Covid-19 representa riscos para gestantes e recém-nascidos


21 de maio de 2021 - , ,


Foto: Governo de São Paulo.

Mulheres gestantes que testam positivo para infecção pela covid-19 possuem mais chances de desenvolver complicações durante a gravidez, mesmo com a ausência de comorbidades. Foi o que apontou o estudo “Maternal and Neonatal Morbidity and Mortality Among Pregnant Women With and Without COVID-19 Infection: The INTERCOVID Multinational Cohort Study”, publicado em 22 de abril no periódico Jama Pediatrics.

“Chama a atenção o risco de morte materna, que foi 22,5 vezes maior nas gestantes infectadas. Mortes essas concentradas em regiões de poucos recursos prontamente disponíveis” afirma a supervisora do estudo no Brasil e professora do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria Albertina Santiago Rego.

A pesquisa determinou que, embora 59,2% dos casos diagnosticados fossem assintomáticos, e sem comorbidades, tiveram um risco muito mais alto de evoluir com pré-eclâmpsia ou eclâmpsia ─ complicação grave da gravidez, caracterizada por episódios repetidos de convulsões, seguidos de coma, e que pode ser fatal se não for tratada imediatamente ─, infecções graves, admissão em unidades de terapia intensiva, evolução para o parto pré-termo espontâneo ou por indicação médica, além de morte materna.

Estudo foi publicado em uma das mais importantes revistas científicas. Imagem: captura de tela do periódico JAMA.

Mulheres grávidas com diagnóstico de covid-19 que apresentavam sobrepeso ou tinham diabetes, doenças cardíacas, hipertensão ou doenças respiratórias crônicas tinham quase quatro vezes mais chances de desenvolver pré-eclâmpsia, segundo resultados do estudo.

Outro resultado importante encontrado pelo estudo foi o de que 12,1% dos recém-nascidos com mães infectadas por covid-19 testaram positivo para a doença, a maior parte nas primeiras 48h de vida. Embora o estudo não tenha encontrado qualquer evidência de que o aleitamento materno tivesse relação com o contágio, a professora Maria Albertina Rego afirma que os resultados apontam para uma possível associação do parto cesáreo a um risco aumentado de infecção no recém-nascido.

“A mensagem científica de maior relevância é a magnitude do risco aumentado de evolução para formas graves da doença em gestantes infectadas e nos resultados perinatais desfavoráveis em seus recém-nascidos”, conclui a especialista.

Prioridade

De acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a COVID-19, as gestantes foram incluídas entre os grupos prioritários para vacinação. “Em potencial, a criança também estará protegida até os primeiros meses de vida. Mas vigilância e acompanhamento longitudinal, de eventos adversos e também de proteção, precisam ser monitorados: segurança, imunogenicidade e eficácia”, afirma Maria Albertina.

Para além da vacinação, a professora recomenda que as gestantes sejam tratadas com prioridade na Atenção Primária à Saúde e nos hospitais, sobretudo quando exista a confirmação de infecção pelo covid-19. Ela reforça ainda as diretrizes de prevenção da Organização Mundial de Saúde (OMS), incluindo a higienização das mãos, o uso de máscaras e a prática do distanciamento social.

O Intercovid

Coordenada pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, a pesquisa foi realizada de março a outubro de 2020 em 43 instituições de 18 países: Argentina, Brasil, Egito, França, Gana, Índia, Indonésia, Itália, Japão, México, Nigéria, Macedônia do Norte, Paquistão, Rússia, Espanha, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. Esse estudo compõe um dos braços do INTERGROWTH-21st, projeto de saúde perinatal.

No Brasil, o estudo foi realizado no Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão, em São Luís, pela equipe de pesquisa da neonatologista Marynéa Vale. Além da coordenação nacional, a Faculdade de Medicina da UFMG dá apoio ao estudo com monitoramento da literatura científica dos efeitos da covid-19 em perinatologia e neonatologia.

Participaram do estudo 2.130 mulheres, 706 das quais foram diagnosticadas com covid-19. Delas, quase 60% apresentavam-se assintomáticas. Seguindo a metodologia do estudo, também foram recrutadas 1.424 controles.

Gravidez e planejamento reprodutivo na pandemia

Ainda no assunto de gestação e covid-19, o Saúde com Ciência apresentou, de 10 a 13 de maio, o programa Gravidez e planejamento reprodutivo. As quatro faixas abordam a gestação em meio à pandemia, vacinação e gravidez, planejamento gestacional e congelamento de óvulos.

Para conferir o programa, clique aqui.