Fevereiro Roxo: entenda os desafios do diagnóstico e tratamento do Lúpus


18 de fevereiro de 2019


A doença causa manchas na pele e depende da adesão ao tratamento para ter qualidade de vida

*Guilherme Gurgel

Nesta segunda reportagem da série “Fevereiro Roxo”, a professora do Departamento do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina da UFMG, Cristina Lanna, explica os principais desafios dos pacientes com Lúpus, doença crônica caracterizada por manchas na pele.

Ela ressalta a importância do tratamento adequado para que a pessoa possa levar uma vida normal, o que já é possível com os atuais avanços medicinais. “O paciente tem que se adequar ao tratamento, ofertado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), tomando os remédios e se consultando regularmente com o médico”, pontua.

Sinais da doença

O Lúpus é uma doença crônica que compromete o sistema imunológico e o leva a produzir anticorpos, que provocam inflamação em vários órgãos e tecidos. Esse é um quadro mais comum em mulheres, na faixa etária de 20 a 40 anos.

Dos tipos, o “eritematoso sistêmico” é o mais grave do Lúpus. Cristina Lanna explica que o nome vem do fato da doença causar manchas avermelhadas (eritema) e comprometer órgãos variados (sistêmico).

O diagnóstico é mais simples quando a doença causa essas manchas, mas pode acontecer dos primeiros sintomas serem dores no corpo, nas articulações, febre, pouca disposição e perda de peso. Nesses casos, a identificação da doença é feita por exames de laboratório.

“Os resultados de um paciente com Lúpus, geralmente apresentam queda no número de plaquetas e leucócitos. Também são comuns alterações na urina, como perda de proteínas, ligadas ao comprometimento renal que ocorre em, aproximadamente, 75% dos casos”, explica.

Tratamento

Cristina afirma que o tratamento adequado da doença, feito com medicamentos corticoides e imunossupressores, controla a inflamação e melhora os sintomas e as lesões de pele. “A melhora pode não ser rápida e o paciente precisa entender que vai tomar remédio por toda a vida”, alerta. Além disso, é preciso controlar outras doenças como a pressão alta, diabetes e obesidade, caso surjam.

Ou seja, o tratamento deve ser completo, assim como a atenção ao paciente. A especialista lembra que além da medicação e do acompanhamento médico, alguns hábitos são importantes. Entre esses, ela destaca a proteção solar e evitar o tabagismo, já que o cigarro e a exposição ao sol podem piorar as lesões de pele, dificultando o resultado do tratamento.

Cristina também enfatiza a importância de permanecer com atividades físicas, bem como cuidar da saúde mental. “Quando o quadro de inflamação está mais acentuado, o paciente pode ter dificuldade na prática. Porém quando essa fase passa, não há impedimento. Pelo contrário, a atividade deve ser estimulada”, defende.

“É importante procurar um equilíbrio, já que as doenças autoimunes influenciam no nível de estresse. Pode haver quadro de depressão, psicose, problemas de memória, compreensão ou comportamento agressivo”, continua. Essas manifestações são inúmeras, mas não significa que todos os pacientes tenham todas. Cada caso apresenta uma combinação diferente dos sintomas.

Cristina ainda alerta que a doença não tem transmissão direta para os filhos, mas a gravidez da paciente com Lúpus é de alto risco. Por isso, a mulher tem que ser acompanhada por um ginecologista especialista durante a gestação.

“Tão importante quanto aderir ao tratamento e aos hábitos indicados, é levar uma vida normal, com momentos de lazer e vida social. O paciente com Lúpus pode ter filho, praticar atividade físicas e pode trabalhar normalmente”, conclui.

Projetos de extensão

O Departamento do Aparelho Locomotor da Faculdade de Medicina da UFMG (ALO) desenvolve uma série de atividades de extensão voltadas aos pacientes com Lúpus e seus familiares. Cristina explica que o objetivo é envolver os alunos, professores e a comunidade na orientação e atendimento. “É uma oportunidade em que os alunos demonstram disponibilidade para orientar e ter conversas mais humanizadas com os pacientes e suas famílias”, conta.

Uma dessas atividades desenvolvidas pelo ALO é a produção de folhetos informativos para serem distribuídos no momento de espera do atendimento. As informações são sobre hábitos importantes para pacientes com Lúpus, como a proteção solar e a atividade física. Também abordam condições que podem surgir associadas à doença, como a osteoporose e questões da saúde bucal. Para ler todo o conteúdo, acesse o site do ALO.

Tendo em vista as manchas vermelhas que surgem e costumam deixar áreas da pele permanentemente mais claras ou mais escuras, após a cicatrização, há uma abordagem da extensão que visa ensinar a camuflagem cosmética. A técnica é passada aos pacientes do ambulatório do Hospital das Clínicas da UFMG para que aprendam a usar os produtos adequados para disfarçar as marcas e, assim, recuperem sua autoestima.

Outra dessas atividades de extensão é uma página do Facebook chamada Lúpus UFMG. O objetivo é informar e educar os pacientes, através de material didático produzido pelo Grupo de Pesquisa em Lúpus Eritematoso Sistêmico da Faculdade.

Fevereiro Roxo

Além do Lúpus, a campanha deste mês busca conscientizar sobre fibromialgia e Alzheimer, doenças ainda incuráveis e que tem como essencial o diagnóstico precoce para manter a qualidade de vida dos pacientes, através do tratamento adequado.

Leia também: Fevereiro Roxo: especialista esclarece principais dúvidas sobre fibromialgia
Fevereiro Roxo: diagnóstico precoce é um desafio no Alzheimer

*Guilherme Gurgel – estagiário de Jornalismo
Edição – Deborah Castro