Centro de Memória organiza obras raras
24 de abril de 2008
Um tratado de anatomia escrito em latim, datado de 1788, uma obra sobre dermatologia, escrita em japonês, e uma farmacopéia (glossário de fórmulas para preparo de medicamentos), de 1735.
Essas e outras raridades se encontram no Centro de Memória (Cememor) da Faculdade de Medicina da UFMG, além de uma variedade de outras obras e equipamentos.
A reorganização do acervo, coordenada por Ethel Mizrahy (na foto, à direita), doutora em História pela UFMG, prevê, dentre outras coisas, a inclusão das publicações no sistema de bibliotecas da Universidade. O projeto já está em andamento e tem apoio da Biblioteca J. Baeta Vianna, do Campus Saúde.
Trabalho árduo
Desde maio de 2007, Ethel orienta equipe de três estagiários, alunos do curso de História, nas atividades de higienizar, identificar, reparar e separar o acervo segundo o tipo: livros, periódicos, teses, documentos acadêmicos, administrativos e pessoais, fotografias, imagens, entre outros.
Grande parte desse acervo, que inclui também aparatos técnicos como microscópios, computadores e máquinas fotográficas, se encontrava armazenado em caixas e prateleiras, em condições precárias de conservação.
O primeiro passo foi fazer o levantamento e seleção das obras rel ativas à saúde. “Mas, além disso, o Cememor possui preciosidades, em diversas áreas, como literatura, engenharia, letras, religião e culinária. Iremos doá-las para instituições onde serão mais bem utilizadas”, conta a historiadora Ethel Mizrahy.
Doações serão feitas à Biblioteca Universitária, ao Museu de História Natural, ao Museu de História Nacional, à Biblioteca Estadual e aos centros de memória de diversas unidades, como Faculdade de Engenharia, Odontologia, Enfermagem e Veterinária.
O acervo referente à área da saúde está agora sendo separado em grandes áreas da medicina, como clínica médica, medicina do trabalho, ginecologia-obstetrícia, terapêutica, entre outros.
A meta é finalizar esse trabalho de organização e, em seguida, inserir as obras no Sistema de Bibliotecas da UFMG. “Desta forma, as que forem digitalizadas poderão estar disponíveis à sociedade, por meio de consulta local ou on line”, prevê Ethel.
Membro da equipe do Centro, Maria do Carmo Rabelo, estudante do 6º período do curso de História, ressalta a importância das antigas obras para os estudantes de Medicina.
“É essencial perceber o processo pelo qual passou a ciência médica, a relação do conhecimento e da técnica com o momento que a sociedade vive. É preciso saber sobre a construção do conhecimento para entender como chegamos onde estamos hoje”.
O Cememor também tem sua história
Inaugurado em 1977, no saguão da Faculdade de Medicina da UFMG, o Centro resultou de um movimento intelectual da época que reconheceu a importância do ensino da história da Medicina nas Faculdades.
Seu principal idealizador foi o professor João Amílcar Salgado, estudioso da história da Medicina e dedicado investigador da memória de figuras e instituições médicas mineiras.
O acervo do Centro vem, desde então, sendo constituído principalmente por meio de doações de instituições, ex-alunos, ex-professores, profissionais aposentados e suas famílias.
Em 1996, ele começou a ser organizado pelas historiadoras Anny Jackeline Torres Silveira e Silvana Gomes de Resende, a historiadora Rita Marques, professora da Escola de Enfermagem, e estagiários do curso de História da UFMG.
Durante cerca de dois anos, a equipe realizou um levantamento preliminar, que oferecia um diagnóstico da natureza, volume e condições físicas dos materiais. O trabalho resultou na montagem de uma exposição, mas as atividades de organização do acervo ficaram paralisadas por cerca de dois anos.
A historiadora Ethel considera que a equipe que trabalhou anteriormente fez um trabalho importante, exibindo uma obra do século 18 que foi colocada em uma caixa especial, confeccionada em papel com gramatura e pH adequados para sua boa conservação.
“A continuidade desse trabalho só tem sido possível devido aos esforços da direção da Faculdade e da vice-reitora da UFMG, professora Heloísa Starling, que é historiadora, foi minha orientadora na Pós-Graduação e quer que todas as unidades da Universidade tenham um Centro de Memória”.
Mas, Ethel explica que ainda há muito trabalho a fazer. “Com certeza, ainda iremos encontrar muitas raridades aqui”, afirma a historiadora.
Redação: Débora Santos – Estudantes de Jornalismo