Desenvolvimento da anorexia vai além da obsessão pelo corpo perfeito


29 de novembro de 2018


*Carol Prado

A anorexia é um transtorno alimentar que vai além do apelo ao corpo magro e que se enquadre nos padrões de beleza construídos socialmente. Embora essas sejam as causas mais lembradas quando se fala sobre o assunto, outros fatores também podem levar ao desencadeamento da doença. A perda de um ente querido, separação dos pais, término de relacionamento, fracasso escolar, entre outras questões psicológicas, podem provocar fragilidades e contribuir para o desenvolvimento da doença.

Nove em cada dez pacientes com anorexia são mulheres, de acordo com dados do Grupo de Apoio dos Distúrbios Alimentares. Foto: Carol Morena.

De acordo com o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Henrique Oswaldo, na maioria dos casos, um transtorno alimentar está relacionado a um fator desencadeante. “É preciso trabalhar com uma ‘história clínica’, que quase sempre tem um desencadeamento associado a algo na vida desses pacientes”, explica.

Ele acrescenta que a recusa a se alimentar é componente fundamental do ponto de vista psíquico. “A ‘recusa do que vem do outro, do que é oferecido pelo outro’. Como há ambientes e culturas familiares onde a única forma de demonstrar afeto é através da comida, não se alimentar seria o equivalente a ‘recusar o amor’”, completa.

Sinais

Os sinais da doença, por outro lado, são de fácil identificação. “A pessoa não come junto à família, você não a vê comer. Existe uma angústia relacionada à alimentação, além de isolamento social. Além disso, a pessoa emagrece muito, perde vitalidade e musculatura”, pontua o especialista.

A doença é mais comum entre os adolescentes, na faixa dos 13 aos 17 anos. Entretanto, têm-se percebido um aumento de casos em outros grupos etários  “Em adultos, a anorexia geralmente está associada a alguma comorbidade psiquiátrica, ou seja, associação de sintomas psiquiátricos”, esclarece Henrique Oswaldo.

Menorreia

Apesar de estar presente em diferentes grupos etários, no longa ‘O mínimo para viver’, lançado no último ano pela Netflix, é uma jovem que luta contra a anorexia. O filme, dirigido por Marti Noxon, mostra a trajetória de Ellen e outros jovens enquanto internados em uma clínica de reabilitação.

Em uma das cenas do longa, Ellen se defende ao ser questionada sobre a sua última menstruação: “Eu não me sinto nada doente, sabia? Se eu quero ser magra, isso não é bom para a saúde?”, diz. O professor da Faculdade de Medicina esclarece que a menorreia, ou seja, interrupção da menstruação, é um critério importante na caracterização e diagnóstico do paciente.

Essa interrupção é perigosa, pois pode prejudicar o funcionamento do sistema imunológico. “É preciso uma boa nutrição para que o sistema imunológico funcione de forma adequada. O paciente anoréxico é suscetível a várias outras doenças devido a baixa imunidade”, comenta o professor.

A perda óssea é outra consequência da menorreia. Segundo o especialista, em casos mais graves da doença, o paciente pode desenvolver até osteoporose precoce. “Inclusive podem ocorrer fraturas patológicas, ou seja, fraturas em ossos fragilizados onde não há evidência de trauma”, completa Henrique  Oswaldo.

Tratamento

Para o professor da Faculdade de Medicina, é importante que durante o tratamento o paciente se sinta acolhido e não se sinta culpado. Diversas estratégias podem ser usadas no acompanhamento médico. “Se for um caso mais leve, pode-se levar o tratamento mais no campo do conselho, da observação clínica. Nos casos em que existem doenças psiquiátricas, como uma depressão, ansiedade entre outros, associamos ao tratamento psiquiátrico, que vai depender do diagnóstico do paciente”, conclui.

*Carol Prado – estagiária de Jornalismo

Edição: Karla Scarmigliat