Ensino reflexivo para diagnóstico acertado
04 de agosto de 2014
Ensinar é uma habilidade que pode ser aprendida e, mais do que isso, deve ser monitorada. Pesquisa publicada na edição de agosto da revista internacional Medical Education, realizada pelo professor do Departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da UFMG, Cássio Ibiapina, avaliou meios para aprimorar o ensino do raciocínio clínico e incentivar o desenvolvimento dos alunos de medicina nessa área.
As decisões clínicas tomadas pelos médicos afetam intensamente a saúde de seus pacientes. Segundo dados do Instituto de Medicina dos Estados Unidos, os erros médicos resultam em entre 44 a 98 mil mortes desnecessárias a cada ano naquele país. “Mas esse problema não fica restrito a essa população. É um problema mundial”, alerta o professor Cássio.
De acordo com pesquisa realizada por ele, vários fatores contribuem para que o erro aconteça. Porém, as falhas no processo de diagóstico são os principais responsáveis, correspondendo a 75% dos casos. “Em geral, essas falhas são decorrentes de lacunas do conhecimento, falhas na obtenção e interpretação dos dados ou na utilização do raciocínio não analítico”, completa Cássio.
Para o professor, são justamente as estratégias educacionais voltadas para o desenvolvimento da competência clínica que tornam estudantes aptos a solucionarem casos clínicos com segurança. “Por isso, foi realizado o estudo, com objetivo de ajudar os professores a ensinarem os alunos a refletir de forma estruturada a partir das informações que eles têm na memória”, explica.
Análise
Participaram das análises 116 estudantes. Parte deles, do 9º e 10º períodos do curso de Medicina da UFMG, que cursavam o pré-internato em Clínica Médica e, posteriormente, participaram do estágio de Ginecologia e Obstetrícia. O outro grupo era do 11º e 12º períodos pós-internato de Clínica Médica ou Urgências Clínicas.
Foram testadas três técnicas de ensino: livre, na qual os alunos completam tabela com sinais e sintomas das doenças; com pistas, em que os estudantes recebem dicas de algumas doenças para completar a tabela; e exemplificada, forma em que a tabela já está completa e é feita reflexão sobre ela.
Para obter os resultados, foi aplicado um teste imediatamente após o diagnóstico e outro uma semana depois, com oito casos diferentes, sendo que quatro deles apresentavam doenças que eles já haviam estudado durante a fase de aprendizagem.
Todas as técnicas testadas obtiveram resultados positivos no teste tardio. Contudo, foi o modelo de reflexão exemplificada que permitiu maior número de acertos de diagnóstico pelos estudantes. “Os alunos inexperientes se tornam ‘experts’ capazes de solucionar problemas clínicos não apenas pela aquisição de novos conhecimentos ao completar as tabelas, mas também através da reestruturação destes conhecimentos”, afirma.
Novo olhar
Cássio destaca que a pesquisa é uma constatação daquilo que muitos professores intuitivamente realizam na prática. “Muito do que praticamos em nossos ambientes de trabalho representam, por vezes, essas experiências, embora pareça ser um mundo novo de conhecimento e cheio de teorias. Entretanto, elas não são compartilhadas, o que impossibilita refletir sobre sua eficácia”, completa.
Ele acrescenta ser necessário estimular o olhar sobre as ações em educação médica para fomentar a formação de novos grupos de investigação. “A área é nova no Brasil, poucos lugares estudam a educação médica”, ressalta o professor.
Desevolvido pelo projeto Estratégias educacionais para o desenvolvimento de competências clínicas na formação e capacitação médica, a pesquisa integra as atividades do Núcleo de Estudo e Pesquisa em Educação Médica, do Centro de Educação em Saúde da Faculdade de Medicina da UFMG. Além do professor Cássio Ibiapina, o estudo também envolveu a professora do Departameto de Propedêutica Complementar da Faculdade de Medicina da UFMG, Silvana Maria Eloi Santos, duas professoras da Erasmus University Rotterdam, na Holanda, Sílvia Mamede e Tamara van Gog, e o professor Alexandre Sampaio Moura, da Unifenas.
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