Câncer de mama se tornou o tipo mais comum da doença no mundo
Hábitos sedentários de vida e alimentação inadequada, que levam à obesidade, podem aumentar risco para a doença
08 de fevereiro de 2021 - câncer, Câncer de mama, pandemia, prevenção
Pela primeira vez, a ocorrência do câncer de mama no mundo superou a do câncer de pulmão, que foi o tipo com maior número de casos nas últimas duas décadas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, o câncer que atinge os seios de homens e mulheres tem cerca de 66 mil novos casos por ano, conforme Instituto Nacional de Câncer (INCA).
O estilo de vida sedentário é apontado com um dos fatores que se relaciona com essa alta prevalência da doença, especialmente na população feminina. Por isso, cuidados contínuos com a saúde e diagnóstico precoce da doença são apontados como maneiras importantes de combater essa enfermidade.
O Saúde com Ciência desta semana aborda os efeitos da pandemia no diagnóstico e tratamento do câncer e como os procedimentos estão sendo realizados neste momento.
O mastologista e professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Clécio Lucena, explica que existe um conjunto de fatores associados à probabilidade de maior ocorrência do câncer de mama, não sendo possível saber exatamente quais são as causas primárias. Mas já é de conhecimento que a maior ocorrência da doença pode estar relacionada aos hábitos de vida sedentários e alimentação inadequada, que levam à obesidade.
Segundo a OMS, a obesidade contribui para a prevalência do câncer de mama. Além disso, pesquisa brasileira realizada pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) identificou que pessoas obesas podem ter casos mais graves da doença. Isso porque apresentam maior quantidade de vesículas eliminadas pelas células de gordura que, ao circularem na corrente sanguínea, podem levar a um processo inflamatório mais exacerbado ou ao agravamento desse tipo de câncer.
E os números preocupam: mais da metade dos brasileiros estão acima do peso e 20% estão obesos, de acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2019). No mundo, são 672 milhões de pessoas obesas, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO). Situação que pode piorar com pandemia. Estudos mostras que houve queda nos níveis de exercício com o isolamento, que permaneceram mais baixos mesmo com a flexibilização da quarentena.
Outros fatores
A ingestão alcoólica também pode ser um fator de risco para o câncer de ama. Já a história famílias representa percentual pequeno, de 10 a 15% dos casos. “A grande maioria é a primeira a vir devolver esse tipo de doença na família”, afirma Clécio Lucena. Ele esclarece que fator genético é diferente de hereditário, sendo o primeiro causado por mutações genéticas e o segundo por transmissão familiar.
O comportamento reprodutivo e estilo de vida das mulheres modernas também podem impactar no desenvolvimento de um câncer de mama. Se antes as mulheres tinham filhos mais novas e amamentavam por mais tempo, hoje a história é outra. Muitas mulheres optam por ter filhos mais tarde ou por não terem filhos, o que pode aumentar o risco para esse tipo e câncer.
Prevenção
Como não existe um fator isolado para a ocorrência do câncer de mama, é difícil definir uma forma de prevenção primária à doença da mesma forma como ocorre com o câncer de pulmão, por exemplo – ao se eliminar o cigarro, reduz significativamente as chances de se ter esse tipo de câncer.
Por não ter essa definição clara, a prevenção à doença ocorre de maneira secundária.
Minientrevista
Quando a mamografia deve ser realizada?
Clécio Lucena (CL): De acordo com a recomendação do Ministério da Saúde para pacientes do SUS, o rastreamento mamográfico (estratégia adotada para rastreio em mulheres que não apresentam sintomas) deve iniciar aos 50 anos de idade, interrompendo aos 69 anos. Nessas mulheres, recomenda-se repetir a cada dois anos. Já a recomendação das entidades médicas é de início a partir dos 40 anos de idade, sem uma data limite definida, com repetição num intervalo de um ano. Isso se aplica para a população de risco habitual e não aquelas pessoas que têm risco aumentado, como histórico família ou fator de risco aumentando. São duas recomendações distintas as duas são corretas. Na verdade, a estratégia de rastreamento vai ser modulada conforme a paciente.
E no caso das mulheres mais jovens, que ainda não têm a indicação do rastreamento com mamografia, qual é a recomendação?
CL: Nem todas as mulheres estão na idade de fazer o exame de rastreamento mamográfico. Para elas, deve-se destacar a importância da observação de alguns sinais. Dentre eles, o principal é a presença o nódulo mamário. É sempre importante ter o habito de tocar e examinar as mamas e a presença de qualquer lesão, alteração da estrutura mamária deve ser investigada para saber se aquilo significa alguma doença importante ou uma alteração benigna e fisiológica que a mama pode estar passando de acordo com o período ou ciclo menstrual.
A diagnóstico precoce aumenta a chance de cura para 95%. Após esse diagnóstico, como o tratamento é feito?
CL: Quando diagnosticado precocemente, o tratamento baseia-se em quatro estratégias principais. O tratamento cirúrgico, com análise do material que vai orientar sobre qual tratamento seguir como o tratamento radioterapia complementar, quimioterapia ou hormônioterapia. Mas não existe uma receita única, é preciso avaliar cada caso.
A imunoterapia tem sido apontada como um dos principais avanços no tratamento do câncer de mama. Ela é indicada para todos os casos?
CL: A imunoterapia é um tratamento sistêmico, é um tipo de medicação com indicações bem definidas, como para tratamento do câncer de melanoma, que é um câncer de pele mais agressivo. Para o câncer de mama, tem uma eficácia significativa, mas não para os estágios iniciais da doença. A imunoterapia é recomendada para alguns subtipos específicos, como o triplo negativo, e quando a paciente já ultrapassa as recomendações iniciais para tratamento padrão.
Saúde com ciência
A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é de que o Brasil tenha tido 625 mil novos casos de câncer a em 2020. E por causa da pandemia, que levou algumas pessoas a adiarem exames de rotina, muitos desses casos foram diagnosticados tardiamente.
Para lembrar que o câncer não faz quarentena, o Saúde com Ciência desta semana traz especialistas que explicam quais os efeitos da pandemia no diagnóstico e tratamento da doença e como os procedimentos estão sendo realizados neste momento.
Sobre o programa de rádio
O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify