‘É falsa a crença que jovem não corre riscos com a covid-19’, diz infectologista

Professor Mateus Westin defende isolamento social para que país não tenha ‘explosão de casos’, tornando até mesmo essa medida pouco eficaz


02 de abril de 2020 - , , ,


Imagem: Tumisu por Pixabay 

Um jovem de 26 anos morreu com coronavírus, em São Paulo, nesta semana. De acordo com os pais, ele não tinha complicações de saúde e corria maratonas. Além dele, uma adolescente de 16 anos está entre as novas vítimas do coronavírus na França, de acordo com o governo. Julie, que não teve o sobrenome divulgado, era saudável e não estava no grupo de risco da covid-19. Nos últimos dias, uma mulher de 21 anos, no Reino Unido, sem doenças pré-existentes, também morreu, vítima da mesma doença. Esses e outros tantos casos alertam sobre a letalidade do coronavírus entre jovens. 

“É um erro e uma falsa crença [acreditar que pessoas com menos de 60 anos e sem outras comorbidades não correm riscos mais graves com a covid-19], uma vez que as estatísticas nos ajudam apenas a definir os grupos de maior risco e vulnerabilidade para o agravamento dessa condição”, explicou o professor Mateus Rodrigues Westin, do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, em entrevista ao programa Conexões, da Rádio UFMG Educativa, nessa terça-feira, 31.

Segundo Mateus Westin, estar fora do grupo de pessoas consideradas como as de maior risco para uma doença não é sinônimo de imunidade. Em caso de desenvolvimento da covid-19, assim como ocorre com toda condição infecciosa, há fatores de risco atrelados ao agravamento da doença: pessoas com mais de 60 anos que tenham outras comorbidades, principalmente doenças cardiovasculares, pulmonares e diabetes.

No entanto, de acordo com Mateus Westin, “isso não significa que, naquelas pessoas que não têm fatores de risco determinados ou não fazem parte de uma faixa etária de maior risco, a doença não possa evoluir também com gravidade.” 

O especialista lembrou que pesquisas publicadas sobre o novo coronavírus em diversos países afetados pela pandemia demonstram que “jovens, saudáveis, sem nenhuma comorbidade e que tenham perfil de atleta ou que façam atividade física também adquirem a infecção e são passíveis de [sofrer com o] agravamento”, mesmo que isso ocorra em uma frequência menor se comparada a outras faixas, especialmente aquelas consideradas como de maior risco.

Ele reforçou, ainda, a necessidade de o jovem se cuidar e seguir as orientações das autoridades de saúde, a fim de, em casos de menor gravidade ou até mesmo assintomáticos, não ser agente transmissor do vírus Sars-CoV-2. De acordo com o professor, o comportamento da doença entre jovens tem variado, de país para país. O que tem ficado evidente é que, quando a pandemia se torna um problema grande para o país e para os sistemas de saúde, “a população inteira se conscientiza e passa a tomar as precauções necessárias”, destacou.

Olhar para os exemplos de outros países e aplicá-los, lembrou o professor, pode contribuir para amenizar os impactos da pandemia no Brasil:

“O que precisamos aprender com a evolução recente da epidemia em outros países é que é melhor acreditar nos dados científicos precocemente e tomar as medidas de isolamento social e restrição de circulação de pessoas antes que a gente tenha uma explosão de casos, numa fase em que até mesmo o isolamento domiciliar passa a ser pouco eficaz”

Mateus Westin

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