Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto completa 15 anos de atuação

Financiado pelo Ministério da Saúde, Elsa-Brasil é o maior estudo longitudinal sobre doenças crônicas não transmissíveis do país; sede mineira é a UFMG


13 de novembro de 2023 - , , , , ,


Cerimônia celebrou 15 anos de estudos e contribuições da pesquisa para a saúde no Brasil. Professora Sandhi Barreto apresentou resultados. Foto: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.

O Estudo Longitudinal da Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), o maior estudo longitudinal sobre doenças crônicas não transmissíveis do país, completou 15 anos de atuação neste ano. A Faculdade de Medicina da UFMG é um dos centros que participam do estudo e realizou nesta quinta-feira, 10 de novembro, um seminário em comemoração ao marco.

Participaram do evento a diretora da faculdade, professora Alamanda Kfoury Pereira, o diretor superintendente do Hospital das Clínicas da UFMG, professor Alexandre Rodrigues Ferreira, a coordenadora do Elsa-MG, professora Sandhi Barreto, a diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Ana Maria Caetano de Faria, e o professor Fernando Marques Reis, Pró-reitor de pesquisa da UFMG, além de servidores, alunos e professores da Faculdade de Medicina, dentre eles voluntários do projeto e pesquisadores.

Na abertura do seminário, a professora Alamanda falou sobre a importância do estudo – do qual ela também é voluntária. “É um projeto de alta relevância, não só do ponto de vista científico, de compreender os diversos indicadores da nossa população, mas também por subsidiar as políticas públicas em saúde, em especial no aspecto da prevenção”, refletiu.

Ela também brincou com a atenção dada aos voluntários pelos pesquisadores. “Eu mesma sou participante e vejo como é desafiador para as pessoas conseguirem ir lá [fazer os exames]. Para achar tempo para eu ir, eles são muito cuidadosos, muito insistentes. Eles mandam várias mensagens: ‘então, que dia você pode?’ Eu digo que posso em um dia, mas depois desmarco. Eu tinha marcado para a próxima semana, mas apareceu um imprevisto e passei para outro dia. Agora prometo que estarei lá. É muito interessante como o fluxo de trabalho é organizado, é invejável vocês conseguirem coletar tantos dados. Para nós é motivo de muita alegria ser a casa do Elsa em Minas Gerais.”

O superintendente do HC, professor Alexandre Rodrigues Ferreira, comentou sobre a importância do projeto como ação de alta, média e baixa complexidade em saúde. “É uma honra para o Campus Saúde, com a Faculdade de Medicina, o Hospital das Clínicas e a Escola de Enfermagem, poder contribuir nacional e internacionalmente para o projeto.”

Em sua fala, o professor Fernando Marques Reis parabenizou a equipe do grupo em nome da reitora Sandra Regina Goulart e da Pró-Reitoria de Pesquisa (Prpq), e celebrou a particularidade dos 15 anos de financiamento contínuo do Elsa pelo Ministério da Saúde, que permite a produção da pesquisa a longo prazo. “Esse é um projeto pioneiro, que tem um valor incomensurável para a UFMG. Antes dele não há notícia de outra coorte prospectiva tão bem planejada, nos padrões mais elevados e internacionais, que tenham ocorrido na nossa universidade e no nosso estado.”

Também voluntário da pesquisa, o professor Fernando Reis  ressaltou o valor do estudo ter um recorte tão abrangente, com pessoas que representam a população brasileira, ainda que seja uma comunidade ligada à universidade. “Esse tipo de estudo tem um valor imenso para as políticas de saúde do país, tem impacto local, regional, nacional e internacional. A equipe é muito profissional, dos telefonistas aos coletores de dados… Eu já fiz um monte de exames que nunca faria e vou feliz da vida, como participante e como professor, para admirar o melhor jeito de fazer pesquisa clínica e epidemiológica que eu conheço.”

