DIU na adolescência?

Método é recomendado para evitar gravidez não planejada.


01 de fevereiro de 2019



Método é recomendado para evitar gravidez não planejada. Semana da Prevenção da Gravidez na Adolescência inicia em 1º de fevereiro.

*Guilherme Gurgel


Dispositivo intrauterino (DIU). Foto: Ministério da Saúde

Insegurança, medo, ansiedade, estresse. A notícia da gravidez não planejada na adolescência quase sempre é acompanhada por preocupações. Isso porque a chegada de uma nova vida envolve mudanças que vão desde aspectos psicológicos até a adoção de medidas para evitar riscos de complicações, que é maior entre essas gestantes. Mas, se já existem tantos métodos para prevenir a gravidez, como o problema pode continuar atual? Para a professora do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Ana Luiza Lunardi, a resposta envolve a escolha do método contraceptivo.

“A educação sexual é muito importante, mas uma ação mais efetiva para reduzir esses números são os métodos contraceptivos, principalmente os de longa duração, como o dispositivo intrauterino (DIU)”, argumenta a professora.  A Organização Mundial de Saúde, inclusive, já recomenda que a primeira opção oferecida às adolescentes seja de métodos como o DIU de cobre, que é ofertado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

No entanto, esse método ainda é pouco utilizado no Brasil. “É necessário desmistificar esse dispositivo, inclusive para as mães das adolescentes”, defende Ana Luiza. Embora as pílulas anticoncepcionais de uso diário sejam mais difundidas e de fácil acesso, o alto índice de esquecimento aumenta o risco de gravidez precoce.

“Quando comparado a outros métodos anticoncepcionais, como pílulas, o uso do DIU representa risco 22 vezes menor de uma gravidez não planejada. Isso acontece porque as pacientes, principalmente as adolescentes, podem esquecer de tomar o remédio ou tomar no horário errado, diminuindo sua eficácia”, informa a professora. Segundo a ela, a gravidez não planejada na faixa etária de 12 a 21 anos vem aumentando.


É importante ressaltar que o DIU é um método eficaz na prevenção da gravidez, porém não previne a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. “Por isso, é necessário também o uso de preservativo”, alerta Ana Luiza Lunardi.

O DIU é um dispositivo feito de um plástico mole e flexível. Existem vários tipos: alguns são enrolados por um fio de cobre bem fino, que é o tipo oferecido pelo serviço público de saúde. Este aparelho é colocado dentro do útero da mulher, através da vagina, para evitar a gravidez. (Fonte: Ministério da Saúde)

Desmistificando o método

Estudo desenvolvido pelo Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG identificou que além da falta de informação por parte das pacientes, existem muitos ginecologistas que ainda têm preconceitos sobre o uso do DIU. “Alguns acreditam que pode ser de difícil inserção em adolescentes ou até não ser recomendado para quem não teve filhos, mitos que não representam a realidade”, explica a professora Ana Luiza Lunardi.

Mas entre as adolescentes, o DIU já é o preferido. De acordo com a professora, o Projeto CHOICE, desenvolvido pela Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, apresentou a um grupo de pacientes todas as opções de métodos contraceptivos disponíveis e elas puderam escolher quais usariam. “No grupo de adolescentes, mais de 70% escolheram os métodos de longa duração. Isso demonstra que quando as pacientes tem o conhecimento, não há resistência ao método”, aponta.

Mas nem tudo é perfeito. Entre as desvantagens do dispositivo intrauterino de cobre estão o aumento do fluxo menstrual e das dores da cólica em alguns pacientes. Ainda assim, a professora Ana Luiza Lunardi ressalta que esse é o método mais vantajoso para as adolescentes.

Além da educação sexual

A professora destaca a importância de abordar a prevenção da gravidez na adolescência para além da educação sexual. “O aspecto social é muito importante. Para uma menina que não tem acesso à educação, moradia e lazer de qualidade, muitas vezes, a falta de perspectiva na vida acaba por incentivar uma gravidez precoce”, reflete.

Em algumas culturas, é até mais comum a gravidez planejada na adolescência. “Muitas vezes, um contexto familiar muito ruim pode levar a adolescente procurar a gravidez como forma de sair de casa e alcançar um lugar mais protegido dentro de sua comunidade”, comenta a professora.

No entanto, nessa faixa etária a gestação é considerada de risco, com maior taxa de mortalidade materna e fetal ou neonatal. Os danos psicológicos também são maiores. “Nessa idade, ainda não existe a maturidade emocional para a maternidade. Normalmente, as adolescentes ainda lidam com o abandono do parceiro, que é comum”, analisa Ana Luiza.

De acordo com ela, é mais difícil para uma adolescente que teve uma gravidez não planejada voltar aos estudos ou se inserir no mercado de trabalho, por exemplo. Por isso, a professora ressalta que a contracepção é a oportunidade para que a mulher construa sua vida como quiser.

Observaped e prevenção da gravidez
O Observatório da Saúde da Criança e do Adolescente (Observaped) tem como um dos eixos a prevenção da gravidez na adolescência. O projeto, desenvolvido pelo Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, realiza ações educativas voltadas para a população sobre esse e outro temas relacionados à saúde da criança e do adolescente.

*Guilherme Gurgel – estagiário de Jornalismo

Edição: Karla Scarmigliat