DIU hormonal não aumenta o risco de trombose e reduz o volume do sangramento uterino
Pesquisa da UFMG aponta que o método contraceptivo pode ser a melhor opção para mulheres com risco de tromboembolismo
03 de junho de 2024 - anticoncepcional, métodos contraceptivos, Pesquisa, Saúde da Mulher, tromboembolismo, UFMG
*Vitor Pepino
Alguns métodos contraceptivos estão associados ao risco de tromboembolismo venoso, como os contraceptivos orais combinados (pílula anticoncepcional). Porém, segundo o estudo revisional da pesquisadora Júnea Chagas, mestre em Saúde da Mulher, pelo Programa de Pós Graduação da Faculdade de Medicina da UFMG, os métodos de progestagênio isolado não aumentam o risco de trombose e reduzem o volume do sangramento uterino, sendo uma boa opção para melhorar a qualidade de vida das pacientes.
Evidências científicas demonstram que o SIU-LNG, conhecido como DIU Hormonal, está associado a reduções de até 90% das perdas menstruais em mulheres saudáveis. Segundo a pesquisadora, “grande parte dos estudos sobre contracepção excluiu mulheres com fatores de risco significativos para trombose, como o antecedente pessoal de trombose venosa, criando uma coorte “saudável”. Olhar para um outro recorte populacional sensível à trombose ajuda a orientar o trabalho de profissionais que atuam na saúde da mulher”, afirma a pesquisadora.
A tese de mestrado defendida revisou, de maneira sistemática, as evidências disponíveis sobre a melhoria da qualidade de vida em mulheres com passado de tromboembolismo venoso que usam SIU-LNG para anticoncepção.
Ainda que as evidências disponíveis, nesta população, sejam poucas, a Organização Mundial da Saúde (OMS), em seus critérios de elegibilidade médica para contraceptivos, define o dispositivo intrauterino hormonal como categoria dois, aponta Júnea Chagas. “Uma condição na qual os benefícios do uso do método superam os riscos teóricos ou comprovados em mulheres com episódios tromboembólicos prévios. Assim, o uso do SIU-LNG é mostra-se apropriado para mulheres predispostas à trombose que desejam contracepção”, explica a pesquisadora.
Tromboembolismo pode gerar sangramento uterino graves e fatais
O tromboembolismo venoso é uma condição clínica que inclui a trombose venosa profunda e o tromboembolismo pulmonar. É uma doença com incidência anual estimada de dois casos por 10.000 mulheres em idade reprodutiva. Apesar da baixa incidência descrita, pode causar morbidade e mortalidade significativas. A terapia anticoagulante oral é o principal tratamento para complicações trombóticas, sendo o sangramento uterino, que varia de episódios menores a sangramentos graves e fatais, uma complicação frquente, podendo acometer até 70% das mulheres que recebem anticoagulação oral.
Atualmente no Brasil, a taxa de gestação não planejada é de 55,4% e em contrapartida o uso de anticoncepcionais pelas mulheres chega a 80%. A possível explicação para essa diferença é o baixo acesso aos de contraceptivos de longa duração (LARCs). De acordo com dados do Ministério da Saúde, apenas 2% das mulheres brasileiras usam DIU ou implante contraceptivo. A dificuldade para aumentar a adesão das mulheres aos métodos mais eficazes inclui desinformação, falta de equipamentos e treinamento dos profissionais de saúde, segundo a pesquisadora do estudo.
O DIU hormonal é um método reversível, contendo apenas progestagênio, com eficácia comparável à da cirurgia de esterilização (Índice de Pearl: 0,1), que não compromete a fertilidade futura. Ele é aprovado para o tratamento de sangramento uterino anormal, servindo como uma opção para reduzir o sangramento em mulheres com alterações no fluxo menstrual, como é o caso de muitas pacientes anticoaguladas.
* Vitor Pepino – estagiário de Jornalismo
Edição: João Motta