Em meio ao ensino remoto, professores relatam experiências e ‘aulas inesquecíveis’

Campanhas promovidas pelo GIZ buscam valorizar o trabalho docente e estimular reflexões sobre o ato de ensinar


16 de outubro de 2020 - , , ,


Francisco Barbosa
Francisco Barbosa: sentir-se realizado com o sucesso dos alunos. Foto: Raphaella Dias / UFMG

O ato de ensinar carrega múltiplos sentidos. “É compartilhar sonhos e se sentir realizado com o sucesso dos alunos”, resume o professor Francisco Barbosa, que há 45 anos integra o quadro docente do ICB. Para a reitora Sandra Regina Goulart Almeida, o trabalho docente é, sobretudo, um aprendizado. “Toda nova turma traz um diálogo diferente e experiências distintas”, afirma a reitora, que ingressou na Faculdade de Letras em 1995. 

O “calouro” Frederico Lages, que iniciou apenas neste ano sua carreira na Faculdade de Odontologia, vê sua incursão pela sala de aula como um movimento quase natural. “Meus colegas sempre comentavam que eu tinha essa vocação para ensinar”, relata.

Os depoimentos de Francisco, Sandra e Frederico integram a campanha Ser professor, que estreou na semana do Dia do Professor (15 de outubro) nas redes sociais (YouTubeInstagram e Twitter) da Diretoria de Inovação e Metodologias (GIZ) da UFMG. Os oito primeiros vídeos já foram postados, e novas produções (quatro de cada vez) serão publicadas às terças e quintas-feiras.

Segundo a professora Maria José Flores, da Faculdade de Educação (FaE) e diretora do GIZ, 46 professores – entre docentes mais novos e veteranos –enviaram seus vídeos opinando sobre o que é ser docente e relatando os caminhos que os conduziram à carreira docente.

“Percebemos grande diversidade e riqueza de experiências. O material configura um retrato da docência na consolidação do ensino, em uma universidade comprometida com a qualidade, com o pensamento científico, com a reflexão, com a afirmação dos valores políticos e com o entendimento do que é uma instituição pública”, observa a diretora.

Os professores participantes, de acordo com Maria Flores, mostraram seu comprometimento com o valor da universidade como espaço democrático de relevância social. “É visível que são sensíveis quanto à dimensão afetiva no trato com os alunos, cientes de que tal aspecto é fundamental para a permanência dos estudantes, portanto, para a consolidação do direito à educação”, completou.

Segundo a diretora, a campanha Ser professor integra os esforços da UFMG de valorização da docência, reconhecimento simbólico e reverberação das ações dos profissionais. “Desde o início do ano, temos feito um movimento de encontro dos professores, de reflexão sobre o valor do ensino e o lugar que a docência ocupa nas atividades cotidianas das instituições de ensino superior”, relata.

Em março, o GIZ e a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) realizaram uma atividade voltada para os docentes recém-admitidos na UFMG, em que foi apresentada a estrutura de gestão do ensino na universidade. O evento reuniu 150 novos professores, que foram convidados a falar sobre o significado da atividade. Seus depoimentos e fotografias estão sendo expostos em um painel no site do Giz.

Desafio sem precedente

Maria José Flores:
Maria José Flores: demanda inédita. Foto: Foca Lisboa / UFMG

No contexto da pandemia do novo coronavírus e da impossibilidade de realização de aulas presenciais, os professores foram desafiados, segundo Maria Flores, “de maneira nunca antes vista”, a oferecer respostas eficientes às novas condições de ensino proporcionadas pelo regime remoto.

“Foi preciso que eles se debruçassem sobre novas práticas de ensino, para dar conta da demanda inédita. Vimos um movimento muito bonito, intenso e forte nesse sentido”, observa. 

O GIZ acolheu os professores por meio do Programa de Integração Docente, que também envolve o Centro de Apoio à Educação a Distância (Caed), o Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI), a Diretoria de Tecnologia da Informação (DTI), a Coordenadoria de Assuntos Comunitários (CAC) e o Centro de Comunicação (Cedecom).

