Hanseníase: manchas na pele podem ser sinal da doença


31 de janeiro de 2017


Especialista alerta para a importância do diagnóstico precoce da doença

*Débora Nunes

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O diagnóstico da hanseníase é simples e rápido. Foto: reprodução internet

A Hanseníase é uma doença crônica e infecciosa, causada por uma bactéria que tem predileção em afetar a pele e os nervos periféricos. No Brasil, em 2015, foram registrados quase 29 mil casos da doença, segundo dados do Ministério da Saúde. “O número de casos vem diminuindo ano a ano, mas é uma diminuição lenta. Ainda somos o segundo país do mundo em número de casos, só ficamos atrás da Índia”, afirma o dermatologista e professor do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina, Marcelo Grossi Araújo.

O professor explica que é preciso ficar atento aos sintomas, como manchas brancas ou vermelhas na pele, com alteração na enervação, como dormência ou insensibilidade no local. “De forma geral, o diagnostico é rápido e simples. Existem alguns exames que ajudam no diagnostico. Mas o mais importante é o exame clinico para você caracterizar a presença da mancha e testar a sensibilidade, com técnicas simples, expondo a mancha ao calor, frio, dor e tato”, destaca.

O diagnóstico tardio contribui para a transmissão da doença, que se dá pelas vias aéreas superiores, de uma pessoa doente sem tratamento, para outra. Além disso, à medida que a doença se agrava, ocorre o risco maior do dano ao nervo. “Essa é uma situação perigosa, porque o nervo é uma estrutura delicada e, uma vez lesada, a recuperação é muito difícil”, esclarece o especialista. “A pessoa pode vir a ter sequelas, como a paralisia do nervo, que pode levar a uma paralisia motora, uma alteração de sensibilidade com ressecamento e, às vezes, alterações na circulação”, completa.

Após o diagnostico, o tratamento é feito com antibióticos. A hanseníase tem cura e seu tratamento é ofertado gratuitamente pelo SUS, disponível nas unidades públicas de saúde de todo o país. “O tratamento da hanseníase é relativamente simples, além de ser muito eficiente. Com uma única dose da medicação a pessoa já fica com praticamente toda a infecção sob controle, então já não transmite mais a doença. E, evidentemente, o tratamento e acompanhamento adequados vão diminuir, quase anular, o risco de sequelas”, declara.

Preconceito

Além das complicações ligadas ao diagnostico, os portadores de hanseníase têm que enfrentar o preconceito histórico relacionado à doença. Durante muitos anos, a doença era conhecida como lepra, mas a lei 9.010, de 1995, oficializou a mudança do termo lepra para hanseníase no Brasil. “Passamos uma época de muito de preconceito reforçado pelo fato de que não havia tratamento para a doença. As pessoas eram isoladas em hospitais colônias, os filhos eram separados dos pais e isso agravou muito a situação do estigma em relação à doença”, explica Marcelo.

O especialista destaca que esse estigma está ligado as sequelas, que podem causar incapacidades e deformidades físicas. Por isso é importante enfatizar que há cura para a doença e, quanto mais rápido o diagnostico, menores as chances de transmissão e risco de sequelas. “Hoje o preconceito é bem menor, mas não podemos dizer que não exista. Às vezes existe dentro das próprias famílias, na sociedade e no trabalho”, acrescenta.

Variação no território nacional

Segundo o dermatologista, a hanseníase pode ser considerada um problema de saúde pública no Brasil. Apesar disso, segundo dados do Ministério da Saúde, entre 2006 e 2015, a taxa de detecção reduziu 28%, o que corresponde à redução de 43.652 para 28.761 casos novos nesse período.

“Para ter uma ideia, a doença pode acontecer em uma pessoa para cada 100 mil ao longo do ano no Rio Grande Sul. Já no Mato Grosso, o índice é de 93 pessoas para cada 100 mil ao longo do ano” alega Grossi. “A associação que parece existir é com relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), como, infelizmente, ocorre com toda doença infecciosa. O que se vê na própria distribuição do Brasil é que nos estados com IDH melhor, mais avançado, a incidência da doença é menor. Nos estados mais pobres, a incidência é maior”, conclui.

*Redação: Débora Nunes – estagiária de jornalismo
Edição: Deborah Castro