Entenda a diferença entre intolerância e alergia alimentar

Programa da série de rádio do Saúde com Ciência desvenda a diferença entre os termos


11 de junho de 2019 - , , , , ,


*Nathalia Braz

Há quem acredite que alergia e intolerância alimentar se tratam da mesma coisa, o que não é verdade. Os sintomas podem ser parecidos e até os alimentos que causam as reações serem os mesmos. Mas se tratam de problemas diferentes, com causas e tratamentos distintos. Para entendê-los melhor, existe uma classificação geral para essas reações, que estão incluídas no tipo não tóxicas. A série de rádio do Saúde com Ciência desta semana aborda a Alimentação Infantil e traz um programa justamente para desvendar os dois termos.

As reações não tóxicas podem ser classificadas em não imunomediadas (intolerância alimentar) ou imunomediadas (hipersensibilidade alimentar ou alergia alimentar). A principal diferença entre eles é o tipo de resposta do organismo quando entre em contato com o alimento. Na alergia, ocorre uma reação anormal do sistema imunológico, que detectada o alimento como um corpo estranho e produz anticorpos. Por sua vez, a intolerância é a dificuldade do corpo em ingerir ou absorver algum nutriente, geralmente devido à falta de alguma enzima, que são responsáveis pela digestão e processamento dos alimentos.

Para diferenciá-las melhor, basta pensar na reação ao leite de vaca. Na intolerância, o corpo não produz quantidade suficiente da enzima responsável pela digestão do açúcar do leite, a lactose. Por isso, se o produto for sem lactose, na maior parte das vezes pode ser consumido normalmente. Já no caso da alergia, a pessoa não pode entrar em contato com o leite ou derivados, pois o organismo irá entendê-los como inimigos e enviar células de defesa para combatê-los.

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Alergia alimentar

A médica gastroenterologista pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG e integrante do GastroPed, Graziela Schettino, explica que algumas proteínas são mais comuns para as reações alérgicas. “Proteínas como a do leite de vaca, ovo, soja, trigo, peixes e amendoim. Nas crianças, principalmente nas menores de um ano idade, é a proteína do leite de vaca”, exemplifica.

Imagem: Pixabay

Os sintomas da alergia alimentar incluem febre, vômitos, diarreia, dor abdominal, erupções e coceiras na pele, falta de ar e inchaço em algumas partes do corpo. Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria, a alergia é mais comum em crianças, com prevalência de aproximadamente 6% em menores de três anos. Em adultos, a incidência é de 3,5%, sendo que 2,2% se referem à alergia à proteína do leite de vaca.

A gastroenterologista Graziela Schettino é pediatra e realiza atendimentos voltados para crianças e adolescentes. Ela esclarece que a melhor forma de tratar as crianças é excluir completamente a proteína causadora da alergia. “Isso é para que o organismo da criança crie uma tolerância e, quando for oferecido novamente como se fosse o primeiro contato, o organismo não reaja como uma proteína estranha”, afirma.

Intolerância alimentar

O principal nutriente que gera a intolerância alimentar é o açúcar do leite, conhecida como lactose. De acordo com a Graziella Schettino, o organismo não consegue fazer a digestão desse açúcar, e com isso, gera sintomas como desconfortos e dores abdominais. A especialista explica que as causas podem ser tanto alterações no metabolismo, que não consegue fazer essa digestão por não produzir enzima suficiente, quanto por condições secundárias. “São condições como algumas verminose e medicamentos; uso excessivo de antibióticos que podem alterar a microbiota, que é a flora intestinal, e que dá intolerância; além de algumas doenças crônicas intestinais”, explica Graziella.

Uma forma de diagnosticar a intolerância é através do teste respiratório, que é quando a pessoa sopra lentamente um pequeno aparelho para medir a quantidade de hidrogênio na respiração. O gás é produzido quando se é intolerante à lactose, segundo a gastroenterologista. O tratamento disponível é justamente retirar a lactose da dieta, para ver se o paciente tem uma melhora clínica.

Doença celíaca

Imagem: Pixabay

Embora a intolerância à lactose seja a mais comum, a doença celíaca também é bastante conhecida. Essa é uma doença autoimune que tem como causa a intolerância permanente ao glúten, proteína que está presente no trigo, centeio e cevada. Em pessoas com tendência genética, o glúten causa uma inflamação no intestino que, com o tempo, leva à má-absorção dos nutrientes.

A doença geralmente se manifesta na infância, entre o primeiro e terceiro ano de vida, mas pode surgir em qualquer idade, até mesmo em adultos. Como não tem cura, a única forma de tratamento disponível é a exclusão total dos alimentos que contenham glúten.

É importante que a dieta seja seguida por toda a vida. Mas é possível substituir o glúten por outros alimentos à base de arroz, milho, batata, amêndoas, soja chia, grão de bico, quinoa e mandioca. No entanto, a recomendação é para procurar um especialista, preferencialmente nutricionista, para a construção de uma dieta equilibrada, conforme a necessidade de cada pessoa.

Todas essas informações estão todas no site e no instagram da Gastroped, programa de extensão da Faculdade de Medicina da UFMG, vinculado ao Setor de Gastroenterologia Pediátrica do Hospital das Clínicas da UFMG.

Gastroped

A Gastroped atende à demanda de pacientes do SUS de todo o estado, além de auxiliar pais e educadores a cuidar da saúde do sistema digestivo de crianças e adolescentes e levar informações sobre as doenças gastrointestinais mais comuns. O serviço, referência no Brasil, é coordenado por docentes da Faculdade de Medicina da UFMG e conta com a participação de três médicos contratados pela EBSERH, seis professores, cinco residentes do Hospital das Clínicas, alunos do curso de especialização em Gastroenterologia Pediátrica, mestrandos e doutorandos do curso de Pós-graduação da Faculdade.

Entre as ações desenvolvidas, é disponibilizado um compilado de doenças gastrointestinais, de A a Z, artigos e cartilhas no site programa.

Sobre o programa de rádio
Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.

*Nathalia Braz – estagiária de Jornalismo

edição: Karla Scarmigliat