Dependência química: transtorno ou doença?

Tema do podcast da semana é um dos maiores problemas de saúde pública do país, a dependência química, que afeta mais de 6% da população brasileira.


26 de junho de 2023 - , , ,


De acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 12 milhões pessoas no Brasil lidam com algum tipo de dependência química. Apenas em 2021 o SUS registrou mais de 400 mil atendimentos para doenças e transtornos de saúde mental desenvolvidos em função do uso de drogas e álcool. Mas como classificar a dependência química: transtorno ou doença? E qual a diferença entre os termos?

Segundo o professor do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFMG e convidado do Saúde com Ciência dessa semana, Frederico Duarte Garcia, a dependência química é uma verdadeira doença. Isso porque, de acordo com ele, é possível identificar uma lesão no circuito recompensa do cérebro causada pelo uso dessas substâncias.

“Esse circuito faz três coisas: ele controla a nossa impulsividade, controla nosso foco atencional e, evocando memórias, reativa um mecanismo de procura atencional e de descontrole pela droga. Então, esse circuito é bem conhecido, o que nos permite dizer, diferente de outros casos de saúde mental em que a gente conhece menos o circuito: a dependência química não é um transtorno, é uma verdadeira doença, porque causa uma lesão”.

Professor Frederico Duarte Garcia

Esse é, segundo o professor, o fator determinante para a diferenciação. Doenças, do ponto de vista de nomenclatura, causam lesões no corpo do paciente. Ele afirma que, hoje, o funcionamento da dependência no cérebro e sua relação com o circuito recompensa no cérebro a torna um dos problemas de saúde mental mais bem compreendidos pela medicina moderna.

Recuperação da lesão

Ainda de acordo com o professor Frederico Garcia, o tratamento da dependência química é de alta complexidade. “Porque estamos falando de um cérebro que sofreu uma lesão, que sofreu modificações que vão ter uma duração muito grande, o que faz com que esse tratamento seja um tratamento de longo prazo”, explica ele.

Uma das abordagens envolvidas, ele afirma, é o afastamento gradual do paciente da substância da qual ele é dependente. Isso porque é necessário que os intervalos de tempo entre a ativação do circuito lesado pela doença aumentem, para que o cérebro tenha tempo entre uma recaída e outra e seja capaz de recuperar, ao menos em parte, o circuito recompensa danificado pelo uso da substância.

Além de se recuperar do dano cerebral, o intervalo gradualmente maior também permite ao paciente recuperar os lados sociais e psicológicos que, na maioria das vezes, também são prejudicados durante a dependência química. Nesse ponto, uma abordagem multifocal, que envolva a redução de danos, o acompanhamento psicossocial e também o apoio de entes queridos e pessoas próximas ao paciente são fundamentais à recuperação do indivíduo e à sua reinserção social.

Saúde com Ciência

No programa de rádio Saúde com Ciência desta semana, vamos conversar sobre a dependência química. Falaremos sobre o conceito de dependência e o efeito que as drogas têm no cérebro e nas vidas dos pacientes. Além disso, também abordamos as formas de tratamento da dependência e o papel da saúde pública e dos fármacos disponíveis no suporte a esse tratamento.

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.