Falta de investimento em vigilância acende alerta para casos de Chagas

Na semana do Dia Mundial de Chagas, celebrado em 14 de abril, o Saúde com Ciência dedica série especial sobre o tema.


13 de abril de 2020 - , , , ,


O Brasil esteve perto, mas ainda não conseguiu erradicar de seu território a doença de Chagas, que acomete cerca de 1,5 milhões de brasileiros. A maior parte dos casos da doença é crônica, isto é, decorrente de infecções adquiridas no passado. Mas essa é uma conquista que pode estar ameaçada. Um dos motivos é a falta de recursos para a vigilância sanitária epidemiológica dessa infecção.

A picada do barbeiro, que libera fezes infectadas pelo protozoário Trypanosoma cruzi, é a forma clássica de transmissão da doença de Chagas no mundo. Apesar disso, o Brasil não apresenta casos de transmissão vetorial desde 2006. Mas de acordo com o professor do Departamento de Parasitologia do Instituto de Ciências Biológicas da UFMG, Leonardo Koerich, é possível que esse quadro mude.

“Já tem quase 20 anos que a vigilância epidemiológica tem se deteriorado. Alguns municípios têm usado o dinheiro da vigilância epidemiológica de Chagas para a de dengue, que se tornou um problema muito mais sério nos munícipios”, relata.

O combate à forma de transmissão vetorial, que é pela picada do barbeiro, ocorre por meio do uso de inseticidas e a melhoria na estrutura das famílias: em casas de alvenaria, os barbeiros são dificilmente encontrados, mesmo que existam casas de pau-a-pique próximas que tenham a presença do inseto.

Mas o especialista alerta que essa forma de transmissão pode voltar a fazer vítimas a qualquer momento. “Temos um aumento da presença do barbeiro dentro de casa, sendo que São Paulo é um estado que tem reportado bastante a presença do barbeiro intradomiciliar, que é uma coisa que não existia a cinco, seis anos atrás”, aponta Leonardo Koerich.

Se a maior presença dos barbeiros dentro de casa pode aumentar transmissão vertical, o professor diz não ter como saber. Mas afirma que essa é uma “bomba” prestes a explodir.

Alimentos

A doença de Chagas pode causar febre por mais de sete dias, dor de cabeça, fraqueza intensa e inchaço no rosto e nas pernas, nos casos agudos da doença. Já os casos crônicos, na maioria das vezes, são assintomáticos, mas podem causar problemas cardíacos, digestivos e cardiodigestivos.

Desde a descoberta da enfermidade, a doença está relacionada à pobreza, principalmente pelo fato do percevejo transmissor da doença estar mais presente em residências mais precárias, feitas de pau-à-pique.

Mas desde a década de 1970, foi feito trabalho com inseticidas e melhorias nas casas no país. Com isso, o Brasil não apresenta casos derivados pela picada do barbeiro desde 2006. No entanto, isso não quer dizer que novos casos não acorram.

“ Temos que ressaltar que ela existe sim,  que ela mudou seu perfil epidemiológico – com os casos agudos por contaminação oral, na região amazônica e muitos casos crônicos nas demais regiões do país”,

comenta a professora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Rosália Torres.

No período de 2001 a 2011, forma registrados mais de 1.200 casos da doença, sendo 70% por transmissão oral. O estado do Pará é o que mais registra novos casos por contaminação através de alimentos com parasitas da doença, especialmente o açaí.

“Tem um tipo de barbeiro que faz suas colônias nos açaizeiros, nas palmeiras, vivendo nos ninhos dos passarinhos. Então, quando esses alimentos são usados in natura é que se tem o risco de infecção por via oral”, explica Leonardo Koerich.

Mas não é preciso parar de ingerir o açaí e outros alimentos, como caldo de cana: com o processamento, congelamento e pasteurização, o parasita morre e não existe chance de contaminação. Outra forma de transmissão é a congênita ou vertical, ou seja, de mãe para filho e através de transplantes e transfusões e acidentes laboratoriais. Mas desde os anos 1990, antes de transplantados, os órgãos e o sangue são testados contra a doença.

Dia mundial de Chagas

Nesta terça-feira, 14 de abril, celebra-se o Dia Mundial de Chagas. A data foi instituída pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por iniciativa dos pacientes, por meio das Associações de Portadores de Doença de Chagas e com apoio das comunidades científica e da saúde.

Para o Dia Mundial de Chagas, a Faculdade de Medicina da UFMG lançou um site com informações sobre a doença e sobre a colaboração da instituição na história de descobertas científicas nos mais de 100 anos desde a descoberta da enfermidade. O endereço é medicina.ufmg.br/chagas.  

Saúde com Ciência

Para marcar a semana do Dia Mundial de Chagas, o Saúde com Ciência preparou série especial sobre o tema. Confira a programação da semana:

-> Segunda – Doença de Chagas hoje
-> Terça – Chagas no passado
-> Quarta – UFMG no combate à Doença de Chagas
-> Quinta – Chagas no mundo
-> Sexta – Chagas: como se prevenir?

Sobre o Programa de Rádio

O   Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.