Conceito de saúde única pode impedir disseminação de doenças


21 de junho de 2017


Godfroid, o reitor Jaime Ramírez e o diretor da Escola de Veterinária da UFMG, Renato Lima Santos. Foto: Foca Lisboa

Em conferência que integra o ciclo UFMG, 90 anos: desafios contemporâneos, o médico e doutor nas áreas de biologia molecular e ciência veterinária, Jacques Godfroid abordou o conceito de saúde única, expressão que remete ao estudo de zoonoses sob perspectiva que une meio ambiente, saúde animal e saúde humana.

O pesquisador destacou o fato de o conceito de saúde única ser utilizado em diversas áreas do conhecimento. “A saúde única serve como conceito base da medicina, da biologia e de diversas outras áreas. Ele nos permite estudar os desafios enfrentados por pesquisadores dessas áreas de uma maneira mais integralizadora”, disse o professor da Artic University of Norway.

Segundo ele, algumas epidemias e doenças que afetaram a sociedade poderiam ter sido descobertas mais rapidamente se o conceito de saúde único tivesse sido utilizado. O professor exemplificou a afirmação com o surto de uma doença que acometeu a cidade de Nova York em 1999. Naquele ano, vários pássaros começaram a morrer misteriosamente. Tempos depois, moradores da cidade também apresentaram sintomas de uma doença até então desconhecida.

“Descobriu-se que se tratava de uma zoonose transmitida dos pássaros para os humanos. Se naquela época já se pensasse em saúde única, talvez a doença teria sido descoberta antes, ao se observar a ligação entre a morte das aves e os sintomas das pessoas. Há um elo entre o que ocorre com os animais e o que ocorre com os humanos”, defendeu.

O professor acrescentou que a biodiversidade e o impacto das mudanças climáticas também podem ser melhor compreendidos sob o prisma da saúde única. “Esse conceito está relacionado com a percepção, sobre como antecipar os problemas ambientais. Precisamos de um gerenciamento ambiental em nível global, que inclua planejamento. O que ocorre na China é importante para a América Latina. Em diferentes hotspots do mundo estão surgindo novas doenças, e um controle global pode impedir que elas se espalhem.”

Doenças emergentes
Jacques Godfroid destacou a importância de novos estudos sobre zoonoses, uma vez que 50% das doenças emergentes se enquadram neste grupo. “Além de uma grande porcentagem das doenças emergentes serem zoonoses, 70% delas têm origem no mundo selvagem. Então é importante focarmos não apenas nos animais domésticos, mas também naqueles que ainda vivem na natureza”, defendeu.

Para o pesquisador, a maior dificuldade encontrada para a aplicação do conceito de saúde única é a diferença de importância que distintas esferas governamentais atribuem aos problemas de saúde animal e humano. “Um ministro da agropecuária, por exemplo, tende a investir dinheiro no estudo de doenças que afetam apenas os animais, enquanto um ministro da saúde foca seu investimento em doenças humanas. No caso das zoonoses, esse trabalho tem que ser conjunto, a doença precisa ser atacada nas duas vertentes. Isso é saúde única”, concluiu.

 

 

Redação: Cedecom/UFMG