Gestação e covid-19: o que já se sabe?

Programa de rádio Saúde com Ciência esclarece dúvidas sobre gestação na pandemia.


10 de maio de 2021 - , , , ,


A gravidez é um momento com muitos desafios e novidades para as futuras mamães, que na pandemia passaram a ter como preocupação o maior risco de complicações caso contraiam a covid-19. E essa está longe de ser uma angústia infundada: a média semanal de gestantes e puérperas – período após o nascimento – vítimas da covid-19 em 2021 é mais que o dobro da média de 2020. O dado é do Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19, que compila e analisa casos de gestantes e puérperas notificados no Sivep Gripe.

A média semanal neste ano é de 25,8 mortes maternas, com 362 óbitos registrados até 10 de abril. O crescimento foi de 145,4% em relação ao ano anterior, em que média era de 10, 5 mortes. Para se ter uma ideia da gravidade desses dados, o aumento na taxa de morte da população em geral na comparação com o ano anterior foi de 61,6%

Pesquisa

Estudo recente publicado em 22 de abril na JAMA Pediatrics evidência o que os números aqui no Brasil já vêm colocando em alerta. A pesquisa feita com mais de 2 mil mulheres grávidas diagnosticadas com a covid-19 de 18 países mostra que esse grupo tem mais chances de ir para UTI, ter infecções, pré-eclâmpsia e outras complicações.

Ainda de acordo com esse estudo, gestantes com covid-19 têm até 22 vezes mais risco de morte que as não infectadas pelo vírus. E mesmo as mulheres com sintomas mais leves tiveram mais risco de complicações. Além disso, a infecção pelo vírus aumentou a probabilidade de os filhos dessas gestantes nascerem prematuramente ou precisarem de tratamento na UTI e intubação.

Por que as gestantes têm mais risco?

De acordo com especialistas da Faculdade de Medicina da UFMG, seriam necessários mais estudos para determinar as causas dessa maior mortalidade e complicações entre gestantes e puérperas.

“Ainda não sabemos ao certo, pode ser por causa das novas variantes do vírus, uma questão de acesso ao sistema de saúde, a estrutura de cuidados às pacientes quando internadas, que precisariam do acompanhamento de um obstetra, por exemplo, ou até mesmo a demora em procurar os serviços de saúde ao contrair à covid-19”,

analisa o professor do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia da Faculdade de Medicina da UFMG, Gabriel Costa Osanan.

A professora Rivia Lamaita, também do Departamento de Ginecologia e Obstetrícia, reforça que a falta de acesso aos serviços de saúde pode estar contribuindo para esses índices. Segundo dados do Sivep Gripe, cerca de 23% das gestantes vítimas da covid-19 não tiveram acesso à UTI e torno de 33% não tiveram acesso à intubação endotraqueal.

 “A gente percebe que muito grávidas não tiveram acesso aos serviços de saúde quando iniciaram os sintomas da covid. Outras, tentando manter o isolamento, acabam adiando a procura por esses serviços”, destaca a professora.

Ela também observa que durante a gravidez existe uma tendência à pró-coagulação, eventos tromboembólicos, que se acentua principalmente no período pós-parto, alterações hormonais, mudanças no comportamento cardiovascular, renal, no sistema respiratório e na capacidade pulmonar e de respiração. “Fica muito alterado, então a gente tem essa preocupação, mas ainda não é possível saber se a gravidez em si seria uma causa para complicações e mortes”, completa.

Comorbidades

O estudo publicado pela JAMA Pediatrics também constatou que mulheres grávidas com diagnóstico de covid-19 acima do peso ou que tinham hipertensão, diabetes, doenças cardíacas ou doenças respiratórias crônicas apresentaram quase quatro vezes mais chances de desenvolver pré-eclâmpsia.

Mas o professor Gabriel Costa Osanan reforça que mesmo as gestantes sem comorbidades têm apresentado maior risco de complicações, em todos os períodos da gestação. Por outro lado, ele pontua que tem sido observada mortalidade maior entre as puérperas, isto é, no período pós-parto.

Por isso, as principais recomendações para as futuras mamães é para que não deixem de frequentar as consultas e exames de pré-natal e de buscar os serviços de saúde caso apresentem sintomas de covid-19. Além disso, precisam continuar com os todos cuidados preventivos, como uso da máscara, higienização das mãos e distanciamento físico mesmo após se vacinarem contra o vírus

Saúde com Ciência

O programa de rádio Saúde com Ciência esclarece dúvidas sobre gestação e a covid-19 e a vacinação em gestantes. Saiba também sobre planejamento reprodutivo e aumento na procura por congelamento de óvulos agora na pandemia.

Saúde com Ciência é produzido pelo Centro de Comunicação Social da Faculdade de Medicina da UFMG e tem a proposta de informar e tirar dúvidas da população sobre temas da saúde. Ouça na Rádio UFMG Educativa (104,5 FM) de segunda a quinta-feira, às 5h, 8h e 18h. Também é possível ouvir o programa pelo serviço de streaming Spotify.