Gestação durante a pandemia gera misto de incertezas e esperança

Saiba quais são os cuidados recomendados para as mães gestantes e seus bebês


08 de maio de 2020 - ,


O primeiro Dia das Mães como homenageada não terá reunião em família nem almoço especial para a mãe gestante Gabriela Silva de Oliveira, de 28 anos. Em sua 36ª semana de gestação (9 meses), ela e o marido aguardam a chegada do Arthur, primeiro filho do casal, com cuidados redobrados para não contrair a covid-19. “Conversaremos com as nossas mães, as novas avós, por telefone e por vídeo, usando os recursos que temos agora”, conta Gabriela, que só sai de casa para o essencial.

A possibilidade de se infectar durante a gestação se tornou mais um medo para a já extensa lista das gestantes, onde a preocupação é dupla: agora além da saúde da mãe, tem a do bebê. “Grávida já tem medo de tudo, principalmente de primeira viagem como eu, é muita incerteza e a pandemia aumenta esse medo”, revela Gabriela.

Gabriela Silva de Oliveira vive final da gestação em quarentena. Foto: arquivo pessoal.

Ainda no início da gestação, com 10 semanas (2 meses), Karla Soares, 30 anos, também compartilha desse sentimento. “Meu maior medo é pegar o coronavírus e passar para o meu bebê”, desabafa.

As incertezas de gestantes como Karla e Gabriela não são infundadas. De fato, ainda não é possível responder todas as perguntas sobre o novo coronavírus e seus impactos na saúde da gestante.

“Esse vírus é novo e ainda estamos aprendendo sobre ele. Não está claro se mães que têm covid-19 durante a gravidez poderiam transmitir para o seu bebê.  Assim, não se pode descartar essa possibilidade”, explica o professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Gabriel Osanan.

No entanto, de acordo com o professor, os estudos ainda não encontraram o vírus no líquido amniótico, sangue do cordão umbilical ou no leite nesses casos.

Não é motivo para pânico

O Ministério da Saúde incluiu, em 9 de abril, as gestantes e puérperas (período popularmente chamado de resguardo) entre o grupo de risco da covid-19. Por outro lado, o professor afirma que as evidências até agora mostram que mulheres grávidas sem problemas de saúde não têm mais probabilidade de ter complicações da covid-19 do que mulheres não grávidas da mesma idade. 

“O risco da gestante de apresentar complicação eleva-se quando ela apresenta comorbidades, tais como cardiopatias, hipertensão, diabetes, doenças respiratórias, dentre outros”, pondera.

Carinho de mãe

Mesmo não apresentando esses fatores de risco, as mamães gestantes não relaxam com a prevenção. “Tenho ficado quietinha em casa”, revela Karla. Já Gabriela comenta que nada entra em casa sem a correta higienização, nem mesmo os itens para o enxoval do esperado Arthur.

Lavar as mãos, higienizar bem o ambiente, evitar sair de casa e usar máscaras caso tenha que sair são mesmo as recomendações para as gestantes nesse período, as mesmas recomendadas para a população em geral.

Quando é preciso sair de casa, geralmente é para as consultas de pré-natal, que devem ser mantidas durante a pandemia.

“É importante continuar a ir nas consultas, realizar os exames e as vacinas recomendadas pelo seu pré-natalista”,

reforça o professor Gabriel Osanan.

No entanto, o professor alerta que mudanças na frequência de exames podem ocorrer e serão orientadas pelo pré-natalista. “Se possível, antes da realização dos exames converse com seu médico ou na unidade básica se os exames podem ser adiados alguns dias”, orienta.

No caso da mãe gestante Gabriela Silva de Oliveira, a maior dificuldade foi em manter as consultas em dia. Isso porque elas foram canceladas no posto onde realiza o pré-natal. “O meu médico foi afastado, pois é do grupo de risco e não tinha outro médico. Depois de duas semanas, remarcaram a minha consulta e fiz duas delas somente com enfermeiras, até conseguirem reajustar o quadro de médicos”, conta sobre o período de apreensão.

