Desigualdade social aumenta risco de gravidez na adolescência

Na semana dedicada à prevenção da gravidez na adolescência, de 1º a 5 de fevereiro, programa de rádio Saúde com Ciência mostra diferentes realidades de uma gravidez precoce e seus impactos


01 de fevereiro de 2021 - ,


A gravidez precoce muda a realidade das adolescentes pelo Brasil, com impactos que podem ser sentidos por toda a vida. Mas a percepção desses impactos não é igual para todas as jovens. Algumas até enxergam esse acontecimento de maneira mais positiva, como uma forma de criar novas perspectivas para a vida na ausência de incentivo ao estudo e profissionalização. E quanto maior for a desigualdade social, mais presente estará a gravidez na adolescência.

De acordo com dados do IBGE, as maiores taxas de gravidez na adolescência então entre jovens de 10 a 19 anos mais pobres e com menor escolaridade. Para traduzir ainda mais essa realidade em números, meninas com menores condições socioeconômicas têm cinco vezes mais chances de engravidar do que as adolescentes mais abastadas.

“Em determinados locais, a gravidez vem como um ganho para uma menina que está sem perspectivas de um futuro palpável, então é muito comum trabalhar com uma adolescente grávida, que ao ser perguntada sobre a escolaridade, fala que já estudou e se formou no ensino médio e que vai parar por ali”,

c onta a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Patrícia Gonçalves.

Além disso, a falta de conhecimento sobre o uso de métodos contraceptivos e de como adquiri-los e o acesso precário a esses métodos em algumas regiões contribuem para esse cenário, no qual um a cada cinco bebês no país são filhos de mães adolescentes. A repreensão da família também pode ser um agravante.

“Muitas vezes os pais falam para a menina que ela não pode engravidar, mas se eles acharem um anticoncepcional em casa, a coisa vai ficar feia, porque a filha não pode ter relação sexual”, observa a professora. Segundo ela, esse comportamento impede que os jovens tenham uma vida sexual mais responsável.

Saúde com Ciência aborda o tema da gravidez na adolescência. Confira aqui

Impactos

Além de serem as que mais engravidam, as adolescentes com menos condições socioeconômicas são as que mais vão sofrer com os impactos de uma gravidez. Isso porque, de acordo com a especialista, nas camadas com poder aquisitivo maior, é um pouco mais esperado a jovem tenha maior compreensão sobre esse processo, bem como maior apoio social e da família para continuar a se desenvolver e prosseguir nos estudos.

Dessa maneira, a gravidez acaba por reproduzir as desigualdades sociais, além das de gênero, uma vez que as meninas são mais prejudicadas que os adolescentes que se tornam pais.

De acordo com relatório apresentado pelo Organização das Nações Unidas (ONU) em novembro do ano passado, as mães adolescentes tendem a abandonar a escola para criar os filhos, o que significa uma maior dificuldade para estudar e encontrar um emprego bem remunerado. Quase metade das mães com idades entre 10 e 19 anos se dedicam exclusivamente às tarefas domésticas e têm três vezes menos oportunidades (6,4% contra 18,6%) de conseguir um diploma universitário do que aquelas que adiaram a maternidade.

Para a professora da Faculdade de Medicina, Patrícia Gonçalves, a educação sexual e o empoderamento das jovens para que criem novas perspectivas sobre o futuro são importantes para a redução da alta taxa de natalidade entre adolescentes.

“É uma situação complexa, que não pode passar só pela família, tem que passar pelo estado e pela escola para que essa realidade seja transformada”, enfatiza Patrícia.

Sem uma educação sexual seja na escola, nos serviços de saúde ou em casa, a reincidência da gravidez precoce pode acontecer. No Brasil, essa reincidência é em torno de 20%. Por isso, a especialista defende amplo trabalho de educação e investimentos para mudanças na sociedade e para mostrar para essas adolescentes o que muitas vezes a própria família não enxergam: que elas podem ir mais longe.

Estou grávida, e agora?

 O que a adolescente deve fazer quando descobre a gravidez? E por que esse é um problema de saúde pública? A resposta para essas e outras perguntas você confere no programa de rádio Saúde com Ciência desta semana. Acompanhe a programação:
-> Grávida. E agora?
-> O papel da família
-> Educação sexual nas escolas
-> Riscos de uma gravidez precoce
-> Diferentes realidades de uma gravidez precoce

Sobre o programa de rádio

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify