Drogas K: entenda os riscos à saúde

Erroneamente apelidada de maconha sintética, essa família de drogas sintéticas já causou 14 óbitos em penitenciárias do estado nos últimos 6 meses. Psiquiatra alerta para os riscos.


23 de maio de 2024 - , , ,


Entre dezembro de 2023 e abril de 2024, Minas Gerais registrou 14 óbitos por overdose de drogas K em penitenciárias do estado. De acordo com o professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da UFMG e convidado do Saúde com Ciência, Frederico Duarte Garcia, essa família de substâncias psicoativas, erroneamente apelidada por alguns de maconha sintética, age se ligando aos receptores canabinóides do cérebro e pode ter efeitos imprevistos.

Ele explica que as drogas K, assim como muitas das drogas sintéticas existentes hoje, foram desenvolvidas na tentativa de sintetizar em laboratório o efeito das drogas naturais (como a maconha ou os opióides) na tentativa de eliminar os fatores de complicação de produção. “Essas substâncias psicotrópicas são hoje bem conhecidas. Para evitar a inclusão na Lista F da Anvisa e ser considerado tráfico, eles têm feito variações. As drogas K são uma variação de substâncias que têm a capacidade de se ligar aos receptores canabinóides”, explica o professor.

A Lista F2 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é a lista que determina as substâncias entorpecentes e psicotrópicas de uso proscrito, ou seja, proibidas no Brasil.

O professor segue explicando que, apesar das drogas K se ligarem aos receptores canabinóides do cérebro, elas não são substancias canabinóides e não possuem nenhuma relação com a maconha. O apelido de “maconha sintética”, portanto, é equivocado.

Riscos

Um dos maiores riscos associados ao uso das drogas K está em sua imprevisibilidade. Isso porque, segundo o professor, as drogas são de fácil manufatura, podendo ser sintetizadas em laboratórios de fundo de quintal, sem muito controle sobre a mistura. Isso faz com que, ao consumir uma dose de droga K, o indivíduo não tenha ideia do que, exatamente, está usando.

É por isso, ainda de acordo com o professor, que a droga K é tão perigosa. Dependendo da mistura, uma única dose pode ser suficiente para desencadear uma dependência química ou, até mesmo, uma overdose. “O que também facilita a entrada dessas drogas em lugares onde há um controle maior de restrição desse tipo de substância. É o caso das penitenciárias, dos aeroportos, de algumas instituições onde há um controle mais estrito e as substâncias já conhecidas, como a cocaína, o crack ou a maconha são facilmente identificadas”, explica o professor Frederico Garcia.

“Esse é outro grande desafio: a gente não sabe exatamente como ela age. A gente tem receptor canabinóide no cérebro, que é o receptor CB2; e nos tecidos periféricos, o CB1. Os receptores que são específicos do cérebro vão causar uma alteração da percepção. Comparado aos canabinóides produzidos por plantas, esse efeito é muito mais potente, o que leva a essa percepção que as pessoas têm de que o usuário tem uma diminuição da consciência, que ele fica como se fosse um zumbi; ou sem conseguir expressar afeto; ou desconectado da realidade. Mas o que se tem observado é que há uma alteração de pressão do sistema cardiovascular. ”

Professor Frederico Duarte Garcia

O professor explica ainda que o uso prolongado de drogas K pode contribuir até para o aparecimento do câncer. Isso porque, de acordo com as autoridades, doses estudadas das drogas continham altas quantidades de solventes carcinogênicos. “Quando um paciente faz uma overdose dessas drogas, os centros de toxicologia e os serviços de emergência não têm conhecimento nenhum de qual é a sintomatologia, qual o quadro clínico que se pode esperar daquelas drogas”, continua o professor.

Saúde com Ciência

No programa de rádio Saúde com Ciência desta semana, vamos conversar sobre drogas sintéticas. Falaremos sobre as drogas K, as drogas baseadas em anfetaminas e outras substâncias. Abordaremos também a relação entre o uso de drogas sintéticas e a saúde mental.

O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelas principais plataformas de podcasts.