Falta de informação e acolhimento no sistema de saúde elevam casos de HIV entre jovens

Projeto PrEP 15-19 Minas busca implementação de políticas públicas que melhorem acolhimento dessa população nos serviços de saúde e amplie oferta da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP)


20 de dezembro de 2021 - , , , , , , , , , ,


Após 40 anos do HIV/Aids, é natural que a ciência tenha evoluído no conhecimento sobre esse vírus. Hoje já é possível compreender melhor, por exemplo, como o HIV age no organismo, o que fazer para prevenir a infecção e tratamentos mais eficazes. Apesar disso, ainda é expressivo o número de novas infecções por ano, especialmente entre a população mais jovem, de 20 a 34 anos, que registra 52,9% dos casos. Dificuldades no acesso à informação e ao sistema de saúde são alguns dos motivos que contribuem para que essa epidemia continue.

De acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados 2,7 mil novos casos de HIV em 2020. Ao todo, cerca de 900 mil pessoas convivem com essa infecção no país. E por aqui, os adolescentes e jovens adultos são o grupo que mais contribui para aumentar as estatísticas de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), apesar de representarem apenas um quarto da população sexualmente ativa. Ainda de acordo com dados da pasta, entre 2010 e 2020 houve aumento de 29,0% na detecção de Aids na faixa etária de 15 a 29 anos e de 20,2% na população de 20 a 24 anos.

“É um período que faz mais relações sexuais com mais pessoas e com pouco acesso à informação. Não tem uma divulgação correta na mídia sobre essas questões preventivas e, principalmente, nas famílias. Além disso, houve a interrupção da discussão sobre sexualidade nas escolas”, analisa o infectologista e professor Emérito da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco.

Em entrevista ao programa de rádio “Saude com Ciência”, ele alerta que pessoas que fazem parte do grupo LGBTQIA+ estão mais desamparados nesse sentido, uma vez que têm ainda mais dificuldades para acesso ao sistema de saúde e, consequentemente, às informações sobre prevenção, métodos preventivos, exames diagnóstico e tratamentos. Isso porque existe um risco, que é real, de serem atendidos de maneira incorreta, se sentirem julgados devido aos preconceitos ainda existentes, o que afasta essa população chave desses serviços.

PrEP 15-19 Minas

“Hoje, o mais importante é a história do conhecimento. O quanto de conhecimento tem que se passar e o quão frequentemente tem que se passar”, frisa o professor Dirceu Greco, que é coordenador do projeto PrEP 15-19 Minas.

O projeto, que completa dois anos de atuação, pesquisa a efetividade da Profilaxia Pré-Exposição ao HIV ((PrEP) como parte da chamada prevenção combinada, entre adolescentes de 15 a 19 anos que se identifiquem como mulheres transexuais ou travestis ou como homens cisgêneros gays, bissexuais ou que fazem sexo com outros homens.

A PrEP 15-19 vem, justamente, para promover a informação. Além disso, busca apontar caminhos para políticas públicas que melhorem a disponibilidade de métodos preventivos e acolhimento dos jovens nos serviços de saúde, especialmente das populações chaves.

“Na PrEP, temos os educadores pares, que são pessoas capacitadas e mais ou menos da mesma idade desses jovens, o que ajuda muito, pois falam a mesma língua e têm histórias semelhantes, o que facilita a compreensão e confiança”, comenta Greco. Os educadores pares realizam o recrutamento dos jovens para o projeto, oferecem apoio e orientação sobre a importância da prevenção das ISTs.

A PrEP oral é uma medida de prevenção do HIV de uso diário que consiste na tomada de um comprimido composto por medicamentos antirretrovirais. Essa pesquisa foi feita três capitais brasileiras: Salvador, São Paulo e Belo Horizonte. Na capital Mineira, o estudo é coordenado pela Faculdade de Medicina da UFMG.

Informação para reduzir casos

O também infectologista, professor da Faculdade de Medicina da UFMG e co coordenador da PrEP 15-19 Minas, observa que é habitual os jovens buscarem informações entre eles, entre os pares, que muitas vezes não são adequadas. Isso também reflete na ocorrência de ISTs.

“Para se ter uma ideia, a prevalência de ISTs na população chave quando recrutada pelo projeto foi de 4%. Isto é 10 vezes maior que na população em geral. De sífilis, foi em torno de 20%, semelhante a outras ISTs como a gonorreia”, aponta o professor.

Ele comenta que o projeto mostrou a necessidade de melhorar o acolhimento a essa população no sistema de saúde e a implementação da PrEP para a faixa etária de 15 a 18 anos, que ainda não está contemplada. Caso contrário, o risco que se corre é de uma explosão de casos de ISTs nessa faixa etária.

“O primeiro passo já foi dado, apresentamos esses dados Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis (DCCI), que ficaram totalmente assustados, sensibilizados com esses dados nossos, e já estão preparando uma nota técnica para tentar liberar a PrEP para essa faixa etária. Outro passo seria a capacitação das equipes de saúde. Já estamos elaborando material de ensino à distância e vamos, assim que possível devido à pandemia, fazer reuniões presenciais, sensibilizando trabalhadores e gestores de saúde”, detalha Unaí Tupinambás.  

Saúde com Ciência

No Saúde com Ciência”, saiba mais sobre a PrEP, entenda por que ainda há tantos casos de HIV no país, especialmente entre os jovens, e como tratar e combater esse vírus.

O progama é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.