Festas de fim de ano podem aumentar casos de covid-19

Em meio a alta de casos, especialistas ouvidos pelo Saúde com Ciência pedem para que comemorações não sejam realizadas


14 de dezembro de 2020 - , , , ,


Com a taxa de transmissão do coronavírus subindo, estados voltando atrás na flexibilização de serviços e óbitos pela covid-19 chegando a 180 mil, especialistas avaliam que o Brasil entrou na segunda onda de contaminação da covid-19. O momento de preocupação se agrava com a proximidade das festas de fim de ano, época em que, tradicionalmente, há um aumento nas comemorações entre familiares e amigos, fluxo maior de viagens e maior movimento nos comércios.

Para diminuir as chances de contaminação, o melhor é deixar as datas passarem em branco ou serem realizadas de forma remota ou apenas entre os moradores de uma mesma casa, desde que nenhum manifeste sintomas gripais. Isso porque o ambiente das festas é o mais propício para a propagação da covid-19.

“Quando eu vou para a casa de alguém em uma comemoração de natal ou de ano novo, existe implicitamente o consumo de bebidas ou de comidas. Como que eu vou comer e beber de máscara? É impossível. Eu vou comer e beber sem máscara e conversando, o que aumenta o risco”

destaca o professor do Departamento de Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da UFMG, Geraldo da Cunha Cury.

Geraldo Cury avalia, ainda, que a inexistência de sintomas não garante que a pessoa não está infectada, uma vez que existem pacientes assintomáticos (que não manifestam os sintomas da infecção) ou pré-sintomáticos (que estão infectados, mas ainda não manifestaram os sintomas. “A pessoa poderia falar que não tem sintomas, que acabou de medir a temperatura. Mas isso não significa nada, a gente já sabe isso hoje. Até mesmo a realização dos testes também diz pouco”, refere-se alertando à possibilidade de resultados falsos negativos que podem acontecer tantos nos testes sorológicos, que identificam a presença de anticorpos, quanto moleculares, que identificam a presença do vírus. Para saber mais sobre esse assunto, clique aqui.

O médico infectologista do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Enio Pietra Pedroso, lembra que a transmissão do coronavírus ocorre, predominantemente, pelo ar e, de forma menos intensa, por contato. “A proteção, portanto, requer os cuidados que são aplicados às doenças de transmissão aérea – como isolamento social e uso de máscaras – e de contato – como lavagem das mãos com água e sabão ou álcool –. Por isso, as reuniões devem ser evitadas e, se imprescindíveis, realizada de forma remota”, recomenda.

“É uma coisa triste falar isso num momento de alegria especial, como é o fim do ano. Mas é assim que a gente vai evitar que a doença tenha uma transmissão”

Diminuindo os riscos

Se, mesmo sabendo dos riscos, você ainda fizer questão de realizar a comemoração presencial, alguns cuidados devem ser tomados para minimizar a possibilidade de contaminação pelo coronavírus. Mas é preciso destacar que, mesmo sendo seguidos à risca, eles não eliminam a probabilidade de infecção. Quem dá as dicas é o médico infectologista e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estêvão Urbano:

“Quanto mais próximo uma pessoa fica da outra, por um tempo progressivamente maior, aumenta a chance de várias pessoas se contaminarem. Por isso, as festas devem acontecer com menos pessoas, que elas mantenham distanciamento e que, se possível, as comemorações tenham uma duração menor.”
“Como a disseminação se dá, principalmente, por gotículas de saliva, é preciso evitar cantos, gritos e tentar ter uma voz mais baixa, que elimina menos gotículas e sempre usando a máscara, a não ser no momento de comer e beber alguma coisa.”
“Outra coisa que ajuda muito é manter o ambiente ventilado. Porque mesmo que alguém esteja contaminando o ambiente com o vírus, se você tem circulação de ar, esse vírus se dilui e, quando você inala, acaba inalando menos vírus, ou seja, a carga viral é menor. Com uma carga viral pequena, você tem ou não adoecimento ou o adoecimento com formas mais leves”
“Não compartilhe copos e talheres e sempre higienize as mãos, porque as mãos podem se autocontaminar, quando você toca superfícies que têm gotículas contaminadas e depois você toca a face. Então, se você higieniza as mãos, você elimina essa forma de transmissão.”
“Pessoas com qualquer sintoma não devem ir à reunião, já que têm maior chance de estarem contaminadas. As pessoas que moram com as que manifestam algum sintoma também não deveriam ir, porque é muito comum os contatos domiciliares estarem também contaminados, mesmo sem sintoma.”
“Pessoas idosas devem se proteger mais e ficarem mais distantes. Se não for possível deixar de ir a esses encontros, que sejam as que mais se protejam. O mesmo vale para obesos, pessoas que têm hipertensão, diabetes, aqueles fatores de risco para a covid-19”

Mas o médico alerta que é difícil seguir a lista esses regramentos, especialmente numa festa em que “as pessoas já carentes e cansadas encontram os amigos, tomam uma taça de vinho ou dois copos de cerveja. Daqui a pouco já não há mais máscara, já não há mais distanciamento. E o que mais nós temos visto são casos de internação e até mortes por causa dessas reuniões”, ressalta.

“Num mundo ideal, em que as pessoas tivessem resiliência e entendessem que esse ano é atípico, não deveria haver festas. Tem um horizonte chegando, que é a vacina, e vale a pena o esforço para não perder aos 45 minutos do segundo tempo. E nós teremos tantos outros natais, tantos outros réveillons. Algumas pessoas, infelizmente, não terão novos natais e novos réveillons porque essas são situações de altíssimo risco”

Por que tomar cuidados nas festas?
Estatística de pacientes contaminados pelo coronavírus:
100 infectados
 80 com formas leves de covid-19 
15 são internados
5 vão precisar de UTI. 
Estatisticamente, idosos e pessoas com comorbidades têm mais chances, mas existem muitos casos de jovens sem comorbidades no CTI.
"Esse é um vírus que se dissemina rapidamente entre as pessoas. Nós estamos numa roleta russa, porque, em uma reunião dessas, várias pessoas vão sair infectadas e alguém vai para o CTI. Então, não dá para prever quem vai ter a pior sorte".
*Estêvão Urbano, médico infectologista e presidente da Sociedade Mineira de Infectologia

Cautela no ano novo

A pandemia exige uma série de cuidados durante as festas de fim de ano. Nessa semana, especialistas dão dicas de como comemorar de forma segura o fim de 2020. Confira:

:: Fim de ano diferente
:: Minimizando os riscos
:: Cuidados na hora de ir às compras
:: Viagens: o que pode e o que não pode
:: Natal tropical

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O Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a sexta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.