Entenda o verdadeiro significado da palavra empatia


21 de dezembro de 2018


*Samuel Silveira

Foto: Carol Morena

Se entender os próprios sentimentos e pensamentos às vezes é difícil, compreender os de outras pessoas pode parecer ainda mais complicado. A boa notícia é que a espécie humana conta com uma capacidade evolutiva importante para isso: a empatia. No entanto, essa palavra muitas vezes não é compreendida, sendo usada como sinônimo para simpatia, solidariedade e compaixão.

A professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Medicina, Maila Castro, explica que a empatia é a capacidade de entender e sentir o que os outros estão sentindo e pensando. Ou, como alguns gostam de dizer, é “se colocar no lugar do outro”.

Essa capacidade foi sendo selecionada durante a evolução por ser benéfica para a espécie, especialmente para as relações sociais. “Do ponto de vista neurocientífico, a gente entende como uma capacidade humana evolutivamente importante para que as pessoas tenham comportamentos pró-sociais. E nós estamos falando de habilidades inconscientes: são mecanismos de espelhamento e imitação inerentes a nossa convivência social”, esclarece a professora.

Esses mecanismos, de acordo com a especialista, são trabalhados o tempo todo durante as interações. “Quando a gente se coloca no lugar do outro, a gente entende seu sofrimento e isso pode gerar sentimentos e ações pró-sociais como atitudes de compaixão, simpatia e solidariedade”, acrescenta Maila.

Cérebro e empatia

No cérebro, as atividades de espelhamento e a imitação ocorrem através de áreas conhecidas como neurônios-espelho, identificadas por pesquisadores italianos na década de 1990. “De forma simplificada, é como se essas áreas ativassem quando você faz uma ação ou quando é o outro quem a pratica”, afirma Maila Castro. A leitura do rosto é fundamental para ativar essas áreas. Isso porque o reconhecimento de emoções por meio de expressões faciais contribui na tomada de decisões.

“Ler o outro ajuda no raciocínio das pessoas para o comportamento social. Por exemplo: levantar para a pessoa sentar porque ela está com cara de cansada. Só que é automático: ‘se eu estivesse no lugar dela, eu estaria cansado, então vou levantar para ela sentar’”, explica a professora.

Porém, segundo ela, por mais que faça parte de uma habilidade humana, essa capacidade precisa ser exercitada. “Se pensamos que não é possível dialogar quando o outro pensa diferente de nós, então a gente não está usando elas bem. Mas podemos exercitá-los!”, argumenta.

Empatia na prática

Ação do Encantarte em conjunto ao projeto SuperAção. Foto: Carol Morena.

Nas tardes de sábado, alunos dos cursos da Faculdade de Medicina e da Escola de Enfermagem da UFMG visitam as alas pediátricas do Hospital das Clínicas (HC) da UFMG para promover ações lúdicas junto aos pacientes, pais e funcionários do hospital. Trata-se do Encantarte — projeto de extensão vinculado ao Programa de Humanização do HC.

A iniciativa, criada em 2011, se inspira no trabalho desenvolvido por grupos como o “Instituto HAHAHA” e o “Médicos da Alegria”, e aplica a empatia para levar alegria e conforto aos pacientes. Hoje, o grupo conta com 30 alunos, que se revezam por semana para se caracterizarem de palhaços e fazerem visitas ao hospital.

De acordo com o integrante do projeto, Guilherme Duque, a intervenção vai muito além de fazer rir. “Tem dia que a gente chega no quarto e aconteceu alguma coisa ou está sendo feito um procedimento com alguma criança, por exemplo. Então a gente tem que abordar cada caso de um jeito, por meio da nossa presença, de música ou conversa”, conta.

Para o também integrante do Encantarte, Rafael Falcão, é nesse momento que a empatia entra. “Ela se aplica no sentido de se colocar no lugar do outro para saber o limite, saber respeitar: se a pessoa tá aberta a brincar, que se brinque; se está aberta a conversar, converse; se não está aberta a nada, então respeite o não dela. Porque a gente aprendeu nos cursos que a gente fez que, no hospital, a criança não tem direito a negar nada. E, se a gente está dando oportunidade dela negar, às vezes é um presente”, comenta.

Para Rafael, a empatia é fundamental nas profissões que lidam com a saúde, de forma que o bom profissional deve saber combinar sua capacidade técnica e o lado social. A estudante do último período da Faculdade de Medicina da UFMG, Mariana Ataíde, compartilha dessa mesma opinião.

Ela participou da disciplina Internato em Saúde Coletiva, Faculdade de Medicina da UFMG, conhecida como Internato Rural. A disciplina insere os estudantes nas Unidades Básicas de Saúde de cidades do interior de Minas Gerais, onde podem desenvolver a relação médico-paciente.

Mariana avalia que a empatia na relação médico-paciente passa pela construção conjunta de proximidade e diálogo. “O internato me tornou não apenas mais empática em vários âmbitos, mas também mais humanizada. Saber as histórias dos pacientes me tornou mais próxima da realidade de grande parte do país, e me fez perceber o quanto se pode ajudar muitas vezes apenas com uma boa escuta”, avalia.

*Samuel Silveira – estagiário de Jornalismo

edição: Karla Scarmigliat