hemominas, Priscila Cezarino, aponta um outro cuidado fundamental na doença falciforme, a hidratação: “Ela ajuda a minimizar ou mesmo evitar as crises de dor, porque uma maior ingestão de água torna o sangue menos viscoso e melhora a circulação nos vasos”.

O ideal é que sejam consumidos, diariamente, de dois a três litros de água, ingeridos ao longo do dia, mesmo na época de frio. “E o importante é que seja água. A pessoa pode até tomar um suco ou refrigerante, mas não o dia inteiro”, alerta a médica.

Uso de ferro e ácido fólico

“Eventualmente, aquelas pessoas que realizam transfusões de sangue contínuas, como ocorre na doença falciforme, podem ter uma sobrecarga de ferro nos órgãos, e aí são necessárias algumas restrições”, orienta Priscila. Esse quadro, que pode ser agravado pela destruição crônica das hemácias e a consequente liberação do ferro presente nas hemoglobinas, torna necessário o uso de quelantes de ferro, substâncias capazes de retirar o nutriente do organismo. “Mas a sobrecarga não ocorre se a pessoa fizer o controle corretamente”, afirma a hematologista.

Além do controle do ferro, a médica da Fundação Hemominas explica que pessoas com doença falciforme devem fazer a suplementação contínua do ácido fólico, conhecido também como vitamina B9 ou vitamina M: “O ácido fólico age na construção das células do sangue. Como a pessoa com doença falciforme tem uma destruição celular aumentada, ela tem uma demanda de ácido fólico maior”.

A orientação, segundo Michelle Alves, é que a pessoa tenha uma alimentação mais rica, inclusive em ácido fólico, e use o suplemento por toda a vida. “Essa vitamina está presente principalmente nas folhas verde escuras, como couve, brócolis, espinafre, rúcula e mostarda”, indica a nutricionista.

Doença falciforme e triagem neonatal

Sem títuloA doença falciforme é uma das doenças hereditárias mais comuns no Brasil e apresenta, já nos primeiros anos de vida, manifestações clínicas importantes. Ela é uma das seis doenças diagnosticadas pela triagem neonatal, conhecida como teste do pezinho. Em Minas Gerais, o Programa de Triagem Neonatal (PTN-MG) é coordenado pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) e viabilizado tecnicamente pelo Nupad.

O único tratamento curativo da doença é o transplante de medula óssea, que só deve ser realizado quando o paciente tem irmão compatível e em casos selecionados, após avaliação médica.

A maioria das pessoas com doença falciforme é acompanhada clinicamente sem transplante de medula, tanto pela equipe de atenção básica como por equipe multidisciplinar na atenção secundária e terciária. Assim, a doença pode ser controlada.