Descoberta de gene abre portas para prevenção e cura

Tema será discutido no Simpósio Franco-Brasileiro sobre Audição


22 de novembro de 2019 - , , , , , ,


Metade da população mundial tem perda auditiva após os 75 anos de idade, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). E pelo menos 30% apresentam essa perda após os 65 anos.  No entanto, a surdez natural ao envelhecimento poderá não ser mais uma realidade para os idosos do futuro. Pelo menos não na mesma faixa etária. É que o ponto de partida para retardar esse processo já foi dado pela ciência, que conseguiu identificar genes relacionados a perda auditiva neurossensorial adquirida com o envelhecimento – a surdez da idade.  

A descoberta possibilita o desenvolvimento de terapias genéticas capazes de transferir material genético que previna ou, até mesmo, cure o problema em idosos com alguma suscetibilidade genética. O achado é resultado de estudo do professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Joel Lavinsky, em colaboração com a University of Southern California, nos Estados Unidos.

Nos dias 28 e 29 de outubro, o professor estará na Faculdade de Medicina da UFMG para ministrar a palestra “Arquitetura Genética da Função Sináptica Coclear nas Formas Comuns e Complexas de Surdez Neurossensorial”, durante o 2° Simpósio Franco-Brasileiro de Audição. Na ocasião, ele abordará como os genes participam da perda da audição nas formas comuns de perdas auditivas, entre outros assuntos.

Para a reportagem, o professor Joel Lavinsky explica que a perda neurossensorial da audição é causada por problemas na parte interna da orelha (cóclea), ou nervo auditivo. O tipo mais comum é a surdez por envelhecimento, adquirida por combinação de fatores ambientais e genéticos.  A reviravolta nessa história é a descoberta do gene neuropilina-1, crucial para o desenvolvimento da perda auditiva em idosos.  A descoberta é a chave para a terapia genética e a cura da surdez na velhice.  

“O que a gente consegue com essa informação, pelo menos por enquanto, é saber que existe uma predisposição com a idade. Futuramente, a gente vai poder identificar pessoas com essa predisposição genética, acompanhá-las de perto para interferir de forma precoce e até sugerir terapias genética”, antevê Lavinsky.

Excesso de ruído

Além da descoberta do neuropilina-1, o professor Joel Lavinsky é autor de estudo que descobriu o gene responsável pela perda auditiva neurossensorial por ruído excessivo, a segunda causa mais comum desse tipo de surdez.

A identificação do Nox3, gene da surdez por ruído, também permite conhecer precocemente os indivíduos com maior risco.

“A descoberta fornece informações que são mais precisas para identificar se o indivíduo tem susceptibilidade de perda de audição com a exposição de ruído, se ele tem essa predisposição genética. E se eu sei dessa alteração, posso indicar a ele, por exemplo, a não exceder determinadas funções no trabalho que posam estar relacionadas a exposição ao ruído”, avalia o professor.

Perda auditiva neurossensorial

Além da idade e exposição ao ruído, a surdez neurossensorial pode ser determinada por outros fatores, como diabetes e uso de antibióticos. “Alguns antibióticos têm como efeito colateral a perda auditiva. Mas é um efeito que acontece em percentual muito pequeno”, pondera Lavinsky.

Esse tipo de surdez pode ocorrer de forma progressiva e, por isso, é mais difícil perceber que está se experimentando essa condição. Os sinais mais comuns são a dificuldade de entender palavras em ambientes um pouco mais ruidosos, presença de zumbidos e, com a evolução do quadro, o aumento da dificuldade de compreender sons e palavras.

Na maior parte dos casos, a perda auditiva neurossensorial é irreversível, o que significa que a audição normal não será recuperada. No entanto, ela pode ser melhorada com o uso de aparelhos auditivos ou implante coclear, dependendo do grau de surdez. E, futuramente, com terapias genéticas.

O Simpósio

A segunda edição do Simpósio Franco-Brasileiro sobre Audição é uma promoção da Faculdade de Medicina da UFMG em parceria com Universidade Clermont-Auvergne, da França, e será realizado nos dias 28 e 29 de novembro, trazendo como tema “genética, cognição e tecnologia”. Sua programação conta com pesquisadores de renome nacional e internacional em palestras, mesas-redondas, workshops e outras apresentações.

As inscrições ainda estão disponíveis pelo site.

O evento é voltado aos estudantes e profissionais das áreas de Saúde, como otorrinolaringologistas, geriatras, pediatras, fonoaudiólogos, audiologistas, especialistas em linguagem, além das áreas de Educação e Engenharia ou demais interessados pelo assunto.

Confira a programação aqui.