Doenças neurológicas já afetam um bilhão de pessoas no mundo

Programa de rádio destaca as doenças mais comuns, como epilepsia e enxaqueca, bem como seus sintomas e formas de prevenção.


04 de abril de 2022 - , , , ,


*Maria Beatriz Aquino

Quando se pensa em doenças neurológicas, logo vem à mente condições crônicas como Alzheimer, Parkinson, entre outras demências. Mas existem vários outros tipos que não causam impactos tão severos no cérebro e também merecem atenção e cuidados. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que, atualmente, pelo menos um bilhão de pessoas no mundo convivem com algum tipo de doença neurológica. O programa de rádio “Saúde com Ciência” desta semana destaca algumas delas, que estão presentes na vida de muitos brasileiros, como a epilepsia, aneurisma cerebral e enxaqueca.

A convidada do programa é a neurologista e neurofisiologista clínica do Programa de Cirurgia de Epilepsia, do Hospital das Clínicas da UFMG, Ana Paula Gonçalves. Ela chama atenção para o fato de que a epilepsia já acomete 50 milhões de pessoas no mundo, segundo a OMS. O quadro é caracterizado por crises sem um fator desencadeante e, diferentemente do que se é idealizado, a condição reúne um conjunto de sintomas que podem se manifestar de diversas formas, mesmo tendo as crises convulsivas como sintoma principal.

“Na infância, ela pode provocar ausências e quietação, quando a criança fica paradinha e não responde; temos outras crises que vão provocar abalo somente nas pernas ou braços, além de eventos que aparecem e desaparecem, o que chamamos de paroxístico”, cita Ana Paula.

De acordo com a especialista, as pessoas mais idosas, devido ao envelhecimento cerebral, podem ter as crises com mais frequência. Mas isso não significa que os mais jovens que convivem com a doença não possam ter crises mais intensas e recorrentes. Ana Paula ressalta ainda que é possível levar uma vida normal e ter qualidade de vida desde que os cuidados e cautelas sejam seguidos.

“Tem pacientes que têm crise uma vez no ano, ou uma vez a cada dois anos, então são eventos esporádicos. É preciso tomar as precauções necessárias, em casos que envolvem risco de queda de altura e afogamento, por exemplo”, explica.

Quanto aos tratamentos, 80% dos diagnósticos são conduzidos à base de remédios que fortalecem os mecanismos estabilizadores da atividade elétrica cerebral. Mas quando é possível identificar previamente o foco que dá início às crises, é aconselhado uma proposta terapêutica associada à cirurgia para a remoção desse foco.

Além desses métodos, a dieta cetogênica também é vista como opção. Essa dieta consiste na restrição da ingestão de carboidratos. Porém, é rica em gordura, o que altera o PH do sangue e inibe as crises convulsivas.

Aneurisma Cerebral

Conhecido por seu fator hereditário, o aneurisma cerebral pode afetar, também, pacientes que já tenham histórico de doenças pré-existentes, como diabéticos, hipertensos, fumantes, alcoolistas e aqueles com colesterol descontrolado. Essa doença provoca a dilatação dos vasos cerebrais, o que pode ser silencioso. Em boa parte dos casos, as reações são sentidas quando há o rompimento e outras complicações.

Nesta situação, Ana Paula alerta que os pacientes se queixam de forte dor de cabeça, talvez a pior já sentida na vida.

“Ela começa de forma súbita, como um trovão, um relâmpago, é intensa, frequentemente associada à náusea, vômito e alteração visual”, descreve.

O tratamento pode variar de acordo com o estado do aneurisma no momento. Em situações de rompimento e sangramento, por exemplo, o paciente precisa ser submetido a uma neurocirurgia para clipagem. Esse procedimento é realizado para evitar que se tenha um novo sangramento. Mas caso o diagnóstico seja feito antes da ruptura, é possível acompanhar a evolução do aneurisma e, se necessário, fixar grampos e clipes que impeçam um rompimento futuro.

Uma curiosidade é que o corpo humano é irrigado por vasos sanguíneos que se estendem, em média, 160 mil quilômetros de comprimento que chegam até o cérebro. Mas segundo a especialista, pelo menos 5% da população tem malformação dos vasos cerebrais, o que pode agravar os riscos de aneurisma.

Enxaqueca

E por falar em dores de cabeça, a OMS estima que pelo menos 30 milhões de brasileiros sofrem de enxaqueca, outra doença neurológica e crônica. Mesmo sendo parecida com um dor de cabeça comum, algumas características típicas da enfermidade podem ajudar a identificá-la e diferenciá-la de outras dores. Por exemplo, podem ser observados sintomas como dores latejantes, que envolvem apenas metade da cabeça e, na maioria das vezes, associada à mal-estar, náusea e até vômitos.

Ana Paula Gonçalves reitera que alguns pacientes podem ter indícios antes mesmo da dor começar, o que ajuda na tomada de decisões do paciente para evitar as complicações da condição.

“Em torno de 30 minutos antes da dor de cabeça começar, ele pode ter sinais neurológicos como turvação da visão – que são aquelas luzinhas cintilantes –, algumas dormências e até dificuldade de fala”, relata.

Um chamado especial é feito às mulheres jovens, grupo de maior acometimento da doença, devido às questões hormonais. De acordo com Ana Paula, o estrogênio – hormônio feminino do ciclo menstrual – colabora para intensificar a dor durante o período pré-menstrual.

Mas se as dores não forem frequentes, mesmo com o diagnóstico da doença, o impacto pode ser menor e não há muito com o que se preocupar. Mas esse cenário é diferente quando as crises ocorrem semanalmente ou uma vez a cada 15 dias. Nesse caso, o tratamento exige o uso de medicamentos profiláticos, que atuam nos neurotransmissores e tornam o organismo mais resistente aos estímulos externos. Isso ajuda a evitar o estresse e falta de sono, diminuindo a frequência da dor.

Atividades físicas regulares também são fundamentais para maior eficácia do tratamento, somada a uma alimentação mais saudável. Vale ressaltar que indivíduos que sofrem com enxaquecas têm pré-disposição a sentir mais dores, ou seja, mesmo que uma vez curado da enfermidade, quando passam por um evento de estresse ou falta de sono, essa condição pode retornar.

Saúde com Ciência

Saúde com Ciência”  é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.