Dor na coluna pode ser sinal de doença reumática crônica


07 de maio de 2018


Espondilite anquilosante provoca dores na coluna principalmente no período da manhã e requer tratamento específico para melhor qualidade de vida do paciente

 

*Raíssa César

Dor na coluna lombar é o principal sintoma da doença. Foto: Carol Morena

Doença reumática inflamatória crônica que pode comprometer a coluna e articulações (juntas) de membros, como joelhos, tornozelos e ombros, a espondilite anguilosante (EA) é lembrada por entidades como a Federação Médica Brasileira e a Sociedade Brasileira de Reumatologia no dia 7 de maio, conhecido nacional e internacionalmente como o Dia Mundial da Espondilite Anquilosante.

Segundo a professora do Departamento do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina da UFMG, Cristina Lanna, o que caracteriza a doença é uma dor na coluna lombar, mais no período da manhã e da noite. “A pessoa acorda de manhã com dor e rigidez, tem dificuldade de ficar deitada e precisa levantar mais cedo da cama, porque o incômodo é muito grande”, explica.

A doença, que atinge mais homens que mulheres, em geral antes dos 40 anos, pode ainda ocasionar artrites (inflamação de articulações), entesites (inflamação de tendões quando eles se conectam aos ossos) e sacroiliíte (dor nas nádegas por causa da inflamação nas articulações sacroilíacas). Além disso, Cristina Lanna explica que a inflamação nos ligamentos da coluna pode causar, com o tempo, uma ossificação desses ligamentos. Isso leva a uma rigidez, conhecida como “coluna em bambu”.

A professora conta que existe um marcador genético associado à doença e uma predisposição de a doença ser passada de pais para filhos. “É frequente ver a doença em mais de uma pessoa da mesma família, o que chamamos de agregação familiar”, observa a professora.

De acordo com Cristina, em países do norte da Europa, 95% das pessoas com espondilite anquilosante têm esse gene marcador, o HLA-B27. Em Minas Gerais, uma pesquisa feita no ambulatório de Espondiloartrites do Serviço de Reumatologia do Hospital das Clínicas da UFMG, 66% das pessoas que têm a doença apresentaram o gene. A professora atribui a diferença de números à miscigenação no país, mas considera alta a relação que mais da metade das pessoas com a doença apresentam o gene.

Dificuldade de diagnóstico pode ser combatida
A dor na coluna lombar (lombalgia), principal sintoma da EA, presente em pessoas de diferentes idades, pode ser confundida com outras doenças, dificultando o diagnóstico precoce da espondilite anquilosante.

A professora orienta que as pessoas fiquem atentas às dores no período da manhã. “O que aponta para o diagnóstico é a característica da dor. Nesse tipo de lombalgia a dor ocorre pela manhã. O paciente acorda de madrugada e tem que se levantar porque sente dor”, diz. Para ela, isso é um sinal de alerta especialmente nos indivíduos com menos de 40 anos. “A dor lombar postural ou muscular comum melhora quando a pessoa se deita. No caso da espondilite anquilosante, a dor piora com o repouso prolongado”, adiciona.

Outros sinais que ajudam no diagnóstico é a presença de juntas inchadas e de uveíte, inflamação nos olhos que acomete 30% dos pacientes. O olho fica vermelho, dói, e a visão fica embaçada.

Nas pessoas que já têm predisposição genética, está demonstrado que a doença pode ser desencadeada por bactérias do intestino. A professora explica que a infecção intestinal se torna uma porta para a inflamação na coluna e nos seus ligamentos. “Nessas pessoas, predominam tipos de bactérias no intestino que produzem inflamação. Normalmente, o intestino tem uma barreira em sua parte interna que impede que essas bactérias intestinais (chamada microbiota intestinal) causem doenças. Essa barreira falha nesses indivíduos, o que pode estar ligado à existência do gene, provocando uma reação inflamatória crônica”, prossegue.

Prática de exercícios físicos
Cristina Lanna explica que o tratamento da doença deve aliar medicamentos e exercícios físicos. A professora afirma que o tratamento é permanente, com anti-inflamatório, imunossupressores e imunobiológicos, que melhoram muito a qualidade de vida desses pacientes, controlando a dor e a rigidez.

“Também é necessária a prática de exercício físico, como fisioterapia e natação, para treinar a musculatura da coluna”, destaca. “Quando o paciente não estiver sentindo dor, com a doença mais controlada, é recomendada também a prática de musculação, ioga, dança e pilates, por exemplo”, conclui.

 

*Redação: Raíssa César – estagiária de jornalismo
Edição: Mariana Pires