Conheça a estomização

Saúde com Ciência revela que Belo Horizonte é referência mundial em técnicas para lidar com esse tipo de cirurgia


26 de dezembro de 2014


Em entrevista ao Saúde com Ciência, professor da Faculdade revela que Belo Horizonte é referência mundial em técnicas para lidar com esse tipo de cirurgia

saudecomcienciaPalavra derivada do grego stóma, que transmite a ideia de boca, a ostomia é a cirurgia responsável pela abertura de um canal que permite a comunicação entre um órgão interno e o meio externo, gerando o uso de uma bolsa coletora para eliminação de resíduos – fezes e urina. Entre as causas principais do procedimento, também chamado de estomização, estão cânceres, doenças inflamatórias, fatores genéticos e traumas relevantes, como acidentes com armas brancas ou de fogo.

Crédito da ilustração: healthy.kaiserpermanente.org

Exemplo de bolsa de colostomia. Crédito da ilustração: healthy.kaiserpermanente.org

O tipo mais comum é a colostomia, que acomete o intestino grosso. Também são realizadas, com maior frequência, cirurgias no intestino delgado (ileostomia), bexiga (urostomia) e estômago (gastrostomia). E não é só o órgão afetado que diferencia os tipos da cirurgia – ela pode ser permanente ou temporária, de acordo com a temporalidade do estoma, no caso, a abertura do canal ligado à bolsa. “Como o próprio nome indica, a permanente vai ficar para o resto da vida. Já a temporária, o médico tem uma previsão de fechá-la. Infelizmente, a gente tem uma situação em que a temporária pode virar permanente. Por várias complicações, como o desenrolar do câncer, acaba não sendo possível fechar”, explica o professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da UFMG, Rodrigo Gomes.

Segundo o professor, a estomização temporária tem como objetivo, em geral, reconstruir o trânsito intestinal após dois ou três meses. Seu caráter de urgência deriva, por exemplo, de um tumor de intestino perfurado ou de uma cirurgia que prevê complicações mais graves. Por isso, a necessidade de proteger aquela “emenda” com um desvio do trânsito, até que o órgão esteja recuperado. “Hoje, felizmente, se faz cada vez menos cirurgias para estomas permanentes. Quando são permanentes, porém, é difícil encontrar uma técnica cirúrgica para reverter tais situações”, afirma.

Apesar dessa dificuldade, Gomes garante que Belo Horizonte é um centro de referência no Brasil e no mundo em relação às melhores técnicas para a estomização, seja ela em decorrência de problemas no intestino, estômago, pâncreas ou fígado, entre outros órgãos.

Equipe multidisciplinar

Para ajudar no cuidado físico e emocional das pessoas estomizadas, existe um profissional especializado: é o enfermeiro estomaterapeuta. Um desses profissionais é a professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Eline Borges, que ressalta a importância dessa atuação nas áreas de incontinência anal ou urinária, prevenção e tratamento de lesões na pele e atendimento às pessoas com estomas. “O número de estomaterapeutas tem tido impacto na melhoria da assistência. A gente percebe que, atualmente, os hospitais contratam esses enfermeiros porque sabem que, com eles, acabam reduzindo custos. A partir do momento em que você utiliza o equipamento adequado para determinado paciente, você usa um número menor de dispositivos”, observa.

Normalmente, o Sistema Único de Saúde oferece, além de enfermeiros preferencialmente especialistas, os seguintes profissionais: cirurgião, responsável por confeccionar o estoma; nutricionista, importante, principalmente, para os pacientes com ileostomia, já que o manejo da dieta no pós-operatório é mais complexo; assistente social, que irá orientar o paciente sobre os direitos que passa a ter em decorrência do estoma; e psicólogo, por causa das alterações emocionais.

Apesar da possibilidade de contar com o apoio de uma equipe multidisciplinar, Eline lembra que o paciente deve buscar independência para ter qualidade de vida. “A equipe atua para facilitar o processo de aprendizagem, mas o paciente precisar assumir todos os cuidados, porque isso é reabilitar”, justifica. “Em alguns casos, como o estoma é definitivo, não é adequado que ele tenha uma bengala para o resto da vida, por isso o estímulo à autonomia”, completa.

Serviços públicos aos estomizados

Para ajudar os estomizados a se readaptarem de forma autônoma e participativa, o Ministério da Saúde definiu, em 2009, ações desenvolvidas na atenção básica e nos Serviços de Atenção à Saúde das Pessoas Ostomizadas (SASPO). Só em Minas Gerais são mais de 54 serviços, que oferecem orientações para autocuidado, prevenção, tratamento, capacitação de profissionais e fornecimento de bolsas coletoras, além de equipamentos de proteção e segurança. Outros Estados também oferecem os serviços, que incluem os municípios que não têm SASPO, sendo atendidos, então, pelos centros de referência mais próximos.

Além disso, os pacientes ainda podem recorrer às associações de estomizados, que costumam realizar diversas atividades para eles lidarem positivamente com as dificuldades e preconceitos. Um exemplo é a Associação Mineira dos Ostomizados (AMOS), que promove palestras, distribuição de material educativo e bolsas coletoras, visitas aos hospitais e residências e reuniões mensais em grupo.

Na opinião do vice-presidente da AMOS, José Maria Sobrinho, as reuniões mensais representam um processo de socialização fundamental para essa readaptação. “A adaptação depois da cirurgia é um processo demorado e a socialização do grupo, com a experiência de cada um, vai fornecer a estabilidade emocional necessária”, salienta. “Essa convivência participativa ajuda a criar condições para aceitação, integração, equilíbrio emocional e adaptação para um novo estilo de vida”, conclui.

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência, que apresenta a série sobre estomização entre os dias 29 de dezembro e 02 de janeiro de 2015, é produzido pela Assessoria de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. De segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h05, ouça o programa na rádio UFMG Educativa, 104,5 FM. Ele também é veiculado em outras 84 emissoras de rádio, que envolvem as macrorregiões de Minas Gerais e os seguintes estados: Ceará, Espírito Santo, Maranhão, São Paulo, Paraná e Massachusetts, nos Estados Unidos.