Conhecimento do usuário pode melhorar atendimento da ESF


24 de novembro de 2015


Projetos de intervenção buscam fortalecer aspecto preventivo da Atenção Básica

A Estratégia da Saúde da Família (ESF) trabalha próxima do usuário, atendendo nos centros de saúde e visitando domicílios. Mas, apesar de priorizar a prevenção e promoção da saúde, não é assim que o programa é visto. Atuando de 2012 a 2014 numa equipe de saúde da cidade de Montes Claros, Ana Carolina Dias de Oliva desenvolveu um projeto de intervenção para mudar esta visão do usuário em seu Trabalho de Conclusão de Curso na Especialização Estratégia Saúde da Família (Ceesf).

Para a realização do estudo, ela considerou a Unidade Básica de Saúde do bairro Vilage do Lago II, composta por profissionais como enfermeiros, agentes comunitários de saúde e cirurgião dentista. “Na maior parte das vezes, os usuários nos procuram para ações de cura das doenças, não participando de atividades de promoção da saúde”, explica a pesquisadora do Núcleo de Educação em Saúde Coletiva (Nescon). “Isso acontece pelo desconhecimento do que fazem as equipes de Saúde da Família”, continua Ana Carolina.

Durante o período da sua atuação, a unidade atendia aproximadamente 4200 habitantes, encontrando problemas na adesão do público às atividades da ESF. “Uma das principais reclamações dos profissionais era a falta de adesão de conduta, como seguir as recomendações médicas de prevenção a uma doença”, conta a enfermeira.

Segundo dados do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cereste), em 2014, o Vilage do Lago II tinha recorrência de condições precárias de higiene e saúde, com casos frequentes da doença de Chagas e violência. Para a pesquisadora, a situação poderia mudar por meio do trabalho das equipes. “Mas, infelizmente, o modelo que os pacientes têm da Saúde está concentrado no médico e na cura das doenças”, afirma.

Por meio da observação do cotidiano da unidade, a pesquisadora percebeu que, quando há o conhecimento das ações, os usuários seguem melhor as recomendações dos profissionais. Dessa forma, a divulgação das ações por meio das visitas domiciliares e cartazes, por exemplo, é essencial para a utilização dos serviços oferecidos pela ESF de forma mais consciente.

Desconhecimento afeta o fluxo dos atendimentos

Outro problema causado pelo desconhecimento da Saúde da Família é a excessiva demanda espontânea nos postos de saúde. Esse foi o resultado encontrado no projeto de intervenção elaborado por Tiago Aguiar Pinali, em seu Trabalho de Conclusão de Curso na Especialização Estratégia Saúde da Família (Ceesf).

“Cada unidade tem um fluxo de atendimento, com dias específicos para consultas e renovação de receitas. Quando os usuários não seguem essa programação, fora os casos de emergência, consome tempo e recursos humanos que poderiam ser direcionados para um atendimento mais eficaz”, explica Pinali.

Segundo o autor, ao invés de marcarem consultas para acompanhamento da saúde, muitos pacientes procuram atendimento somente em situações de emergências. “Já houve casos de usuários com pressão alta que só procuravam atendimento quando a medicação acabava. Mas, para renovação desses remédios é preciso uma nova receita, que só será obtida numa consulta com o médico”, exemplifica.

Para a orientação da população, Pinali elaborou panfletos que instruíam sobre a função de cada profissional e dias de atendimentos para a Unidade Básica de Saúde Imaculada Conceição, de Sarzedo, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Com a difusão das informações também pelos profissionais, em conversas com os usuários, o apoio à saúde melhorou.

“Existem, por exemplo, rodas de conversa para troca de informações entre profissionais com pacientes e paciente com paciente que, em alguns casos, podem ser mais eficazes”, lembra Tiago. “Com o conhecimento dos usuários sobre esses grupos e as ações da unidade, a Saúde pode apontar a melhor opção para o atendimento de cada um, sem que haja uma demanda excessiva”, opina.