“Ao reunir esse conjunto de instâncias com suas especialidades, a UFMG buscou reforçar a identidade docente no contexto universitário”, explica Maria José Flores. No site do programa, estão disponíveis textos, vídeos e outros materiais, publicados por alguns dos professores da UFMG, sobre as experiências de adaptação ao ensino remoto, que constituem a campanha Aulas inesquecíveis.

Na tarde desta quarta-feira, 14, três professores fizeram relatos dessas experiências em evento que integra a série de fóruns on-line promovida pelo Programa Integração Docente. Rogério Rodrigues, do Instituto de Geociências (IGC), falou de sua atuação como professor das disciplinas Fundamentos de geologia e Introdução à geologia.

Ele elaborou um simulacro de sala de aula dentro de sua casa, usando equipamentos tradicionais, como o quadro negro e o retroprojetor. “Quando tudo estava pronto, inclusive a iluminação do estúdio, deparei  com uma grande dificuldade: como gravar a aula olhando para uma câmera? Isso para mim foi uma angústia, uma dificuldade clara”, confessou.

A ajuda da família, de acordo com o professor, foi fundamental para superar a ansiedade e o medo. “Consegui gravar, e os alunos ficaram muito felizes e satisfeitos”, testemunhou.

Débora apresentou
Débora Balabram da Medicina apresentou seu método para ensinar a fazer nós a distância. Foto: Raphaella Dias / UFMG

‘Atando os nós’

Débora Balabram, da Faculdade de Medicina, discorreu sobre sua experiência como professora da disciplina Cirurgia 1. Normalmente, é nesse estágio que os alunos de Medicina têm o primeiro contato com as técnicas cirúrgicas, aprendem a realizar nós manuais, suturas e outras tarefas complexas.

“É preciso muita delicadeza para fazer um nó cirúrgico. Tive que me desdobrar para ensinar isso a distância”, contou. Para tanto, ela pesquisou na literatura sobre como estão sendo ministradas, em todo o mundo, aulas de cirurgia. “Usei materiais simples como o fio dental para fazer os nós em tampas de latas, como as de cerveja, que, por serem extremamente leves, exigem muita delicadeza nos gestos”

Descreveu Débora Balabram

O professor Armando Neves, do Departamento de Matemática, recorreu a um conto, de sua autoria, para ensinar Geometria analítica e álgebra linear (Gaal), disciplina ministrada para todos os cursos das ciências exatas.

“No meu departamento, temos uma equipe grande de professores, que trabalha em conjunto e divide as tarefas, como a elaboração de textos e de questões. Seria mais difícil assumir sozinho essa responsabilidade”, disse. Para o professor, o ensino remoto deixa a lição de que, por mais que se disponha de tecnologia e métodos modernos, a presença humana sempre será indispensável.

Armando Neves: trabalho coletivo
Armando Neves: trabalho coletivo. Foo: Raphaella Dias / UFMG

Sem receita pronta

A professora Fernanda Cimini, da Face, também enviou sua “aula inesquecível” para o banco da campanha. Sua experiência está relacionada ao ensino da disciplina Economia politica internacional, para graduandos do curso de Relações Econômicas Internacionais. Ela contou que, em suas aulas, buscou poupar os estudantes das resenhas escritas, optando por organizar debates em formatos de live.

“Com base em textos e em aulas anteriores, os alunos discutiram sobre os conteúdos que versaram sobre assuntos de interesse global, como movimentos raciais, questões de gênero, sistemas monetário e financeiro, comércio internacional, teorias de desenvolvimento e relação-centro periferia. Percebi uma maturidade dos estudantes em suas análises que, em muitos casos, são mais interessantes do que as veiculadas pela mídia tradicional”, descreveu.

No próximo dia 22, será transmitido, pelo canal do Caed no YouTube, um webinar com egressos dos cursos promovidos pela Diretoria. Os professores vão falar sobre os movimentos e possibilidades que criaram para manter o vínculo com os estudantes e as atividades da Universidade durante a vigência do regime remoto.


( Matheus Espíndola / Centro de Comunicação da UFMG)