Gestação de um futuro

Apesar de todas as incertezas do momento e aquelas que são inerentes a própria maternidade, a esperança de um futuro melhor para os filhos não deixa de existir. “Sei que ele [Arthur] não vai poder receber visitas da família, só minha e do pai dele, mas eu tento pensar sempre positivo e ter esperança de que isso não afetará tanto a infância dele”, diz Gabriela.

De acordo com ela, ensinamentos possíveis de tirar dessa pandemia irão se perpetuar também na memória do filho. “As ausências que sentimos agora nos ensinam a dar mais valor às pessoas, ao contato físico. Espero que as crianças que estão chegando ouçam essa história e também aprendam a dar mais valor”, deseja.

Por enquanto, a imagem de uma criança feliz e amada revigora as esperenças da nova mãe a ser homenageada neste 10 de maio.

“Espero um bebê alegre, rodeado do amor de todos que já estão ansiosos com sua chegada, mesmo que distante”, anseia Karla Soares.

Minientrevista

Gabriel Costa Osanan. Foto: arquivo pessoal


Professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Gabriel Costa Osanan coordena projetos de extensão nos temas de hemorragia puerperal, doenças hipertensivas na gestação, doença trofoblástica gestacional e apoio pré-natal multidisciplinar, COVID-19 e gravidez. Como membro da Sociedade de Ginecologistas e Obstetras de Minas Gerais, ele auxiliou na produção de cartilha para as gestantes, com perguntas e respostas sobre gestação durante a pandemia [Confira aqui]. Confira a minientrevista a seguir:

O medo de pegar a infecção pode trazer complicações à gravidez?

O medo da infecção tem causado equívocos sérios. Muitas grávidas abandonaram seus pré-natais ou não procuram mais os hospitais quando precisam. E isso é sério.  A recomendação é manter o pré-natal,  ir na maternidade para ter seu parto.  Na eventualidade de ter algum problema antes ou depois do parto,  deve tentar entrar em contato com o posto de saúde ou seu médico por via telefônica para ser orientada. Se isso não for possível,  ela deveria sim procurar o serviço de saúde de referência, com todos os cuidados para evitar ser contaminada pela covid-19

Se a mãe estiver com suspeita de covid-19, ela pode amamentar ou ficar perto da criança?

A amamentação nesses casos pode ser mantida, mas com cuidados especiais. A mãe deve lavar suas mãos antes e depois da amamentação e deve usar máscara cirúrgica. O berço da criança deve ficar a 1 a 2 metros de onde está a mãe também. A mãe também deve lavar as mãos antes e depois que manipular o bebê.

Pais, amigos e familiares devem acompanhar a gestante nas consultas durante o pré-natal?

As gestantes têm o direito de ter um acompanhante da sua escolha durante todos os seus atendimentos. Nesse período da epidemia da covid-19, para se evitar aglomerações em quaisquer locais, tem-se sugerido discutir com o casal a possibilidade de a gestante fazer a consulta de pré-natal sozinha, para evitar a contaminação das próprias gestantes. No momento do parto, a presença de acompanhantes está mantida, mas algumas regras de restrição de troca de acompanhante e circulação do mesmo dentro da instituição estão ocorrendo. Além disso, estão restritas as visitas a paciente e o seu bebê. Todas essas medidas visam evitar que mães e seus filhos fiquem contaminados. Portanto, uma vez discutido isso com a paciente, muitas se sentem até confortáveis sabendo que estão ajudando a proteger elas mesmas e seus filhos da doença. E deve ficar claro que essas medidas são transitórias e não tem objetivo de restringir os direitos das grávidas.

Ir ao hospital com mais frequência para o pré-natal pode expor a gestante ao maior risco de contrair o novo coronavírus?

O risco de não frequentar o pré-natal ou não procurar o hospital para o parto ou quando necessitam podem aumentar o risco da mãe e de seu filho. Os serviços de saúde estão se adequando e cumprindo todas as normas de segurança, para evitar ao máximo o risco de contaminação da covid-19 das grávidas. Além disso, a consulta de pré-natal e o parto no hospital reduzem os riscos para a mãe e de seu filho. O parto dentro do hospital ainda é o mais seguro mesmo nesse momento da pandemia.