Fé, suporte e autoestima contra o câncer

Nos 26 anos do Dia Nacional de Combate ao Câncer, aprenda dicas sobre como enfrentar o tratamento com menos dificuldades.


27 de novembro de 2014


patricia_01Nos 26 anos do Dia Nacional de Combate ao Câncer, aprenda dicas sobre como enfrentar o tratamento com menos dificuldades

“O que vale o cabelo, uma sobrancelha, os cílios? Estar de frente com a morte me fez enxergar que o valor da vida que está acima disso tudo”. Foi com esse pensamento e muito apoio da família que a técnica em patologia, Patrícia Karla, enfrentou e venceu um câncer de ovário.

A receita de Patrícia é aprovada pelos especialistas da Faculdade de Medicina da UFMG, que garantem que a fé e o suporte de familiares e amigos são importantes aliados no tratamento da doença.

Para o professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade e oncologista André Márcio Murad, a fé é um suporte essencial para a aceitação da doença e melhora, no tratamento e na possibilidade de cura. No caso de Patrícia, ela foi o principal caminho para superar as dificuldades durante o tratamento: “Em Deus, na medicina, nos remédios, na família e amigos, e em mim mesma”, declara.

Patrícia trabalha no Laboratório de Triagem Neonatal do Núcleo de Ações e Pesquisa em Apoio Diagnóstico da Faculdade de Medicina da UFMG (Nupad), e recebeu o diagnóstico quando havia decidido, junto com o marido, ter um bebê. A partir daí, havia um turbilhão de emoções, que somava a impossibilidade de ser mãe ao tratamento pesado, com quimioterapia e cirurgia, perda da identidade causada pelas alterações estéticas do tratamento, dores no corpo, ânsias de vômito constantes, fraqueza e impossibilidade de realizar atividades cotidianas.

André Murad explica que, quando um paciente é diagnosticado, surgem anseios sobre o comprometimento da estética e de certas funcionalidades do organismo. Entre as principais mudanças temidas estão a queda de cabelos e pelos corporais, causada pela quimioterapia, o emagrecimento ou aumento de peso de formas exageradas, e também a remoção de partes do corpo, como a mama, o reto, o útero e outros.

Ele conta que fatores emocionais como a presença latente da morte, o medo do sofrimento e até o retorno da doença para os pacientes, já podem piorar a doença e agravar o quadro do paciente. Patrícia escolheu enfrentar de uma maneira positiva e garante: “nenhum sofrimento foi maior que a vontade de viver“.

Superação
“Não é fácil você tomar banho e ver um bolo de pelo no ralo, é assustador. Mas eu percebi que quando eu tirei todo o meu cabelo, eu me senti melhor”, lembra Patrícia. A vaidade como determinante de autoestima também foi importante, para ela, para ajudar a passar pelo tratamento.

A professora do Departamento de Saúde Mental da Faculdade e psiquiatra, Tatiana Mourão, explica que a autoestima é a capacidade da pessoa sentir-se bem da forma que ela é. “No caso do paciente com câncer, a autoestima vai permitir à pessoa ter forças para enfrentar a doença”, afirma. E foi exatamente o que Patrícia fez: a técnica em patologia conta que não deixava de sair para os lugares como se fosse a uma festa, bem vestida e maquiada, decidida a não deixar que a perda dos cabelos pudesse abalar a sua vontade de viver.

Apoio
Patrícia publicou, em 2010, o livro “Câncer: uma benção que aconteceu na minha vida”. Nele, a técnica narra episódios que vão desde o diagnóstico até a alta, sempre contando com o suporte do marido, familiares e amigos, confirmando que a presença de pessoas queridas é fator de extrema importância nesse momento.

De acordo com a professora Tatiana Mourão, a sensação de pertencimento traz o benefício da segurança para o paciente. “O apoio de grupo social é fundamental para lutar com doenças graves como o câncer”, enfatiza a psiquiatra. Para ela, atitudes cotidianas como o cuidado, a presença, mesmo que silenciosa, e até o próprio calor humano são detalhes que podem e devem ser fornecidos pela família e amigos, por serem formas de apoio valorosas para os pacientes.

Atualmente, quase sete anos após a alta, Patrícia visita, periodicamente, pacientes com câncer, distribuindo o livro como forma de motivação para aqueles que estão no meio da batalha contra a doença. A mensagem que leva é de otimismo: “Você é uma pessoa corajosa de estar fazendo o tratamento, porque isso é uma decisão. É preciso lembrar que o mais importante agora é a vida. É você se cuidar, estar com uma mente sã para que o corpo não padeça ainda mais. Tente ver isso como uma coisa passageira. Tenha coragem, não desanime”, aconselha.