Faculdade de Medicina da UFMG institui Comissão Permanente de Enfrentamento ao Racismo

Portaria publicada essa semana oficializa trabalho e nomeia integrantes.


11 de fevereiro de 2021 - , , ,


A Faculdade de Medicina da UFMG designou a Comissão Permanente de Enfrentamento ao Racismo (CPER-FM). A Portaria 996/2021, publicada dia 9 de fevereiro, pode ser acessada clicando aqui.

A comissão é composta por estudantes negras e negros do Grupo de Estudos de Negritude e Interseccionalidades (GENI), estudantes indígenas, técnicos administrativos da Faculdade de Medicina, professores dos cursos da Faculdade de Medicina e representação estudantil – por meio do Diretório Acadêmico Alfredo Balena (DAAB, representante da Medicina), Centro Acadêmico da Fonoaudiologia (C.A. Fono) e Diretório Acadêmico Marie Curie (DAMC, representante do curso Superior em Tecnologia em Radiologia). 

Marina Nascimento, acadêmica de Medicina e integrante do GENI, coordena a CPER em conjunto com a professora Elis Borde, do Departamento de Medicina Preventiva e Social (MPS). “Os possíveis impactos da comissão são muito potentes, até porquê o acesso à saúde é crucial na luta contra o genocídio dos povos negro e indígenas, genocídio este que caracteriza o racismo estrutural”, pontua Marina. “É crucial que as pautas relacionadas à raça não sejam negligenciadas”, segue a acadêmica. 

“Procurei tantos adjetivos que resumissem meu sentimento, mas acho que o que mais se aplica é: honrada. Entender a comissão é entender uma luta anterior à minha entrada na Faculdade. Uma luta de pessoas negras e indígenas de dentro e de fora do ambiente acadêmico”

Marina Nascimento, acadêmica de Medicina e integrante do GENI

O objetivo da CPER é propor e acompanhar a aplicação de políticas e estratégias de combate ao racismo na instituição, a fim de garantir o compromisso histórico com a universidade pública, gratuita, inclusiva, de qualidade e diversa. “É muito importante que servidores, discentes e docentes não sejam apáticos às situações de racismo”, defende Marina. 

Foram estabelecidos seis eixos iniciais de trabalho:

– Sensibilização da comunidade acadêmica sobre o racismo;
– Ações afirmativas e acesso à universidade;
– Planos de ensino e práticas de ensino;
– Permanência e bem-estar estudantil;
– Articulação institucional transversal com objetivo de combate ao racismo;
– Divulgação de conhecimentos sobre saúde, elaborados pela população negra e pelos povos indígenas.

A Comissão iniciou seu trabalho em julho de 2020 e desde então reúne seus membros em reuniões quinzenais. A professora Elis Borde explica que o grupo se formou como uma resposta institucional, a partir de um ofício escrito por estudantes do GENI e DAAB, endereçado à Diretoria da Faculdade. 

“O racismo estrutura a sociedade brasileira e se institucionaliza no ensino superior. Isso se expressa por meio de uma composição, majoritariamente, branca da comunidade acadêmica composta por estudantes, professores, autoridades e servidores; de preconceitos, violências racistas discriminatórias sofridas pelos negros e indígenas que compõem a universidade; da desqualificação e silenciamento da questão racial e do racismo nos currículos acadêmicos assim como dos discursos (ou silêncios) de pesquisas científicas quanto à racialização e repercute na formação e, no nosso caso da Faculdade de Medicina especificamente, no cuidado em saúde. A Comissão constitui uma resposta institucional necessária e urgente diante da persistência e violência do racismo no país e suas diversas expressões”

enfatiza a professora do MPS e coordenadora conjunta da CPER.

Próximos passos

Uma das ações previstas para 2021 é a promoção de um evento que gere reflexões e debates sobre o racismo e suas implicações para a saúde. “A CPER ainda buscará promover a inclusão do racismo e da discussão sobre a saúde da população negra e indígena nos planos de ensino das disciplinas obrigatórias da Faculdade de Medicina, em conformidade com a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra do Ministério da Saúde e a Política Nacional de Atenção à Saúde dos Povos Indígenas, além de incentivar a criação de disciplinas optativas sobre a temática”, informa Elis.

O canal de contato com a CPER é: cper@medicina.ufmg.br

A professora indica que há planos para organizar encontros de formação e troca entre os docentes da Faculdade, de forma a promover uma revisão e ampliação dos planos e materiais de ensino. “Especificamente no eixo de trabalho sobre Ações Afirmativas e Acesso à Universidade, estamos discutindo a elaboração de um infográfico sobre os processos administrativos necessários para realizar denúncias de fraudes de cotas a fim de orientar a comunidade acadêmica sobre mecanismos institucionais existentes”, segue a professora Elis.

“Ainda buscaremos elaborar recomendações sobre a promoção do acesso de estudantes negras, negros e indígenas às ligas, aos programas de extensão, às monitorias e iniciação científica”, completa Elis.

A CPER informa que serão integrados novos membros, para garantir representação ampliada que reflita a diversidade da Faculdade. A comunidade acadêmica poderá acompanhar o trabalho da Comissão a partir dos canais de comunicação da Faculdade de Medicina, além de canais próprios que serão criados, que também vão acolher sugestões. “A Comissão é formada pela e para a comunidade acadêmica. Então, eu acho fundamental que a comunidade como um todo se atente e se empenhe para a manutenção e o sucesso das ações propostas. Além disso, acho fundamental que haja uma participação ativa com sugestões, críticas ou elogios das ações propostas pela comissão”, destaca Marina.

A estudante espera que a comissão consiga criar mecanismos que inibam ou diminuam os desconfortos e violências sofridas pelas pessoas negras e indígenas na Faculdade. “Além disso, espero muito que a comissão fomente o combate ao epistemícidio (que abrange tanto produção, como dissipação do conhecimento). Espero que possamos influenciar positivamente com ações referentes à permanência e ao bem estar estudantil de estudantes negros e indígenas. Também, espero que haja uma maior sensibilização e mobilização geral com vistas ao combate ao racismo. Ademais, tenho expectativa que o conhecimento produzido pelas pessoas negras e indígenas seja reconhecido e valorizado. Se conseguirmos sucesso nos eixos de ação apresentados, acho que teremos um saldo muito positivo no impacto”, finaliza.