Delirium é sinal de alerta para idosos internados


14 de junho de 2017


Risco é maior para pacientes internados em UTI

Ives Teixeira Souza*

 

Quadro confusional em idoso é sinal de alerta. Foto: reprodução Pixabay

Situação comum em idosos internados no Brasil, o delirium é uma síndrome caracterizada por um estado confusional agudo, que ocorre comumente em idosos, principalmente durante internações hospitalares, e pode estar relacionada a várias causas.

De acordo com a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Maria Aparecida Bicalho, a confusão mental pode ser desencadeada por diversas situações clínicas, especialmente em idosos que apresentam doenças prévias que comprometem o sistema nervoso central. Mesmo em casos iniciais ainda não diagnosticados.

“Normalmente o idoso fica confuso só por estar em uma unidade hospitalar, mas inúmeros medicamentos podem provocar confusão mental, além de atos anestésicos e cirúrgicos, a presença de distúrbios endócrino-metábolicos, as descompensações da diabetes melitus, bem como de outras doenças crônicas, e os distúrbios hidroeletrolíticos, notadamente a desidratação”, explica.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de idosos do país mais do que dobrou nos últimos 20 anos, o que, segundo a professora Maria Aparecida, chama a atenção para a necessidade de melhorar os serviços de saúde a essa população, com o objetivo de garantir mais autonomia e a manutenção da funcionalidade além de uma maior expectativa de vida.

Diante disso, quando são internados os idosos necessitam de um cuidado especial da equipe médica, que precisa ficar atenta para as diversas situações que podem levar ao agravamento do quadro do paciente.


Diagnóstico

A professora explica que, com o envelhecimento, a reserva cognitiva – capacidade do cérebro de lidar com lesões – fica mais limitada, o que pode favorecer o desencadeamento da síndrome. Segundo a professora, os sintomas apresentados vão desde a agitação motora, com perda de noção espaço-temporal até o rebaixamento sensorial, com respostas mais lentas aos estímulos.

Maria Aparecida lembra que a síndrome pode indicar a presença de uma infecção no indivíduo idoso. “O paciente idoso muitas vezes não tem febre, ou tosse durante uma infecção respiratória, mas começa a ficar mais confuso, a falar frases desconexas, a não saber se está de o dia ou a noite”, exemplifica.

Prevenção e cuidados
Uma das medidas pra evitar esse quadro de risco é não utilizar medicamentos que sedam o paciente, o que pode ser determinante para a piora do quadro confusional. O uso de sedativos determina que a síndrome seja pouco diagnosticada nas UTIs. Entretanto, como lembra Bicalho, em circunstâncias com risco para o paciente e para as pessoas próximas, quando o paciente apresenta agitação excessiva é necessário utilizar medicações do grupo dos antipsicóticos.  “O paciente corre risco de cair, de se machucar, retirar o soro, agredir pessoas. Às vezes tratar esse quadro é prioridade por causa dos riscos que isso leva para o paciente e pessoas próximas”, conta.

Como destaca a professora, é preciso tentar tornar o ambiente menos hostil possível para poder manter a capacidade sensorial do paciente. Para ela, as medidas mais eficazes são simples e de baixo custo, sendo a família uma importante aliada nesse processo. “Se a pessoa vai melhorando e ela acorda e vê um rosto familiar é diferente de ver um estranho na sua frente.” Na UTI, principalmente, é preciso reorientar o paciente. “Informar as horas, ter um relógio para o paciente saber se é dia ou noite, ter uma janela quando possível, evitar determinados medicamentos, cuidar da hidratação desse paciente, tirar ele do leito, andar, sentar, colocar numa cadeira, trazer os óculos”, orienta a professora.

Delirium e demência
Em ambos os casos, de demência e delirium, o paciente pode apresentar confusão mental aguda, o que pode tornar difícil a diferenciação no diagnóstico, especialmente quando não se conhece a história prévia do paciente.

A professora Maria Aparecida aponta alguns sinais que ajudam a distinção: “quando há delirium o paciente alterna períodos de melhora ou piora (flutuação). Existe uma tendência à melhora do estado confusional com o tratamento específico da causa, como infecção”. Já a demência, segundo ela, é um processo mais crônico, em que o paciente piora, geralmente, de forma gradativa e evolui com quadros de confusão mental.  “Porém pode haver uma piora súbita do quadro confusional, que é quando se manifesta o delirium”, alerta.

A professora Maria Aparecida Bicalho afirma que o quadro confusional comumente apresenta curta duração, mas pode ter uma duração prolongada e persistir durante meses. Ela também lembra que, para um diagnóstico seguro, é importante conhecer o histórico do paciente, sendo a presença do acompanhante fundamental para informar se os sintomas da confusão mental existiam anteriormente, ou se são decorrentes de um quadro agudo.

Perigo em UTI
O risco de delirium aumenta quando o paciente se encontra na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). De acordo com uma pesquisa realizada pelo Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor), em parceria com a Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, o problema afeta 31,8% dos pacientes de UTI, sendo que o índice de mortalidade é 2,19 vezes maior para os pacientes que evoluem com esta síndrome.

Redação: Ives Teixeira Souza* – estagiário de jornalismo
Edição: Mariana Pires