Brasil e mundo enfrentam crise de fertilidade

Países desenvolvidos e em desenvolvimento têm observado taxas de fecundidade abaixo da reposição populacional, que é de 2,1 filhos por mulher. Taxa brasileira é de 1,57.


21 de julho de 2025 - , , , ,


A sociedade moderna enfrenta hoje uma crise mundial de fertilidade, causada por fatores biológicos e socioeconômicos. É o que afirma a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG e convidada do Saúde com Ciência, Márcia Mendonça Carneiro.

“O que vem acontecendo é que as pessoas estão tendo menos filhos, e nós temos um aumento da infertilidade. Infertilidade é a incapacidade de engravidar após um ano de relações sexuais regulares”, explica a professora. Ela segue, afirmando que nos casos de mulheres acima dos 35 anos, esse período de medição da infertilidade é reduzido para seis meses, já que a idade é um fator primordial para a fertilidade feminina.

De acordo com ela, o envelhecimento dos ovários se acelera após os 35 anos, e esse não é um fenômeno reversível. “Infelizmente, nós não temos nenhum tratamento, nenhum medicamento que seja capaz de parar esse envelhecimento ovariano que ocorre naturalmente com o tempo”, pontua.

A título de comparação, a taxa de fecundidade necessária para a reposição populacional é de 2,1 filhos por mulher, segundo pesquisas da Organização das Nações Unidas. Países desenvolvidos e em desenvolvimento têm observado taxas abaixo desse mínimo, girando em torno de 1,5 filhos. No Brasil, a taxa atual é de 1,57 filhos por mulher.

“Essa crise de fertilidade mundial foi relatada num documento publicado recentemente pelo Fundo Populacional das Nações Unidas, que é intitulado ‘A Crise Real da Fertilidade’. A publicação foi divulgada agora no mês de junho, que é mês dedicado à conscientização sobre a infertilidade, e traz dados de entrevistas de pessoas jovens em 14 países, o que representa cerca de um terço da população mundial. As questões são relativas à sua saúde reprodutiva, ao planejamento familiar e à formação de famílias. O Brasil foi um dos países incluídos nessa pesquisa. As respostas obtidas revelam dados alarmantes”.

Professora Márcia Mendonça Carneiro

Resultados

Segundo a professora Márcia Carneiro, a maioria dos entrevistados acredita que um direito universal, o de escolher quando e como ter filhos e formar famílias, está em risco. Dentre os fatores de risco apontados, estão as estabilidades política e econômica local e global, as mudanças climáticas e os conflitos armados. “O que impressiona nessa pesquisa é que cerca de 20% dos entrevistados admitem que talvez não possam ter o número de filhos que desejam. Um em cada quatro acha que não vai escolher o melhor momento para ter um bebê”, destaca a professora.

Além disso, quase 40% dos entrevistados acham que a instabilidade econômica é um fator que já comprometeu ou poderá comprometer a decisão de terem mais filhos. Já um em cada cinco considera que a instabilidade econômica e social a nível global é um motivo que altera sua decisão em relação ao número de filhos que deseja ter.

Ouça o podcast na íntegra:

Saúde com Ciência

No programa de rádio Saúde com Ciência desta semana, conversamos sobre a crise mundial de fertilidade. Entendemos os principais fatores que levam à queda da natalidade e da fecundidade ao redor do planeta e os impactos na vida das mulheres, sobretudo após os 35 anos. Além disso, discutimos possíveis soluções e políticas públicas para reverter esse quadro.

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 7h15, no programa Bom Dia UFMG. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.