Fevereiro Roxo: diagnóstico precoce é um desafio no Alzheimer


25 de fevereiro de 2019


A principal causa de demência em idosos é tema da terceira e última reportagem da série dedicada ao Fevereiro Roxo

*Guilherme Gurgel 

Perda de memória, de autonomia e delírios são os principais receios ligados ao Alzheimer,  doença caracterizada por um declínio progressivo do funcionamento cognitivo. O professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG, Paulo Caramelli, acrescenta que as funções da linguagem e capacidade de planejamento são afetadas. Também é frequente haver alterações de comportamento, como apatia, depressão, agitação e agressividade.

Mas é um quadro muito mais complexo do que os sintomas mencionados. De acordo com o professor, há uma relevante fase antes de o paciente estar em estado de demência, que dura de 10 a 15 anos. “É nesse período que é importante identificar a doença para aumentar as chances de encontrar algum tratamento que seja efetivo para frear a evolução. Por isso, atualmente, as pesquisas em Alzheimer tem um foco no diagnóstico precoce”, afirma.

Da perda de memória à demência: entenda a evolução da doença

A perda de memória é o sintoma mais conhecido do Alzheimer e, segundo o professor Paulo Caramelli, é também o primeiro sinal da doença, na maioria dos casos. “É particularmente importante observar o esquecimento para fatos recentes. A pessoa pode conseguir se lembrar de informações antigas, muitas vezes com bastante precisão, mas não se lembra de nada ou apenas alguns fragmentos das coisas acontecidas há poucos dias ou poucas horas”, explica.

Mas o professor esclarece que todos nós estamos sujeitos a ter falhas de memória, sejam jovens, de meia idade ou idosos. Isso só se torna preocupante quando os esquecimentos começam a ficar mais frequentes, sobretudo quando começam a ser percebidos também por outras pessoas. “No Alzheimer é comum que o próprio paciente não tenha percepção clara de suas dificuldades”, informa.

As pessoas próximas devem ter atenção a esses sinais, principalmente na faixa etária mais afetada: a partir dos 65 anos. Caramelli acrescenta que a partir dessa idade, a frequência da doença aumenta de forma exponencial. “No entanto, existe uma minoria que pode ser acometida antes dos 65 anos e são casos com maior tendência a um quadro mais agressivo”, revela.

Nesses casos, em pessoas mais jovens, o Alzheimer tem maior chance de ter uma causa genética determinada, o que corresponde a menos de 2% do número total de casos. “Os aspectos genéticos existem, mas não são determinantes, somente aumentam os riscos do Alzheimer. Outros fatores são as doenças cardiovasculares, como hipertensão na meia idade, diabetes, sedentarismo e a faixa etária”, esclarece. “A doença é multifatorial e extremamente complexa. Essa complexidade é o que explica a dificuldade em encontrar tratamentos mais específicos e eficazes”, continua.

O professor afirma que a duração média da fase de demência é de nove anos, apesar de ser muito variável. “Algumas pessoas podem entrar em estágio terminal em poucos anos, enquanto outras vivem mais de 15 anos com os sintomas, sem que a doença passe para um estágio mais avançado”, exemplifica.

Como lidar com uma doença sem cura?

Assim como a evolução da doença, a resposta ao tratamento também é muito variável. Alguns pacientes melhoram os sintomas, outros mantém uma estabilidade e alguns não apresentam resposta. “Nesse último caso, a medicação pode ser alterada, já que temos a vantagem de ter mais de um tipo disponível, sem que nenhuma seja superior a outra”, explica o professor.

Paulo esclarece que os medicamentos atuam diminuindo as manifestações, ou seja, melhoram a atenção, minimizam a perda de memória e podem ter efeitos sobre os sintomas de comportamento. “Embora esse tratamento esteja longe do que a medicina gostaria de oferecer aos portadores da doença e sua família, acredito que representam um avanço no cuidado dos pacientes com Alzheimer. Em alguns casos são um alívio para as famílias”, comenta.

Embora haja uma controvérsia na literatura quanto aos efeitos do tratamento em longo prazo diminuir a velocidade de progressão da doença, o professor comenta que existe um benefício para o paciente e parte das medicações é ofertada gratuitamente pelo serviço de saúde pública.

No entanto, o uso de medicamentos é somente uma parte do tratamento. O ideal é conjugá-lo com o atendimento de uma equipe multiprofissional. “A orientação aos familiares, esclarecendo o que deve ser enfrentado em cada etapa da doença pode minimizar muito o sofrimento, ajudando também no controle dos sintomas comportamentais”, acrescenta o professor.

A atividade física também é indicada como uma prática importante na prevenção da doença. Paulo Caramelli explica que a prática promove a liberação de substâncias no cérebro, que melhoram o funcionamento de estruturas como o hipocampo, chave para a memória e uma das primeiras a ser afetada pelo Alzheimer.

A atividade intelectual é outra forma de prevenção, principalmente nos idosos que já estão aposentados, sobretudo os homens. Nesse grupo, essa função está muito ligada ao trabalho, por isso é importante que eles sejam estimulados a buscar nova demanda intelectual. Paulo sugere que o voluntariado pode ser uma solução com vários benefícios, porque além da atividade intelectual, envolve também uma interação social que é muito benéfica para o cérebro.

Fevereiro Roxo

Além do Alzheimer, a campanha deste mês busca conscientizar sobre fibromialgia e lúpus, doenças ainda incuráveis e que tem como essencial o diagnóstico precoce para manter a qualidade de vida dos pacientes, através do tratamento adequado.

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*Guilherme Gurgel – estagiário de Jornalismo
Edição – Deborah Castro