Doenças orgânicas podem desencadear quadros de delirium em idosos
A síndrome representa uma emergência na Geriatria, podendo ser a única manifestação de situações clínicas graves
03 de janeiro de 2019
A síndrome representa uma emergência na Geriatria, podendo ser a única manifestação de situações clínicas graves

O delirium é comumente associado a doenças neurológicas como Alzheimer, Parkinson, comuns em idosos. Foto: Pixabay
A confusão mental aguda ou delirium se refere a alterações no estado mental do indivíduo e ocorre com muita frequência nos idosos. Comumente associado a doenças neurológicas como Alzheimer, Parkinson e em outras demências, o sintoma pode ser uma manifestação de diferentes doenças orgânicas. Isto é o que explica a geriatra e professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG (CLM), Maira Tonidandel Barbosa.
A professora relata que o delirium é definido como uma síndrome cerebral orgânica caracterizada pela presença simultânea de perturbações da consciência, da atenção, da percepção, da memória e do pensamento, com alterações das emoções, do comportamento psicomotor e do ciclo sono-vigília. Maira aponta que nos idosos a síndrome geralmente está associada a doenças orgânicas. “O termo ‘doenças orgânicas’ se refere a problemas de natureza clínica, como infecções, distúrbios metabólicos, neoplasias, infarto, arritmias, doenças cardíacas descompensadas, entre outras, ou seja, doenças que não são de natureza mental, como esquizofrenia, por exemplo”, explica.
“Infecções, traumas, eventos clínicos agudos, uso ou abstinência de medicamentos ou até mesmo uma simples mudança de ambiente e privação sensorial (retirada de óculos, prótese auditiva) podem desencadear quadros de delirium em idosos”, continua a professora.
Segundo a médica, apesar de não ser o mais comum, o delirium pode também acontecer em pacientes lúcidos, independentes e em vida ativa. No entanto, as síndromes demenciais e parkinsonianas constituem os principais fatores de risco para a ocorrência dos estados confusionais agudos. “Os pacientes que possuem essas doenças, bem como os idosos mais fragilizados, com multimorbidades e em uso de muitos medicamentos são muito mais vulneráveis à ocorrência da confusão mental aguda ou delirium”, argumenta.
Causas e diagnóstico
A fisiopatologia do delirium ainda não é bem compreendida, especialmente em razão de sua natureza flutuante, transitória e de etiologia quase sempre multifatorial. Maira explica que o delirium pode ser hiperativo, caracterizado por sintomas como: agitação, atenção dispersa, alucinações, delírios e até agressividade, e o delirium hipoativo, caracterizado por apatia, sonolência e desatenção.
“Nos quadros hiperativos, com agitação psicomotora, a confusão mental fica muito evidente. No entanto, o delirium hipoativo tem um prognóstico ruim, pois é menos detectado pelos familiares e até mesmo pelos profissionais de saúde. Os seus sintomas são, muitas vezes, negligenciados ou até mesmo atribuídos erroneamente ao próprio envelhecimento, levando à detecção e abordagem tardias”, aponta.
A história clínica, assim como uma análise das flutuações de atenção e do nível de consciência, junto a exame físico e utilização de instrumentos de avaliação, auxiliam no diagnóstico diferencial do delirium. A professora Maira ressalta que o auxílio da família e pessoas próximas também é fundamental para o diagnóstico da síndrome. “A história e as devidas informações dos familiares e cuidadores são essenciais para determinar fatores importantes, como o curso dos sintomas, as oscilações dos níveis de consciência, de atenção e do sono, bem como outros sinais e sintomas das doenças que possam estar ocasionando o quadro (por exemplo febre, tosse, dor abdominal, síncope, dor precordial, etc)”, argumenta.
Riscos e tratamento
A médica aponta que a duração e a gravidade do delirium são variáveis, dependendo das causas, situações clínicas subjacentes e tratamentos instituídos. Maira alerta que os quadros confusionais agudos podem variar de leves a muito graves e prolongados e, portanto, representam riscos à vida do paciente. “O delirium apresenta altas taxas de morbi/mortalidade, agrava prognósticos, aumenta o tempo de hospitalização e ainda apresenta outros desfechos negativos aos idosos, como a redução de sua funcionalidade e de sua qualidade de vida”, demonstra.
A professora explica que o tratamento da síndrome varia de acordo com as possíveis causas subjacentes (tratamento de infecções, desidratação, cardiopatias, suspensão de medicamentos suspeitos, etc) e de sintomas mais graves. “Sintomas como agitação, alucinações e agressividade devem ser sempre abordados com medidas não-farmacológicas, ambientais e psicossociais. O tratamento farmacológico com antipsicóticos deve ser reservado aos casos com risco de segurança do paciente, cuidadores e equipe, com a menor dose possível e pelo menor tempo possível, já que podem agravar o quadro, prolongar o delirium e associar-se a prejuízos cognitivos posteriores”, conclui.