Evento contou com participação do Ministério da Saúde. À esquerda, a professora Sandhi Barreto e à direita a diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde, Ana Maria Caetano de Faria. Foto: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG

A diretora do Departamento de Ciência e Tecnologia do Ministério da Saúde,  Ana Maria Caetano de Faria,  abordou a necessidade do estudo ser política de estado, não só de governo. “É um estudo dificílimo de se fazer, muito valorizado no mundo e muito importante para o Brasil. Sem financiamento contínuo como política de estado, que perdure para além dos diferentes governos, a gente não consegue chegar em lugar nenhum. Mesmo no período tenebroso que nós passamos, eu sempre lembro que o departamento conseguiu manter a chama viva e de alguma maneira financiar projetos importantes”, afirmou  Ana Maria Caetano de Faria. E ainda brincou sobre a continuidade do estudo: “espero que o Elsa vire o Elsi [Estudo Longitudinal da Saúde do Idoso]”.

Servidoras celebram o Elsa: “enquanto durar, eu estarei aqui”

Elza de Carvalho Silva, servidora aposentada da Faculdade de Odontologia, uma das voluntárias do projeto, destacou a importância da pesquisa, principalmente à medida que os servidores se tornam idosos. “Eu gosto muito de participar, desde o início. Quando demora eu até cobro, ligo perguntando se não vai ter [mais uma onda da pesquisa]”, aponta Elsa Silva e ainda garante, “o acolhimento é muito bom”.

Elza de Carvalho Silva, servidora aposentada da Faculdade de Odontologia, é uma das voluntárias do projeto. Foto: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG

Elnisa Pinto Ferreira, também servidora aposentada da Odontologia, conta que enquanto o Elsa durar ela estará participando, e celebra o fato de alguns exames do estudo completarem outros que ela não consegue fazer fora. Maria do Carmo Borges, também servidora da Odontologia, diz que participar da pesquisa é esclarecedor e ainda ajuda a cuidar de sua saúde. “Cada vez que eu procuro, eu sou muito bem atendida. É tudo bem agendado, é sempre uma atenção especial. Se o governo permitir, se tiver verba, espero continuar.”

Diretora demonstra resultados dos últimos anos

Em apresentação no evento desta quinta-feira, a professora Sandhi Maria Barreto, coordenadora do Elsa-MG, apresentou os principais resultados do estudo nos últimos anos. Na UFMG, o Hospital Borges da Costa, onde fica o Centro de Investigação do Elsa-MG, foi reformado em 2008. Em 2012, na segunda onda de pesquisas, o centro criou o Elsa músculo-esquelético, para investigar distúrbios osteomusculares, dor e osteoartrite. Em 2020, foi realizado o Elsa-Covid, uma pesquisa online para avaliar os impactos da pandemia nos participantes.

“Esse estudo é uma construção coletiva, e começou em 2006, quando a população brasileira já era predominantemente adulta, em transição acelerada. As doenças do adulto eram os principais problemas de saúde e demandavam atenção, cuidado e prevenção, e no Brasil ainda não havia nenhum estudo longitudinal, apenas estudos fotográficos. As pesquisas brasileiras usavam resultado de outros países, principalmente países desenvolvidos, então decidimos fazer o nosso próprio estudo com nossas próprias referências.”

Sandhi Barreto

Resultados:

Elsa-Brasil: 15 anos de pesquisa

Participam do Elsa seis centros de pesquisa, do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil, além da UFMG: as universidades federais da Bahia (UFBA), do Espírito Santo (Ufes) e do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade de São Paulo (USP) e a Fiocruz, no Rio de Janeiro. Criado em 2008, o projeto já teve quatro ondas (fases) de pesquisa.

O Elsa-Brasil produz diretrizes para o SUS relacionadas à alimentação, hipertensão, diabetes, doenças renais e da tireoide. Foto: Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG.

São cerca de 13 mil voluntários atualmente, todos servidores públicos dos estados participantes. Em Minas Gerais, a maior parte deles são da própria UFMG e também do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). O Elsa-Brasil produz diretrizes para o SUS relacionadas à alimentação, hipertensão, diabetes, doenças renais e da tireoide. A pesquisa explora fatores como local de moradia, ambiente de trabalho e alimentação, combinando marcadores bioquímicos e anatômicos com variáveis psicossociais.