Em 1971, como conseqüência da reforma universitária, ocorreu ampla revisão crítica do ensino médico na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (FM-UFMG). Dos estudos e debates, extraiu-se a necessidade do vínculo fundamental do ensino com nossa realidade de saúde, em seus vários aspectos, inclusive o espacial e o temporal.

A principal expressão curricular da realidade de saúde no tempo foi a introdução do ensino da História da Medicina (HM) e a criação do Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais (Cememor-MG). A reestruturação curricular, aprovada em 1974 e implantada a partir de 1975, incluía várias disciplinas optativas, ministradas a partir de 1978, entre estas, a de HM. Como o processo curricular impedia disciplinas teóricas, o ensino da HM exigiu a criação do Cememor para que os estudantes participassem ativamente de sua montagem, das pesquisas e da expansão do acervo. Seria mais que um museu, constituindo-se em verdadeiro laboratório para reunião e levantamento de objetos, documentos e depoimentos. Reuniria professores, alunos, funcionários e outros estudiosos interessados na memória da Medicina.

A Resolução 02/79 do Conselho Departamental da Faculdade de Medicina, de 12 de junho de 1979, formalizou a criação do CMM. Estabelecia: 1° – um museu histórico propriamente dito, composto de “salas” com temas específicos; 2° – um museu de memória tecnológica; 3° – uma galeria de Medicina e arte; 4° – um laboratório de imagem e som; 5° – a disciplina de HM a ser ofertada em graduação e pós-graduação e 6° – um Colegiado composto dos que tenham contribuído para a montagem ou desenvolvimento do Centro, a ele filiados voluntariamente, sendo docentes da disciplina e freqüentadores das reuniões semanais. Em seus passos iniciais, o CMM contou com o apoio decisivo dos diretores da FM-UFMG, Cid Veloso e Luiz de Paula Castro.

O principal idealizador de Centro de Memória foi o professor João Amílcar Salgado, dedicado conhecedor da história da Medicina em geral e entusiástico investigador da memória de figuras e instituições médicas mineiras. Graças a seu trabalho incansável, lutando contra a falta de recursos e as dificuldades inerentes à preservação do patrimônio histórico, foi possível resgatar e proteger informações e objetos de inestimável valor, referentes à FM e à saúde em Minas e no Brasil.

O evento inaugural do Centro de Memória ocorreu em 1977, quando da instalação, no saguão da FM-UFMG, da placa que lembra a primeira turma de Medicina graduada após a criação, em 1927, da Universidade de Minas Gerais (hoje, UFMG) e da qual fazem parte, entre nomes ilustres, Juscelino Kubitschek, Pedro Salles e Pedro Nava, os quais coincidem serem, respectivamente, o primeiro ex-aluno a se tornar presidente da República, o maior historiador da Medicina em Minas Gerais e o maior memorialista brasileiro.

A primeira sala inaugurada foi a de Borges da Costa, em 5 de fevereiro de 1980, seguindo-se as salas Clóvis Salgado, Ezequiel Dias, Guimarães Rosa, Baeta Viana, Samuel Libânio, Adelmo Lodi, Escolas Médicas e do “Show Medicina” e, ainda, a da Biblioteca – sala Oswaldo Costa.

O Cememor está diariamente aberto à visitação pública, inclusive de turistas, enumerando-se, entre estes, parte surpreendente de estrangeiros. É muito procurado também por estudantes de primeiro e segundo graus. Faz importante intercâmbio com outros museus. O curso de HM funciona ininterruptamente a cada semestre desde 1978 e conta com recorde de matrículas, pois é aberto a estudantes de qualquer área, a docentes, funcionários e quaisquer interessados.

Seus coordenadores foram: João Amílcar Salgado, Luiz Cisalpino Carneiro, Ronaldo Simões Coelho, Sebastião Natanael Silva Gusmão e Ajax Pinto Ferreira. Atualmente, encontra-se sob coordenação do professor Luciano Amédée Peret Filho.

Referência Bibliográfica: Gusmão, SNS. 85 anos da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Memória da Medicina de Minas Gerais. Cooperativa Editora e de Cultura Médica, 1997.